Faz tempo que não escrevo. O músculo está perro. Resolvi sacudir a poeira do teclado por causa da invasão russa à Ucrânia.

De cada vez que vejo na televisão ou leio nos jornais que os ucranianos e as ucranianas se mobilizam para proteger o seu país, comovo-me. Civis sem vínculo militar apresentam-se no metropolitano de Kiev e noutros pontos estratégicos para vestir fardas e pegar em armas. A câmara do repórter de imagem da SIC, estacionada à entrada para a guerra, capta o sentimento de missão com que atravessam as portas do metro. São aos milhares.

Não buscam a Polónia, nem a Eslováquia, nem outras fronteiras. Ficam. Fincam os corpos entre a artilharia russa e a pátria.

Mas o que é a pátria? É terra? É mar? São as pessoas da nação? É um modo de vida? Justifica-se dar o peito às balas para proteger tudo isto? Questiono, no seio de uma existência tranquila e segura, para perceber se agiria da mesma forma caso Portugal fosse atacado.

De certezas sei apenas que a fibra dos ucranianos e das ucranianas é invejável. Resistem há quatro dias a um inimigo mais organizado, mais armado e mais endinheirado. Combatem isolados num planeta que olha, mas não mexe. Estão sós numa Europa que em tempos julguei protectora dos fracos e dos oprimidos. Eu, que sou de lágrima fácil, não contenho as emoções perante este gigantesco testemunho da coragem de um povo abandonado, porém firme no seu posto.

Volodymyr Zelensky declarou este domingo que os cidadãos ucranianos sabem por que lutam. Será este entendimento que segura as mãos que empunham as metralhadoras e os cocktails molotov quando os tanques russos surgem no horizonte? O “porquê” é fundamental na hora de optar entre a fuga e o combate. Sem um “porquê” não se tomam decisões. Tornamo-nos fantasmas no mundo dos vivos.

Admiro quem encontrou uma causa pela qual está disposto a sacrificar a vida.

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