Na semana passada Paulo Portas dizia, numa intervenção pública que o investimento chinês em África estava a diminuir.

Na minha opinião isso era totalmente expectável face ao que aconteceu no Mundo e na China ao longo dos últimos anos.

Em primeiro lugar a anulação do sistema de economia liberal que estava a ser o motor da economia chinesa durante as últimas décadas foi substituído por um sistema de capitalismo muito controlado, por um Estado que se tornou mais totalitário e menos aberto à iniciativa privada.

A nova liderança chinesa, ao contrário das anteriores, teve medo da autonomia dos seus cidadãos e da partilha de poder que teria que existir à medida que se iam afirmando as novas enormes fortunas daqueles que foram os seus grandes empresários, responsáveis pelo desenvolvimento que tanto foi louvado em todo o Mundo.

Xi Ji Ping, por se sentir mais ameaçado com essa partilha de poder, começou por eliminar a possibilidade de ser substituído como líder do seu país e de seguida procurou controlar todos aqueles que lhe poderiam fazer frente e que eram nem mais nem menos os donos das enormes fortunas que tinham sido construídas durante o milagre económico da China.

Ao substituir esses elementos por funcionários do Estado chinês, que controla, acabou por destruir a enorme capacidade de desenvolvimento dessas empresas, que dependiam da motivação dos seus líderes, da sua autonomia e das suas capacidades de risco, que não existem nestes novos dirigentes públicos que o servem.

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Ao mesmo tempo, a pandemia, que vivemos durante os primeiros anos desta década, criou uma crise de abastecimento mundial, fundamentalmente provocado pelo excesso da enorme dependência da concentração da produção na China.

Em face desta experiência tão preocupante, registou-se imediatamente uma maior procura de alternativas a essa concentração e aumentando a diversidade de oferta de origens de produtos para o consumo mundial, que associada a uma política mais restritiva de compras americanas à China acabou por trazer uma diminuição da produção na economia chinesa.

A par destas realidades e como costuma acontecer nos crescimentos muito acelerados das economias, registou-se um grande desequilíbrio entre os valores do imobiliário que tende a ser transacionado por um valor excessivo face à realidade e que termina quase sempre, como aconteceu aqui, no rebentar de uma bolha que deixa os cidadãos e a economia com uma situação de crédito mal parado que destrói muito do crescimento anterior.

Com tudo isto, temos vindo a assistir a uma recorrente falha em atingir a expectativas de crescimento por parte da China e temos a consciência de que a situação que está a ser reportada, não é, provavelmente sequer a verdadeira imagem da quebra que verdadeiramente está a acontecer.

Por tudo isto, estamos a assistir a uma diminuição da capacidade da China de aumentar os seus investimentos em África.

Mas, provavelmente é também por isto que estamos a ver a China a apoiar o seu maior inimigo geo-político – o seu vizinho com quem tem a maior fronteira – e que, por ter tido uma imprudente avaliação do que resultaria da sua invasão da Ucrânia, não teve alternativa que não refugiar-se no apoio anti-natural chinês.

A China precisa de obter riqueza para continuar a suportar o nível de vida a que, entretanto, chegou e, como vimos, as suas capacidades próprias estão extraordinariamente condicionadas, por isso, necessita de obter os recursos que estão ao seu lado na Rússia, para poder sobreviver a estas dificuldades económicas que está a enfrentar.

A troco do apoio militar seu e da sua vizinha e dependente Coreia do Norte, a China terá acesso aos recursos russos e retirará daí o apoio que necessita para a sua sobrevivência.

Resta saber se tal será suficiente para garantir o seu êxito e também que Rússia vamos ter quando tudo isto acabar.

Há cinco anos o Mundo preparava-se para que a China fosse a sua maior economia, hoje, a economia chinesa está muito mais longe dessa possibilidade e parece que é por tudo isto que a China cai.