Ranking da hipocrisia, A propósito das futriquices à volta do “ranking” dos exames…, Rankings, para que vos quero?, Ranking da verdade, Donos Disto Tudo, Ranking vs Percursos Diretos de Sucesso são títulos de artigos que escrevi nos últimos anos para diversos meios de comunicação social, a pedido dos mesmos ou por moto próprio. Desafiado, desta feita, pelo Observador, retomo o tema, que me merecerá uma breve reflexão, considerando fundamental que seja, num momento futuro, alargado às finalidades do ensino secundário e ao modelo de acesso ao ensino superior.

Percebe-se, claramente, que o pico do interesse gerado foi já atingido há uns anos, persistindo apenas resquícios motivadores do esforço que ainda se despende, algo ilógico, por parte dos editores e jornalistas, que se dedicam arduamente a esta tarefa durante longas semanas, dando folga a outras notícias no âmbito educacional de importância inquestionável. Estando a definhar, impõe-se a pergunta: haverá 2.ª vaga?

Atentemos nos factos sobre os rankings: a sua publicação é cada vez mais tardia (este ano no final do ano letivo!); a publicidade que lhe está inerente é ínfimo estímulo para tão árduo trabalho; concorrem com a existência de indicadores fiáveis e mais justos (Percursos Diretos de Sucesso) no concernente à comparação entre escolas; motivam a questionabilidade sobre quem os deseja e sobre a qualidade do desejo que convocam: quem os reclamou ou interrogou pelo seu paradeiro? Quem deu pela sua ausência? Certo é que os resultados da avaliação externa das escolas são fatores mais relevantes que retir(ar)am o entusiasmo de muitos por esta enganadora lista categorial.

As escolas, empenhadas no sucesso académico, pessoal e profissional dos seus alunos, confinam estes resultados num espaço discreto, focadas em fatores essenciais, como sejam a estabilidade do corpo docente, o efeito da escola sobre os alunos (valor que acrescenta, desde que o aluno entra na escola até que sai), o número global de alunos e as suas trajetórias escolares, o nível socioeconómico dos pais e encarregados de educação, bem como da região onde a escola se encontra localizada, a motivação dos alunos e das famílias, o efeito das explicações e/ou outros apoios extra sala de aula nos desempenhos dos discentes, etc..

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Votá-los a um confinamento vitalício, ainda que se perspetive a sua extinção, confere às escolas a tranquilidade para desenvolver o que sabe fazer de melhor, colocando em prática um contínuo de ações estruturantes que incentivem e envolvam os seus alunos na procura do conhecimento, na obtenção de saberes e das ferramentas que lhes permitam, posteriormente, concluir com sucesso, com bons resultados e no mais curto espaço de tempo possível, o ensino superior, numa preparação integral para a Vida, um processo que implica muito mais do que adquirir as aprendizagens académicas.

A este propósito, realço algumas das questões que tenho vindo a colocar e que ainda não mereceram respostas refletidas e implicadas: onde se encontram valoradas as competências sociais com que um aluno sai da escola? Porque não é atribuído o devido valor aos progressos (evolução) que alcança? Qual a importância que se pretende atribuir aos percursos diretos de sucesso (percentagem de alunos de uma escola que ficou sempre aprovada e obteve positiva no exame final)? Porque não se circunscrevem as comparações às escolas com o mesmo perfil de alunos? Porque não são relevadas as qualidades pessoais destes e as potencialidades que evidenciam (empenho, dedicação ao estudo, assiduidade, valores, entre outras)? Será que faz sentido consumirem-se 3 anos tão-somente na preparação dos alunos para os exames?

Concluo esta minha concisa reflexão, convocando dois pontos que marcam a discussão sobre os rankings: os objetivos definidos para e pelo ensino secundário, e o modelo de acesso ao ensino superior. E aqui imperam as questões: por que razão se faz recair na avaliação externa a entrada no ensino superior, quando o ensino secundário se reveste de caráter obrigatório com os exames a serem uma componente da avaliação final? É razoável restringir a função imprescindível deste nível de ensino ao mero cumprimento de objetivos para a triagem que deveria ser realizada pelas universidades?

De uma vez por todas, que caia a máscara desta adversa tabela classificativa, que de forma viral pode iludir os mais incautos, na ânsia, pouco ética ou criteriosa, de só pretender valorizar a ínfima parte de um todo, escolhendo contagiar (dando um retrato distorcido), ao contrário de sinalizar as melhorias que têm ocorrido numa Educação que se afirma, passo a passo, Valente e Imortal!

Professor/ diretor; presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP)