Ultimamente as minhas intervenções públicas têm sido para defender o sector social (onde se inclui a Saúde e a Educação) e apenas toco ao de leve na política, com excepção de um artigo no jornal Sol antes das legislativas de 2022. Hoje este artigo é apenas sobre política e na qualidade de Politólogo.

Desde que Cavaco Silva deixou de ser Primeiro-Ministro (1995, há praticamente 28 anos) que Portugal tem sido governado pelo PS, com duas interrupções (PSD/CDS) para salvar o País de situações económicas muito difíceis, sendo que a última foi mesmo um resgate financeiro com todas as consequências que isso implicou para famílias e empresas, bem como para a nossa auto-estima e imagem enquanto povo.

Graças a uma máquina muito bem oleada de informação e contra-informação, a pessoas ligadas ao PS bem colocadas nos mais diversos sítios, a uma comunicação social favorável, a uma boa estratégia de marketing e propaganda, a uma extraordinária capacidade de representação e ilusionismo por parte dos seus representantes – o PS consegue manter-se no poder com praticamente os mesmos protagonistas (cujo melhor exemplo é precisamente António Costa que era o número dois de Sócrates) que levaram Portugal à bancarrota (embora oficialmente e tecnicamente não seja isso que lhe chamam).

Apesar de todas as medidas duras aplicadas no tempo da troika (e já algumas antes da troika, com Sócrates) da exclusiva responsabilidade dos socialistas, conseguem passar para a opinião pública que todos os males foram causados por Passos Coelho, a tal austeridade. A somar a isto, um Tribunal Constitucional sempre a barrar a governação de Passos Coelho e, nestes últimos sete anos, a permitir que Costa governe em roda livre. Finalmente, sete anos favoráveis, a todos os níveis, sobretudo a nível económico, como nunca nenhum governo teve em período democrático, ao que acresce a herança de Passos ao deixar o País a crescer e o desemprego a baixar. É obra! Contudo, nunca se viu tão má governação, tanta corrupção, tanto nepotismo, tanto compadrio e negociatas em torno do dinheiro de todos nós, e Portugal a descer em todos os rankings internacionais de bem-estar social e económico, com a pobreza a aumentar. É caso para dizer estranho povo este que se deixa manipular por tanta mentira e tanto ilusionismo. Como é possível os eleitores acharem que após o Governo de Cavaco e depois de o PS ter governado 21 dos últimos 28 anos, “a culpa é do Passos”?

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Já o tinha dito antes das legislativas de 2011. CDS e PSD deviam ter ido juntos a eleições e pedir uma maioria de 2/3 aos portugueses pois o que aí vinha exigia mudanças na Constituição. Depois veio a “Golpada” (embora legal mas nunca instituída, pois quem perdia respeitava sempre quem ganhava) de Costa perder as eleições (com uns incríveis 32% apesar de todo o mal que o PS fez ao País e que causou o período da troika, só mesmo em Portugal… nem os gregos…) e nessa mesma noite prestar declarações com um enorme sorriso pois já tinha tudo combinado para o golpe (se não tivesse ocultado ao que ia o resultado seria certamente bem diferente). Mesmo assim os portugueses, que têm memória curta, na primeira oportunidade, neste caso em 2019, premiaram Costa em vez de o castigarem pelo golpe e, repito, com praticamente todos os protagonistas da bancarrota de 2011.

Posto isto, há que falar de duas coisas. Em primeiro lugar, dos sistemas eleitorais (área em que tenho vasto conhecimento) e em particular do nosso, o qual é dos mais desproporcionais do mundo, pior só o espanhol, que há quem o classifique como um sistema maioritário atenuado (Montero e Vallés, 1992; Onate e Ocana, 1999, citados em Moreno e Onate, 2004). No nosso sistema, os círculos eleitorais pequenos estão cada vez mais pequenos, os médios cada vez mais pequenos. E isto distorce a desejada representação proporcional e dá um prémio ainda maior ao partido que fica em primeiro (sobretudo se o segundo partido ficar a uma distância considerável). RAE (1969) demonstra precisamente que círculos menores prejudicam os partidos mais pequenos e é mais fácil assim obter maiorias. Foi isto que aconteceu nas últimas legislativas e que permitiu ao PS obter uma maioria absoluta com apenas 41% dos votos, o que é manifestamente injusto e faz com que centenas de milhares de eleitores não se sintam representados, porque vão votar e o seu voto é desperdiçado pois não serve para eleger ninguém (ver trabalhos meus anteriores onde explico bem isto, com números e respectiva evolução, vale a pena ver e pode também ver um breve resumo aqui).

Em segundo lugar, as eleições, as quais se perdem, não se ganham, é sempre bom lembrar. Depois de tudo o que está a suceder, Montenegro (ou outro) até poderá vir a ser Primeiro-Ministro, mesmo sem encantar o eleitorado, embora não seja muito crível, como se vê pelos resultados que o PS tem tido (apesar do que referi anteriormente). Pelo que, para lutar de forma mais igual com este sistema eleitoral e com todas as adversidades que referi, os partidos têm obrigatoriamente que se coligar.

PSD, IL e CDS têm de se entender, deixar rivalidades e orgulhos pessoais de parte e criar uma coligação para fornecer uma alternativa ao País. Têm de apresentar um programa eleitoral concreto, directo e objectivo sobre o que farão de diferente para melhorar a vida dos portugueses.

E esta coligação até podia ter o Chega (que, repito o que disse em artigo anterior, não é de extrema-direita, apesar de dar jeito à esquerda afirmá-lo infinitas vezes), mas não tendo, os líderes desta coligação têm de dizer que a democracia é feita de entendimentos e que fará coligações pós eleitorais com o Chega, se tal for necessário, para bem do País. É preciso, claramente, um centro-direita firme, com uma liderança a sério.

E ao serem Governo, têm de governar com o seu programa, ideias, valores e convicções e não apenas “gerir” um País com a agenda que a esquerda impõe. Não. Há que gerir com firmeza e efectuar a verdadeira mudança que Portugal precisa para inverter o caminho do empobrecimento e trilhar o caminho do enriquecimento.

O centro-direita tem de parar de “dar tiros nos pés” e oferecer a vitória a esta esquerda que destrói Portugal. Já nas autárquicas o PSD (sozinho ou em possíveis coligações) perdeu Câmaras importantes apenas e só por lutas internas onde se afastou o melhor candidato (só porque era rival de alguém ou de vários da direcção nacional/distrital/concelhia) e se colocou um candidato menos bom, ou mau, em detrimento do melhor posicionado.

Por tudo isto, peço aos portugueses que abram os olhos e que, da próxima vez que forem votar, optem por uma mudança, não tenham receio de arriscar. No mesmo sentido, é crucial que os partidos PSD, IL e CDS-PP façam uma coligação pré-eleitoral e ofereçam uma alternativa séria aos eleitores, unicamente para o bem de Portugal!