O país está pior que em 2011 porque o endividamento é maior, a população está mais velha e mais cansada. Mais farta. O esforço feito de 2011 a 2015 foi deitado pela borda fora. Perdeu-se. Pior que em 2011 porque a inflação ameaça, os juros vão ter de subir, o dinheiro ficar mais caro, a UE menos generosa e a senhora Merkel vai deixar Berlim. Pior que em 2011 porque não há perspectivas de maioria nas próximas legislativas e o Presidente que temos em Belém tem um plano que lhe cai que  nem uma luva para uma situação de instabilidade política pós-eleitoral.

O PS quer que as eleições tenham lugar o mais cedo possível para que o PSD não se clarifique a tempo, mas também porque a situação económica se vai degradar nos próximos meses. Não é nada que não se soubesse desde que a geringonça se formou. O socialismo e o comunismo nunca apresentaram outro resultado que não fosse o empobrecimento da população. Não é um argumento. São factos. Factos que forçam o PS nessa fuga para a frente, de eleições o quanto antes, na esperança de ficar com os votos da extrema-esquerda e, com uma maioria mais folgada contar que a direita não impeça a sua governação.

É precisamente para impedir esse cenário de supremacia do PS que Marcelo quer que as eleições tenham lugar no final de Janeiro ou até em Fevereiro. A outra opção que o Presidente da República tem à sua disposição é forçar António Costa a apresentar novo orçamento para, em caso de novo chumbo, então sim convocar eleições. Marcelo pretenderá que o PSD, seja o de Rio ou o de Rangel, tenha tempo e condições para conseguir uma votação mais próxima da do PS. Uma equiparação eleitoral entre PS e PSD colocaria Marcelo no topo do bolo, lugar cimeiro do regime, figura incontestada que não mais se cinge à de um árbitro, mas a de um jogador que põe e dispõe da agenda governativa. Que se deliciará no planeamento dos tais calendários a que Marcelo Rebelo de Sousa tanto se refere com devoção e afinco. Se o Presidente for bem-sucedido, o desequilíbrio que causa no sistema político pode tornar-se definitivo e o país ficar ingovernável durante anos. Mas esse é um problema com que, a concretizar-se, lidaremos mais tarde.

Enquanto o presidente se decide sobre as eleições, à extrema-esquerda resta rezar para que o castigo eleitoral não seja demasiado duro. As recordações do que aconteceu em 2011 devem causar suores frios à gente do Bloco. Já o PCP assiste apreensivo à corrida do seu eleitorado para o Chega, tanto nos subúrbios de Lisboa como no Alentejo. O fenómeno não é novo (sucedeu em França com o PCF e a FN) porque estas forças políticas, sejam à esquerda ou à direita, não deixam de colocar o Estado no topo da equação, não deixam de ter uma visão socialista da sociedade, da vida em comunidade, da forma como se governa um Estado. A semelhanças entre o Chega e a extrema-esquerda, principalmente o PCP, são mais que as divergências que o confronto directo aparenta.

Por fim, resta a IL, a outra força política (além do Chega) que tem tudo para ganhar com a antecipação das legislativas. A IL tem apresentado um bom trabalho no Parlamento, com uma consistência que poucos questionam. Neste partido não há divisões ou, se estas existem, não dão azo às tristes figuras que assistimos noutros. É uma força política que tem condições para, com um programa ambicioso e consistente, obter um bom resultado e constituir um grupo parlamentar que lhe permita maior influência na próxima legislatura. Veremos se se aproveita a oportunidade e se está à altura do desafio.

A situação política e económica é pior que a vivida em 2011, o que é impressionante se nos recordarmos do que vivemos nessa altura. Mas se já se sabia que era isso o que nos esperava, é de esperar que se saiba qual a melhor forma de sairmos daqui.

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