A política é uma atividade que já foi nobre, pois visa o bem-estar da sociedade. No entanto, ao longo dos anos, tem sido alvo de críticas por parte de muitos cidadãos, que se queixam da falta de verticalidade de alguns políticos.

A constituição das listas de candidatos a deputados para as eleições legislativas de 2024 foi mais um exemplo de como há cada vez mais políticos interessados em servir-se do que em servir os outros.

O exemplo de vários políticos, que trocaram de partido assim que perceberam que não teriam lugar no seu, é a constatação de que são motivados, em grande parte, pelo desejo de manter os privilégios e os vencimentos dos cargos públicos. Não se importam com as causas que defendem, nem com os valores que representam. O único objetivo é garantir a sua sobrevivência política e económica.

Esta falta de verticalidade é um problema grave, que mina a confiança dos cidadãos na política. Quando os políticos não são fiéis aos seus valores, torna-se difícil acreditar nas suas promessas e nas suas intenções.

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A falta de verticalidade dos políticos não é um problema exclusivo de Portugal. É um problema que se verifica em muitos países do mundo. Um dos autores que aborda esta questão de forma crítica é o filósofo italiano Norberto Bobbio. Como sabemos, na Itália a estabilidade política é uma miragem. No seu livro “O futuro da democracia”, Bobbio afirma que a democracia está em crise, em parte, devido à falta de verticalidade dos políticos. Diz ele que os políticos deveriam ser fiéis aos seus valores, mesmo quando isso é difícil e os pode impedir de aceder a cargos. Pois, ainda segundo o autor, os políticos devem estar dispostos a sacrificar os seus interesses pessoais pelo bem-estar da sociedade.

Em Portugal, este é um problema sério, que faz aumentar a abstenção e tem consequências negativas para a democracia. Por esse motivo seria importante que os cidadãos estivessem conscientes deste problema e que exigissem aos políticos uma maior transparência e honestidade.

Todas estas trocas e baldrocas levam-nos a perguntar o que seria destes sem a política? Como viveriam se não fosse através dos ajustes diretos, das avenças, ou nomeações?

É provável que muitos destes políticos não tivessem sucesso noutras áreas da vida. Não possuem as competências ou as qualificações necessárias para serem bem-sucedidos no mundo empresarial ou no mundo académico e por isso vivem como os camaleões que se adaptam para sobreviver.

A política é uma atividade que oferece aos seus membros o acesso a informação privilegiada e a uma série de “portas” abertas para cometerem ilegalidades sem correrem os riscos que a maioria do cidadão comum corre. É natural que alguns indivíduos sejam atraídos por estes privilégios e que se dediquem à política apenas para os obter.

A estes quero lembrar que a política é uma atividade pública, que deve ser exercida em prol do bem-estar da sociedade. Os políticos devem estar motivados por valores e princípios, e não apenas por interesses pessoais.

É preciso que os cidadãos exijam dos políticos maior transparência e honestidade. É preciso que os políticos sejam responsabilizados pelos seus atos, e que sejam afastados da política quando se comprove que não estão a atuar no interesse público.