O PCP, que este fim de semana está a cumprir ritualisticamente a obrigação de realizar mais um congresso, olha à volta e só vê desânimo e desolação. Os partidos comunistas que se moderaram fracassaram, os que se mantiveram revolucionários fracassaram. Os partidos comunistas que nunca tiveram poder fracassaram, os que tiveram o poder todo fracassaram. Os partidos comunistas de inspiração leninista fracassaram, os de inspiração estalinista fracassaram, os de inspiração castrista fracassaram, os de inspiração bolivariana fracassaram. Os partidos comunistas europeus fracassaram, os africanos fracassaram, os americanos fracassaram e os asiáticos fracassaram. O único partido comunista que não fracassou já não é, na realidade, comunista — como toda a gente sabe, incluindo Paulo Raimundo, o PC chinês é hoje em dia mais capitalista do que a Iniciativa Liberal.

O PCP, como era inevitável, também fracassou. Durante décadas, depois da derrota do processo revolucionário, os comunistas portugueses mantiveram-se distantes e resistentes — e o resultado foi uma lenta decadência. Em 2015, decidiram inventar a geringonça e aliar-se a António Costa — e o resultado foi, surpreendentemente ou previsivelmente, uma acelerada decadência. Agora, livre do PS e do BE, o PCP regressou ao seu esplêndido isolamento. O problema é que este isolamento é, na verdade, um pântano. Se o partido se move para a direita, perde eleitores; se se move para a esquerda, perde eleitores; se se mantém imóvel, perde eleitores. Agarra-se desesperadamente ao poder que lhe resta nos sindicatos da função pública, sabendo que um dia, mais cedo ou mais tarde, surgirá um governo que acabará com ele sem grande dificuldade, bastando para isso ter a vontade que misteriosamente vem faltando à direita portuguesa.

Percebendo isto, os comunistas decidiram tomar a única opção que resta a quem se apercebe da inevitabilidade do fracasso: estão a tentar transformar a ideia de falhanço numa aspiração de sucesso. Isso faz-se explicando aos militantes que restam que ser mais pequeno é preferível a ser maior porque essa é a forma ideal de preservar a pureza dos iluminados.

A comparação já foi feita mil vezes, mas não é menos válida por causa disso: esta forma de pensar é mais própria de uma igreja do que de um partido. Pedindo antecipadamente perdão pela heresia, basta ler Joseph Ratzinger. Há muitos, muitos anos, o futuro Papa Bento XVI avisou que a Igreja Católica iria ser cada vez mais pequena, iria estar em cada vez menos locais e iria ter cada vez menos influência política. Mas isso, explicava Ratzinger, seria, em certo sentido, uma bênção: “Dessa provação sairá uma Igreja que terá extraído uma grande força do processo de simplificação que atravessou”. Mais: num futuro indeterminado, aqueles que ficarem fora da Igreja “descobrirão a pequena comunidade de fiéis como algo completamente novo, como uma esperança que lhes cabe, como uma resposta que sempre procuraram secretamente”.

No congresso deste fim de semana, Paulo Raimundo aplicou a profecia de Ratzinger ao PCP. O problema, para ele e para os restantes militantes, é que um partido não é uma igreja. A redenção chegará “demore o tempo que demorar”, declamou Paulo Raimundo esta sexta-feira, referindo-se elogiosamente à “paciência” dos comunistas. Pode ser uma frase louvável para quem se preocupa com a vida depois da morte, mas não para um partido que, por natureza e definição, tem de resolver os problemas que existem hoje, aqui e agora. A não ser, claro, que por falta de votos o PCP não consiga ser verdadeiramente um partido. Aí, de facto, não sobram muitas alternativas a não ser tentar tornar-se um émulo de Ratzinger. Sendo as coisas assim, resta aos comunistas esperar que Deus os ajude.

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