O político. Cavaco Silva. Há 38 anos Cavaco Silva ditou o fim do Bloco Central e recusou um PPD que se definisse um função do PS. Agora, em 2023, Cavaco Silva veio lembrar ao PSD que este é um partido de poder. E convenhamos que é preciso lembrar-lho! Mas não só. Cavaco veio também dizer o que de tão óbvio se torna doloroso enunciar porque nos torna cúmplices: o PS está a destruir as instituições e o regime.

Mas sendo certeira a análise do antigo primeiro-ministro, temos de admitir que o nosso maior problema é o pós-PS. Ou mais concretamente: Portugal ainda é reformável? O país de que Cavaco Silva se tornou primeiro-ministro em 1985 tinha inúmeros problemas mas era um país mais jovem, com uma classe média ou aspirante a tal disposta a defender o seu modelo de vida, com uma população não anestesiada pelos fundos europeus que nos permitem empobrecer sem grande dor, Era um país em que se queria viver melhor cá dentro. Hoje não só esse país que deu as maiorias a Cavaco Silva não existe como aquele que existe se acomodou ao declínio, aos apoios extraordinários, ao estado a todas as horas. Há 38 anos o socialismo que se estranhara no PREC ainda não se tinha entranhado na vida de todos os dias. Em 2023 o PS  tornou Portugal num pântano. E nós ainda sabemos viver fora do pântano?

O transeunte. Marcelo Rebelo de Sousa. Passavam dez minutos das duas da tarde da última sexta-feira quando Marcelo desceu do palácio de Belém até à rua. Para esse mesmo dia e hora a presidência da República já anunciara uma “conversa”.  Depois desconvocara a conversa. E pelas 14h 10m a conversa do PR, que deixara de ser conversa, acontece sob o formato declaração em passo “faz de conta que estou a passear”:  “Mantenho o que disse há 15 dias”, “É um processo em circulação que acompanho atentamente, como todos os portugueses, quer na parte económica, quer na parte política. Quando for necessário, se for necessário, e nos termos em que forem necessários, eu faço uma declaração”.

O que aconteceu esta sexta-feira? Marcelo quis desmentir o Expresso que tinha como destaque da sua última edição Marcelo não segura Costa se Galamba cair? Ou quis desmentir-se a si mesmo?

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Já tivemos o presidente a deambular enquanto comia gelados, o presidente a ir ao multibanco…. Agora temos Marcelo que sai pelo Pátio dos Bichos para reentrar pelo Pátio das Damas ou vice-versa. Este presidente transeunte, repetindo qual lengalenga: “Quando for necessário, se for necessário, e nos termos em que forem necessários, eu faço uma declaração” é um homem acossado à procura de um lugar seguro.

O deslocalizado. António Costa. Enquanto o seu ministro das Infraestruturas depunha na Comissão de Inquérito à TAP, António Costa assistia ao concerto dos Coldplay. Estranho? Sim, mas apenas para quem tiver andado desatento à governação de Portugal nos últimos anos: perante os problemas, António Costa invariavelmente deslocaliza-se. Sim, deslocaliza-se a si mesmo. Ora não está, ou, se por acaso está, comporta-se como se não estivesse. Na fase seguinte declara o assunto encerrado e a página virada. O anúncio de mais um programa de milhões ( a execução é outra conversa)  encerra o capítulo. Foi assim durante anos. Os governos de António Costa caracterizam-se por uma inaptidão que primeiro surpreendeu (lembram-se dos incêndios de 2017?) mas que acabámos por interiorizar: casos como o do “Bebé de 11 meses morreu enquanto aguardava transferência hospitalar. Heli-ambulância de Faro estava sem médico e a de Lisboa estava ocupada” ou da “Grávida de 8 meses fez mais de 200 km para ser atendida nas urgências“, que até há pouco nos indignariam, são agora vividos com a resignação de quem constatou que pior que um mau primeiro-ministro é um primeiro-ministro que não está cá para os problemas.

O amigo. Pedro Nuno Santos. “Pedro Nuno Santos está ao meu lado neste momento difícil”  afirmou numa entrevista à Rádio Renascença Frederico Pinheiro. Pedro Nuno Santos, possível candidato a líder, defende Frederico Pinheiro que por sua vez ataca João Galamba. Já João Galamba envolve José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna, na ida da PSP ao Ministério das Infraestruturas no dia da zaragata (a propósito quando teremos tempo para pedir responsabilidades ao Governo pela extinção do SEF?) e também António Mendonça Mendes, este último por causa do SIS. Sendo que António Mendonça Mendes é  irmão de Ana Catarina Mendes, a ministra que também aspira à liderança e garantiu que existia um parecer sobre o despedimento da CEO da TAP  que depois Fernando Medina, que não é amigo de ninguém mas é visto como sucessor de Costa, veio dizer que afinal não existia. Salva-se Mariana Vieira da Silva porque como ninguém lhe liga não tem nada para dizer.

Muito do inexplicável destes dias passa pela resposta a esta pergunta: quem vai suceder a António Costa na liderança dos socialistas? O PS pós-Costa está em marcha à custa do governo.

A minha chefe de gabinete. Eugénia Correia. Esta jurista passou a integrar a galeria de figuras rocambolescas com que o PS regularmente nos brinda: Eugénia agarra mochilas. Eugénia conecta-se com o SIS sem dizer nada a ninguém. Ou dizendo mas não dizendo a quem disse, Eugénia lembra-se de tudo mas não se lembra de quem mandou fechar Frederico Pinheiro no ministério. Eugénia chora ao telefone… Desde os tempos do amigo Carlos Santos Silva de José Sócrates que não se via uma dedicação como a que a chefe de gabinete de João Galamba vota ao ministro e o ministro à chefe de gabinete. Parece-me óbvio que nem um nem outro têm condições para continuar nos cargos que por enquanto ocupam.