A divisão clássica entre “esquerda” e “direita”, com origem na Revolução Francesa de 1789, não faz qualquer sentido para a análise do espectro político do século XXI. Na verdade, é imprestável.

Métodos mais modernos procuram classificar as posições políticas de acordo com dois eixos, o económico (maior ou menor intervenção do Estado na Economia) e o social (mais libertário ou mais autoritário).

Mesmo estas coordenadas são simples demais para entender o posicionamento de um dado partido no espectro político.

Nos últimos dias, temos ouvido da boca de quase todos os dirigentes partidários, analistas e comentadores, uma quase unanimidade de que “a Direita” ganhou as eleições e tem a maioria parlamentar.

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Ventura e os seus apaniguados andam a clamar por um casamento (de conveniência, presume-se, porque amor entre as partes não existe) com a AD, em nome dessa tal maioria de “Direita”.

Mas porque é que o Chega se considera “de Direita”?

Na Economia, entre outros aspectos, defende as “windfall taxes”, o aumento enorme da despesa pública, que muitas empresas devem manter-se públicas.

No campo social, é autoritário, moralista, quer impor formas de pensar e de viver “adequadas”, define quem são os “portugueses de bem”, em contraposição, supõe-se, com todos os outros, os que pensam de outra forma e não têm medo de ser livres.

Na verdade, o Chega é um partido – mais um – estatizante.

Não é de direita, nem de esquerda.

Não há qualquer maioria de direita que possa ser formada pelo Chega. Porque o Chega não é de direita (e o PSD também não, já agora), e as próprias distinções esquerda-direita já fazem muito pouco sentido.

A grande diferença entre os diversos partidos políticos vai revelar-se, cada vez com maior evidência, na defesa que cada um faz da mais ou menos interferência do Estado na vida das pessoas, da maior ou menor liberdade de escolha, de cada um poder assumir o que é, como é, e o que quer fazer da sua vida, sem paternalismos ou ingerências públicas.

E, neste sentido, o Chega é mais – muito mais – estatizante que o próprio PS, por exemplo.

Maiorias de Direita? Não existe nenhuma, em Portugal.

Bem vistas as coisas, nem sequer temos verdadeira direita sentada na Assembleia da República.