As mais recentes novelas, abrilhantadas por “drama queens” de trazer por casa, em torno do orçamento de Estado e das possíveis consequências da sua não aprovação, têm revelado muito do pior que a política contemporânea produz.

Ninguém, no seu perfeito juízo, sem ser a corte e os bobos ao seu serviço, quer saber desta ópera bufa, estridente e desqualificada, que em nada contribui para a vida das pessoas comuns.

Parece quase perdida a memória dos grandes estadistas, dos políticos que contribuíram para moldar o mundo, daqueles com ação decidida, mas dotados de capacidade de empatia e de diálogo, de elegância no trato, de tolerância perante a diversidade, de retórica refinada, culta e informada.

Hoje em dia, assistimos sobretudo a debates ocos entre garnisés, a trocas de argumentos boçais ou inconsequentes, a truques e tiques linguísticos e corporais feitos a pensar no onanismo dos gabinetes, na bolha, na “bancada”, no comentariado das TV e das redes sociais, no efeito imediato e populista.

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Não existe um verdadeiro debate político, antes um concurso para ver quem é que parece mais chico-esperto. Se estivéssemos num jogo de futebol, poderíamos dizer que os políticos que ocupam o espaço mediático são apenas jogadores “brinca na areia”, daqueles capazes de fintar todos os adversários dentro de uma cabina telefónica, mas incapazes de descobrir a saída da mesma.

Creio que isto acontece porque os políticos são de uma espécie diferente dos de antigamente: pensam sobretudo no seu umbigo, no seu ego, na sua imagem, nas palmadinhas nas costas dos correligionários e tributários, muito mais do em que melhorar verdadeiramente a vida da generalidade das pessoas.

Preocupam-se com a próxima eleição e com a caça ao voto, tentam sobretudo apoucar e rebaixar os seus adversários políticos, tantas vezes com golpes baixos, e trabalham sobretudo para o aparelho e para as claques, de forma que estas possam depois mimetizar e amplificar, nas TV e nas redes, o espavento parolo do chefe.

Estão concentrados apenas no imediato, prometendo tudo a todos, o que é um excelente passo para não poderem cumprir qualquer promessa, e comprometem o futuro, não só desta, como das próximas gerações.

Nesta luta de garnisés, os políticos que o sistema consagra esquecem-se de que a política é sobretudo a capacidade de fazer pontes, de estabelecer diálogos, de integrar as diferentes visões do mundo numa reflexão que leve à tomada de decisões positivas que mudam verdadeiramente a vida das pessoas para melhor.

Esta constatação não vale apenas para o momento atual, é algo que já vem de trás, e é também justo reconhecer que conhece várias exceções.

A mediocridade generalizada que tomou conta da vida pública é uma das causas da falta de compromisso para a resolução dos problemas de fundo da cidade e do mundo.

Os verdadeiros líderes nunca serão aqueles que se acham superiores aos restantes, donos da verdade, centrados em si próprios e que, da vida e do mundo, pouco mais conhecem do as redondezas dos seus umbigos.

Os grandes políticos, mais do que tudo o resto, devem ser fonte de inspiração para todos podermos acreditar numa vida melhor.

Quem é que se consegue inspirar com o que temos?