Na sociedade pós-moderna em que vivemos, com múltiplos meios de comunicação à nossa disposição, sentimo-nos compelidos a dizer, a escrever, a fazer saber, a opinar. Comunicar, falar em público, escrever (mormente em redes sociais) para um auditório desconhecido – eis as tarefas em que todos pretendemos brilhar, esquecendo-nos de que antes delas, no cerne de tudo o que escolhemos partilhar com os demais, deveríamos trabalhar duas outras competências: pensar e argumentar. Pretender ultrapassá-las é condenarmo-nos a mais mensagens cheias de coisa nenhuma, mal estruturadas, facilmente rebatíveis, o que em nada abona a favor da autoestima que parecemos procurar naquilo que os outros pensam sobre o que dizemos.

Qualquer bom comunicador, oralmente ou por escrito, em direto ou em diferido deve, antes mais nada, saber o que quer dizer, ter efetivamente uma mensagem para passar – e, para isto, tem de pensar: por que quero enveredar pelo caminho A e não pelo B? Que estratégias serão as melhores para abordar o assunto? Saberei o suficiente sobre o tema em causa ou deverei ir informar-me melhor? Estarei capaz de responder a eventuais questões do público, ou do meu interlocutor, ou dos meus pares? Que mensagem pretendo que as pessoas recebam, afinal?

São justamente estas questões, ou o modo como o emissor lida com elas, que podem marcar a diferença entre uma comunicação segura e cativante e uma outra, periclitante e causadora de confrangimento e desdém – muito antes de pensarmos na gestualidade ou na projeção da voz, ou mesmo da construção do discurso. Advogamos, por isso, o conteúdo antes e a par com a forma.

Daí que o primeiro desafio seja sempre o de saber o que queremos dizer, no tempo que temos disponível para o fazer, ao público que nos ouve (ou lê) – e começar por trabalhar nisso mesmo. Um discurso que não assente num pensamento sólido (que não dogmático, antes coeso e bem alicerçado) irá certamente manifestar a impreparação do seu autor, fragilizando-o e fazendo-o temer as questões da audiência, porque não se sente (nem está) preparado para lhes responder, já que nunca pensou nelas. Defendemos a necessidade de um pensamento crítico, que entendemos como aquele que se debruça sobre si mesmo, falsificando-se enquanto se erige, de modo a que o sujeito pensante esteja ao corrente não só das várias perspetivas sobre um dado assunto, o que o fará discuti-las, entender os seus fundamentos e escolher a que considera mais bem formulada, como a que seja refutar as objeções que se coloquem ao seu pensamento.

De resto, o comunicar só faz sentido se for expressão de um raciocinar – e é esta competência argumentativa que vem assumir-se como distintiva na comunicação simultaneamente eficaz (porque persuasiva e cativante), racional (porquanto resulta de um processo de pensamento rigoroso e democrático) e livre (já que não é decalcado do pensamento ou discurso de quem quer que seja, além dos do próprio, obviamente contagiado pelas suas vivências e referências intelectuais, porque pensar será sempre um verbo preposicional: pensamos com, contra, em, sobre – e a alteridade que faz inevitavelmente parte desta ação que nos torna humanos).

Porque somos os “animais sociais” de que fala Aristóteles, obrigados a comunicar porque vivemos em comunidade, desenvolvemos naturalmente as nossas próprias estratégias para fazer chegar aos outros a nossa mensagem nas mais variadas circunstâncias. A nossa sugestão é a de que se parta disso mesmo para se limarem arestas e apurarem táticas de comunicação, obviamente adaptadas às características e personalidade de cada sujeito, por forma a que cada um de nós seja o melhor orador e o melhor comunicador que puder ser.

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