O cenário político muitas vezes assemelha-se a uma galeria de retratos onde rostos familiares se perpetuam num ciclo interminável. São os políticos de carreira, aqueles que se autodenominam servidores da causa pública, mas que parecem estranhamente desconectados da sociedade que alegam representar.
A retórica é familiar: anos de “serviço público”, uma vida dedicada à política, e a promessa de entender e agir em prol do bem comum. No entanto, a realidade revela uma lacuna profunda entre as palavras proferidas e a experiência genuína vivenciada pelo cidadão comum.
Um dos pilares fundamentais para servir verdadeiramente a causa pública é compreender as necessidades, os anseios e as lutas diárias do povo. Surge a questão crucial: como é que alguém pode representar efetivamente uma população quando nunca experimentou verdadeiramente a sua realidade? A resposta é clara: não pode.
A essência do serviço público é a empatia, a capacidade de se colocar nos sapatos daqueles que se pretende servir. Assim como um bom prestador de serviços se baseia na sua experiência como cliente para oferecer soluções eficazes, os políticos deveriam entender as reais necessidades dos cidadãos.
Por esse motivo, é preciso questionar a legitimidade daqueles que passam a maior parte de suas vidas numa bolha política, distantes das agruras quotidianas, alheios aos desafios reais da sociedade. Afinal, como podem traçar políticas, decidir rumos e legislar para um contexto que lhes é estranho?
Medina, desde que é ministro, tem demonstrado um desfasamento aterrador. Não é o único, mas o aumento de IUC e o incentivo à compra de carros elétricos como sendo uma promoção da transição energética é de uma ignorância que não deve deixar ninguém indiferente.
A ética na política não pode ser apenas uma palavra vazia, mas sim um compromisso enraizado na responsabilidade de compreender e agir em prol do bem coletivo. É unânime que há uma necessidade de um líder político conhecer profundamente a realidade de seu povo para governar de maneira eficaz e se não o fizer deve ser responsabilizado por isso.
Michael Sandel refere a importância da ética na esfera política, destacando a necessidade de um debate moral e da responsabilização dos líderes políticos para com o seu povo.
A crítica aos carreiristas políticos não é mera conjetura, mas sim uma chamada à responsabilidade cívica. Os eleitores têm o poder de exigir mais dos seus representantes, de procurar lideranças que tenham experimentado a vida fora dos corredores políticos, que tragam consigo a diversidade de experiências e perspetivas necessárias para um governo autenticamente representativo.
Enquanto continuarmos a aceitar a mediocridade e a falta de conexão com a realidade como norma, seremos cúmplices do distanciamento entre a política e a sociedade. A mudança começa na exigência por líderes que conheçam e se identifiquem com as lutas das pessoas comuns, que tragam consigo a bagagem da experiência real e não apenas a retórica vazia de uma vida dedicada à política partidária.
A responsabilidade de elevar o padrão ético e de exigir representantes verdadeiramente comprometidos com o bem público é de todos nós, cidadãos conscientes e atentos. É hora de questionar, cobrar e exigir uma nova geração de líderes políticos que representem genuinamente os interesses da sociedade que prometem servir.