Quem me conhece sabe o quanto prezo a função de autarca. Creio e advogo que quaisquer cargos e eleições são importantes (não por politicamente correto ou porque fica bem dizer), contudo devo dizer que talvez a mais nobre seja mesmo a do poder local (talvez o diga por desempenhar funções no mesmo e que muito me honram, mas a verdade é que estar mais próximo do cidadão e ter o contacto direto com a “realidade real”, dá-nos outras perspetivas sobre o mundo. É uma forma de política que nos faz um pouco esquecer os gráficos e remete-nos mais para a rua, daí talvez adorar essas funções).

Em alturas como a que vivemos, tendem-se a criar teses e opiniões de que rumo a seguir para todos os gostos. Todos têm uma teoria nova e muitos um oráculo novo para descoser. Ora bem, eu não tenho nada disso. Sem querer utilizar o típico cliché, a verdade é que eu “só sei que nada sei”, contudo faço por aprender um bocado todos os dias e gosto de pensar e fazer pensar.

Posto isto, e tendo em conta o difícil contexto em que nos encontramos, de crise económica e social, o mesmo exige homens e mulheres fortes nos comandos do país e também no poder legislativo e na arena política, que é o parlamento. Na minha perspetiva, e nas listas de deputados, é necessária uma urgente renovação de quadros, sobretudo no que concerne a um reforço de gente mais jovem, mas ao mesmo tempo é necessária gente com valor de trabalho na sociedade civil e na política local. No meu partido isto tudo se aplica e mais ainda se aplica a questão do poder local. Adicionalmente, e apesar do PSD ser estruturalmente um partido de bases, o PSD sempre teve e tem quadros de alta qualidade, a vários níveis e reconhecidos pela sociedade, simplesmente muitos optam por não aparecer por motivos vários, muitos deles do foro pessoal que apenas aos mesmos vincula e devemos respeitar.

Sob o mesmo prisma, o PSD, sem sombra de dúvidas, tem os melhores autarcas por esse Portugal fora (uma função vital na vida política e na implementação de políticas públicas que muitas vezes é desvalorizada ou até mesmo esquecida). Em autarquias médias-grandes são muitos os presidentes de junta e de Câmara a cumprir o último mandato (mandato esse que já ultrapassou a metade para o seu fim, dado que as autárquicas são em 2025). Agora vou ao ponto deste artigo, que é apresentar alguns cenários. Tendo essa realidade como base e somando o facto de que por vezes é complicado encontrar um sucessor candidato que seja conhecido e reconhecido pela população, seria plausível que esses Presidentes renunciassem ao mandato em que se encontram para integrar as listas de deputados ou mesmo um putativo governo sombra? Ora, essas pessoas são já conhecidas do seu público e muitas delas mesmo a nível nacional. Indo ou não como cabeças de lista, só o facto de estarem na lista e das pessoas saberem que são candidatos, poderia isso ajudar? Outro “coelho que se matava com uma cajadada” seria o da preparação do sucessor para as consequências que implica ser a cara de um partido ou movimento político ao nível concelhio (refiro-me, entre outros, à questão da notoriedade e do difícil trabalho de campo). Mas claro, quem diz um Presidente de Câmara também poderá dizer um vereador mais notável ou até mesmo um Presidente de Assembleia Municipal que acaba até por ser mais plausível. Quero lembrar também que o atual Presidente do Partido Popular Espanhol e vencedor das eleições gerais (apesar de não ter conseguido formar governo), Alberto Nuñez Feijóo, num momento péssimo para o seu partido, decidiu dar o seu contributo em prol do país, mas claro, primeiro de tudo arrumou a casa e tratou da sucessão na liderança do governo regional galego.

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Por outro lado, esta questão tem também os seus contras, que acabam muito mais por esbarrar em questões de principio e não tão pragmáticas. Um deles seria, por ventura, o facto de se não cumprir o mandato até ao fim (apesar de que não o coloco como um dilema ético). Mas convenhamos, alguém que deseje ser sucessor de um Presidente no cargo, a menos de dois anos das eleições e à partida já estando há vários anos num executivo, saberia perfeitamente que rumo levar (obviamente dentro das suas crenças) e que políticas a seguir. Ademais, e por mim falo, para uma autarquia levo um bocado a sério aquela velha (mas sempre atual) máxima de que se se deseja provar a força de um líder, olhe-se para quem o rodeia, ou seja, eu voto também a pensar no executivo como um tudo e não apenas para a figura do Presidente. Outro ponto menos a favor que se prende aqui, e que contrasta com o argumento de que um Presidente nas listas poderia fazer o eleitor repensar o seu voto, é o facto de que a realidade nos diz que o eleitor, mal ou bem, vota nos deputados, é certo, mas a pensar única e exclusivamente no futuro Primeiro-Ministro. Não obstante, posteriormente, também apresento um argumento que, apesar de não resolver esta lacuna de pensamento, poderia atenuar um pouco o problema.

Meus caros, a três meses das eleições e ainda sem se saber qual será o futuro do PS; com ou sem coligação com o CDS (que parece mais que certa, apesar de que a política não pode ser feita à base de “pareces ques”, daí sublinhar este ponto), o PSD tem o seu caminho próprio, e seria plausível acreditar que a força dos autarcas poderia ajudar o partido, mas sobretudo, e friso porque é sempre o mais importante, o país. Como mencionado, os autarcas são ativos importantíssimos, que estão no terreno e conhecem os reais problemas das populações a todos os níveis. Estou em crer que seriam um ativo vital para o país, sobretudo para um país neste estado. Poder-se-ia também pensar que, em diversas situações, seria colmatada a tradicional lacuna já previamente referida, de que as pessoas não conhecem praticamente nenhum deputado do seu círculo eleitoral, porque, como é obvio, desta forma, iriam passar a conhecer.

Há várias “lentes” neste tema. Há quem advogue que o tempo até às autárquicas por ser reduzido não implica um dilema ético em caso de renuncia de mandato e há quem defenda que os mandatos são para cumprir até ao fim aconteça o que acontecer e que uma pessoa não deve ser uma espécie de quimera política que vai a todas. Todas elas têm os seus prós e os seus contras, como tudo na vida, contudo, achei por bem desenvolver este raciocínio de modo a colocar em “campo” mais um cenário, um cenário que defendo devido às capacidades e conhecimentos de um autarca. Num tempo, como o presente, em que as instituições estão tão fragilizadas e desacreditadas e que é necessário, em muitos aspetos, salvar o Estado do estado a que o PS o levou, colocar os atuais ativos autarcas do PSD como protagonistas das legislativas, ao nível do caminho, por mim, seria por aqui!