A aproximação de dois líderes autoritários, Vladimir Putin e Recep Tayyp Erdogan, não tem apenas como objectivo dividir a Síria em zonas de influência entre a Turquia e a Rússia, alargar a zona de influência russa no espaço pós-soviético e reforçar os laços económicos, políticos e militares entre os dois países, mas visa algo bem mais perigoso: a derrocada da União Europeia.

Cada um à sua maneira, mas ambos muito têm feito nesse sentido, principalmente após o encontro de Putin e Erdogan em Moscovo, realizado na semana passada. O principal objectivo desse encontro foi fazer propaganda eleitoral em prol do “amigo” turco de Putin, com promessas de construção de uma central atómica, um gasoduto, etc. A vitória de Erdogan no referendo irá transformá-lo numa espécie de “Putin turco”.

O tom do discurso de Erdogan e dos seus ministros em relação a alguns países e povos europeus constitui uma boa ajuda para a vitória da extrema-direita das eleições na Holanda, França e Alemanha. Um dirigente autoritário, candidato a ditador, dá-se ao luxo de utilizar adjectivos como “fascismo” e “nazismo” em relação a países democráticos.

Por outro lado, Vladimir Putin, que dirige um país que desempenhou um papel determinante na derrota do regime de Hitler na Segunda Guerra Mundial, que não se cansa de chamar fascistas aos ucranianos ou àqueles que criticam a sua política, é um dos principais financiadores da extrema-direita, não se cansa de elogiar a política dos dirigentes radicais húngaros ou de alimentar Marine Le Pen.

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A hipocrisia ideológica é evidente tanto na Turquia como na Rússia, pois ambos os seus dirigentes não se cansam de falar em democracia e direitos humanos quando, na realidade, violam os mais elementares direitos dos cidadãos dos seus países como o direito à informação, mesmo ao pensamento. Em nome da luta contra o “extremismo”, as autoridades russas perseguem correntes religiosas como as “Testemunhas de Jeová” por razões semelhantes às que as levam a perseguir os extremistas do “Estado Islâmico”.

Na véspera, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou um decreto onde define a forma como destacamentos militares da Ossétia do Sul, região separatista da Geórgia ocupada pela Rússia em Agosto de 2008, poderão passar a fazer parte das Forças Armadas da Rússia. Os militares desses destacamentos abandonam-os voluntariamente e da mesma forma se alistam nas tropas russas. Este documento foi assinado em conformidade com o Tratado de União e de Integração, firmado entre a Rússia e a Ossétia do Sul em 2015.

Resumindo, trata-se de mais um passo para a anexação desse território georgiano que, de facto, já faz parte da Rússia. Recentemente o mesmo Putin ordenou reconhecer como documentos legais os passaportes emitidos pelos separatistas do Leste da Ucrânia.

Mas, nesta cruzada contra a estabilidade no Leste da Europa e na própria União Europeia, a extrema-esquerda tem também um papel fundamental, defendendo algumas medidas muito semelhantes às da extrema-direita para minar a unidade europeia. Portugal, por exemplo, não precisa de extrema-direita nesta matéria, pois tem o nacionalismo e o isolacionismo do Partido Comunista Português ou as posições anti-europeias do Bloco de Esquerda.

As posições do PCP face à política externa russa levam mesmo a pensar que este partido vê em Putin o continuador da União Soviética na “luta anti-imperialista”. Por isso não seria uma grande surpresa se Moscovo voltasse a financiar o Partido Comunista Português, tal como fazia no tempo do regime soviético. Afinal, para Vladimir Putin, é indiferente dar dinheiro à extrema-esquerda ou à extrema-direita, o principal é que essas forças contribuam para a destruição da União Europeia