A Polícia Metropolitana de Londres (também conhecida como Met ou Scotland Yard) divulgou nesta terça-feira que penalizações (multas) serão emitidas pelo Escritório de Registos Criminais (ACRO) no âmbito da investigação sobre as alegadas violações das medidas restritivas de combate à pandemia da Covid-19, em “festas” de trabalho em Downing Street e Whitehall. Recorde-se que a Met ainda se encontra a investigar 12 eventos, dos quais seis contaram com a presença do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

Com a invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin, houve a impressão de que todo o processo do Partygateestava estagnado ou que Johnson já tinha “arrumado a casa” em Downing Street. Contudo, esse movimento levado a cabo pela Met não apanhou ninguém de surpresa, muito menos o gabinete do primeiro-ministro britânico – uma ação já esperada. A Met reforçou que, paralelamente ao envio das multas pela ACRO, outras ações poderão ser realizadas no futuro, uma vez que ainda subsistem materiais significativos que carecem de investigação.

Os nomes das pessoas visadas não serão divulgados, uma vez que as orientações para esse género de “notificação” de multas/penalidades (chamadas FPN, em inglês) não permite que tal suceda. Porém, se Boris Johnson for um dos citados neste primeiro grupo de notificações, ou noutras (caso ocorram), o nome do primeiro-ministro britânico será um dos poucos a serem conhecidos, segundo informações divulgadas por Downing Street.

Neste momento, a renúncia ou demissão de Boris Johnson ainda é uma incógnita, não só por essa possibilidade, mas igualmente pela constante pressão da sociedade e dos partidos da oposição. Certamente, a conjuntura mudará de figura caso Johnson seja um dos intimados (nenhuma das pessoas alvo das multas foi ainda notificada).

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Várias figuras do Partido Trabalhista (Labour) declararam que, na hipótese de o primeiro-ministro ser notificado por ter infringido as regras da Covid-19 (as suas próprias regras), não estará mais apto para liderar o país. Nesse caso, “a sua posição torna-se insustentável”, reforça Angela Rayner, vice-líder dos Labour. Igualmente, Ed Davey, líder dos Liberais Democratas britânicos (Lib Dem), mencionou que Johnson “não pode escapar, porque errou”.

Em resposta aos novos desenvolvimentos do Partygate, o porta-voz de Boris Johnson recusou dizer, em comunicado diário, se o primeiro-ministro considera que as medidas restritivas foram ignoradas durante as “festas” que configuram todo o processo. Ainda assim, Johnson tem reiterado sucessivamente, desde o eclodir dos escândalos em dezembro de 2021, que nenhuma lei ou medida restritiva foi desrespeitada.

O jornal The Guardian refere que o porta-voz de Downing Street mencionou que Boris Johnson não voltará a pedir desculpas, porque “o primeiro-ministro já pediu anteriormente desculpas no Parlamento britânico”. Fortaleceu que Johnson somente vai voltar a tecer qualquer comentário quando o relatório final de Sue Gray, funcionária e responsável pela ética parlamentar, for publicado e toda a investigação em andamento pela Met tenha terminado.

Essa reação política a fim de obter mais tempo poderá ter consequências sérias não só para Johnson, que deixa a especulação de factos aumentar, mas essencialmente para o Partido Conservador (Tory) nas próximas eleições locais (Inglaterra, País de Gales e Escócia) e gerais (Assembleia da Irlanda do Norte), agendadas para maio de 2022.

As sondagens realizadas pelo YouGov no dia 10 de março apresentam uma pequena melhoria na imagem e prestação de Boris Johnson enquanto primeiro-ministro do Reino Unido em comparação com janeiro de 2022: no pico dos escândalos, a prestação negativa encontrava-se nos 73% e, hoje, nos 63%. Apesar de uma aparente recuperação, percebe-se que os escândalos que envolvem o primeiro-ministro britânico ainda não acabaram. Muita água turva ainda vai passar pela ponte de Westminster.

A constante negação do primeiro-ministro britânico foi sempre mantida em paralelo com os inúmeros pedidos de desculpa, enfraquecidos sempre que mais um detalhe dos escândalos era conhecido. Johnson ainda poderá sobreviver, mesmo que seja emitida uma multa contra si. Mas, se considerarmos a ética que cada político e cidadão deve possuir, o primeiro-ministro apresentará a demissão – não para o seu bem, mas para a sobrevivência dos Tory, com a eleições locais e a eleição geral no horizonte.

(Texto redigido de acordo com o novo acordo ortográfico.)