Todos ficamos escandalizados com episódios de pedofilia. Um caso, como sabemos, é grave. Vários casos suspeitos, no seio da Igreja Católica, como tem sido noticiado, é escandaloso e motivo de vergonha. Sim, vergonha!

Contudo, tal como tem sido recorrente ao longo dos últimos anos, não é novidade para ninguém que há uma «campanha negra» devidamente oleada – com base no «pânico moral» –, sobre os escândalos de abuso sexual de menores pelo clero. Esta é uma evidência. Ou seja, usam-se alguns casos suspeitos, querendo, com isso, generalizar para todos os membros da Igreja. Uns como abusadores, outros como «encobridores». Mas há mais. Ao concentrar-se mediaticamente o assunto dos abusos no clero, «esquecem-se» os abusos nas outras instituições, especialmente no seio das famílias.

Repare-se que aqueles que são a favor da erotização dos mais novos, da distribuição gratuita de preservativos às crianças, da oferta de abortos a pedido e mudança de sexo aos menores são os mesmos que procuram explorar alguns casos de eventuais abusos de menores por elementos do clero. Exploram os abusos dos menores pelo clero, mas não o fazem relativamente aos abusos nas instituições públicas, no seio das famílias, nos clubes desportivos ou nas escolas. Divulgam os supostos casos de abusos, mas não revelam particular preocupação para com as vítimas, bastando «condenar» os membros do clero.

Contudo, antes de avançar, é necessário esclarecer que não há nada de mais hediondo do que o abuso sexual de uma criança inocente. Ninguém foi mais severo a esse respeito do que Jesus Cristo: «Mas, se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que crêem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho, e o lançassem no fundo do mar» (Mateus, 18:6). Assim, ninguém deve ter maior indignação e severidade contra esse tipo de abuso do que os católicos.

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Mas há mais. Qualquer cidadão que tenha provas deve, em consciência, colaborar para que eventuais casos se esclareçam e sejam devidamente punidos todos os culpados. Porém, não se pode acusar uma Instituição sem provas e, mais grave do que isso, manchar a honra de todos os sacerdotes.

E se estivermos atentos à presente «campanha», somos levados a perguntar se os actuais esforços – especialmente daqueles que tentam envolver Cardeais, Bispos e Padres – não apontam para uma associação entre «jornalistas» e «dissidentes católicos», numa tentativa de mudar o tipo de «governo» da Igreja. Evidentemente que esta possível associação de modo nenhum diminui a gravidade dos crimes cometidos. Contudo, ela explica aspectos de uma verdadeira «lenda negra» que veicula as mesmas sugestões e pressões para mudar a Igreja, a fim de que Ela se conforme com a «moral» do mundo paganizado.

Segundo os media e a maioria dos «especialistas» chamados a opinar sobre o assunto, salvo raras excepções, a culpada dos pretensos abusos é a própria Igreja como instituição ultrapassada, portadora de uma moral repressiva, mas também devido à sua posição sobre a homossexualidade e o celibato, sem esquecer a sua estrutura hierárquica.

Contudo, como sabemos, a pedofilia não tem nada a ver com celibato sacerdotal. Não conheço cardeais, bispos, padres ou freiras a pugnar pelo fim do celibato. O que vejo são os «não católicos» e «católicos dissidentes» a insistir em tal assunto. A sexualidade dos padres é igual à dos restantes homens, mas configurada no sacrifício a Cristo. Apenas uma ultra-minoria terá comportamentos desviantes: sexo com mulheres e menos ainda aqueles que eventualmente pratiquem relações homossexuais ou pedófilas. Mas há sempre excepções para confirmar a regra e essas aparecem logo nas parangonas dos jornais e televisões.

Deste modo, ao invés de deixar claro que os crimes hediondos cometidos e os seus supostos encobrimentos vão contra os ensinamentos e a doutrina da Igreja, os jornalistas alegam que tais ensinamentos são a causa dos crimes! Ao invés de mostrar como a sexualidade desenfreada é parte do problema, apresentam o fim da «repressão sexual» como parte da solução.

Porém, para os mais distraídos, nesta campanha, já não se trata de «justiça», uma vez que a maior parte dos crimes, aos olhos da lei, já prescreveram, mas de pura perseguição à Igreja. Uma perseguição baseada em generalizações, que são de molde a analisar uma árvore, esquecendo a floresta. Analisando uma árvore, generaliza-se para se poder alimentar a fogueira que tudo queima e destrói, especialmente personalidades inocentes, como o Cardeal-Patriarca de Lisboa, Dom Manuel Clemente.

No caso em apreço, e como foi noticiado à saciedade nas últimas semanas, Dom Manuel está apontado como suspeito de ter ocultado um caso de abuso sexual a uma criança de 11 anos, ocorrido nos anos 1990. O Cardeal defendeu-se, dizendo ter respeitado a vontade da vítima, que «não quis divulgar o caso». O ataque mediático contra o Cardeal-Patriarca de Lisboa serviu para demonstrar que, neste caso, não houve, da sua parte, nenhuma negligência ou omissão. Pelo contrário, desde o primeiro momento, D. Manuel manifestou preocupação pela vítima, indo ao seu encontro e disponibilizando-se para a ajudar; isto apesar do alegado crime não ser passível de denúncia, por já ter prescrito. Mas ninguém se preocupou em esclarecer as pessoas sobre estes «pormenores», incorrendo, neste caso, num “crime” grave de anacronismo em relação ao Patriarca, ao querer julgar-se um caso com perto de 30 anos, com os olhos do presente, com legislação canónica e jurídica civil distintas.

Para que se perceba, não há encobrimento da parte do Cardeal. Contudo, para que conste, ninguém defende os padres pedófilos e abusadores. Estes devem ser severamente punidos. E sem dó nem piedade! A Igreja é a única instituição interessada nessa punição exemplar. Ou alguém vê outras instituições interessadas em combater o flagelo da pederastia como o faz a Igreja?

Mas também sabemos que os padres são como os aviões: milhares a voar, mas só são notícia quando um cai!

Entretanto, até prova em contrário, a Igreja foi a única instituição que se prontificou a que os seus membros fossem sujeitos a inquérito. Foi corajosa! Mais ninguém. Ou alguém viu mais Comissões independentes criadas para esclarecer e combater os abusos noutras instituições?

Há quem queira confundir a árvore com a floresta. E o que se vê é um fundamentalismo anti-católico. A maior percentagem de abusos, dizem os estudos conhecidos, é no seio das famílias, designadamente pais e avós, e ninguém acusa os pais e avós, no geral, de abusadores. Acusa, sim, a parte dos pais e avós que tal crime cometeram. A seguir está a percentagem dos professores. E ninguém diz que o Ministério da Educação é criminoso. Há os médicos, os políticos, as Ordens Profissionais, etc… mas nestes casos individualiza-se e só se atacam os que cometem os crimes. Mas na Igreja Católica, em vez de atacarem os membros, atacam a instituição.

A Igreja, estes dias, como o faz há anos, voltou a assumir – e assume – a sua culpa, envergonhando-se com ela. Alguém tem visto outras instituições a envergonharem-se com os crimes dos abusos? Viram mais alguma instituição a criar Comissões independentes para averiguação dos crimes?

Apesar de tudo isto, Dom Manuel não se livrou de críticas e de vários pedidos de demissão. Ana Gomes, ex-candidata à Presidência da República, foi a voz que mais se fez ouvir pedindo a resignação imediata ao Cardeal. Recordemos que já há alguns anos Dom Manuel se tinha visto obrigado a justificar-se, depois de ter defendido a abstinência sexual para os «recasados» que quisessem frequentar a missa e ter acesso à comunhão. Esteve nas capas dos jornais novamente em 2020, quando subscreveu o manifesto que se opunha à disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, invocando a responsabilidade de educar para a Família. Nessa altura, acusaram-no de «ultra-conservador». Na nova e mediática guerra que o envolve, após vários dias de enlameamento e fogueira de altas labaredas, parece que já não se tratará apenas de «abater» Dom Manuel Clemente, uma vez que o próprio sairá em breve, por condição da sua idade, tal como determinam as normas da Igreja, mas de condicionar a escolha do seu sucessor. Como se vai dizendo em surdina um pouco por todo o lado, incluindo junto de alguns sectores católicos, há quem esteja interessado em ver um novo Cardeal-Patriarca de Lisboa, sucessor de Dom Manuel, «fofinho» e «moderninho» quanto baste! E talvez haja alguns bem empenhados nessa «campanha».

Contudo, há aqui outro «pormenor». Não foi a Igreja que falhou. Foram alguns (poucos) dos seus membros que falharam. Na condição de humanos, pecaram, ofenderam, magoaram e humilharam pessoas e a própria Instituição que representam. Isto precisa de ser dito e registado preto no branco.

Aqui chegados, será da maior utilidade olharmos para a eternidade da História e não apenas para o presente conturbado em que nos é dado viver. Afinal, para os mais distraídos, a História revela que a Igreja «enfrentou outras tempestades» e delas saiu sempre reforçada. Assim, no meio da crise actual, devemos pedir que os culpados sejam punidos e a Igreja expurgada dos seus escandalosos membros.