Eu não sou liberal porque achei graça ao L, ao I, ao B, ao E, ao R, ao A e ao L. Não sou liberal porque é cool, está na moda ou é trendy. Não sou liberal porque li num livro umas ideias que me pareceram giras e bonitas. Não sou liberal por ser o caminho mais fácil, porque não é. Também não sou liberal porque sou rico, que não sou, ou pobre, que também não sou. Não sou liberal porque sou o diabo ou alguém cujo coração é frio e desumano. Não sou liberal porque quero ver os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Não sou liberal porque os grandes interesses, a Banca, as grandes corporações ou o grande capital me pagam. Não sou liberal por ser especialmente ganancioso, na verdade até me considero um tipo frugal. Não sou liberal por ser anticomunista ou antisocialista. E não sou liberal por julgar que o liberalismo é perfeito. Não sou liberal por nada disto.
Sou liberal porque pesquisei, investiguei, li, estudei, observei, analisei e verifiquei que caso após caso, exemplo após exemplo, a ideologia liberal traz melhores resultados (não óptimos) e está mais de acordo com a natureza humana e com os postulados humanistas do que qualquer outra.
Não nego que as ideias do socialismo são mais intuitivas, mais sedutoras, atraentes e belas que as do liberalismo. Assim como também não nego que a ideia de me atirar de um 10.º andar e voar é atraente e bela. O facilitismo, conducente a piores resultados, nunca me pareceu ser a melhor opção.
É curioso como todos os indivíduos, incluindo naturalmente os socialistas-estatistas, com os seus filhos recém-nascidos, podem ler muita coisa, muitas ideias interessantes e que parecem bonitas, mas no final acabam por aplicar aquilo que resulta. Contudo, quando chegam à política e à gestão da vida de milhões de pessoas, mudam o seu modus operandi, abandonando as práticas que resultam, e passando a aplicar as bonitas ideias que leram.
É expectável que perante a pergunta se não é justo alguém muito muito rico contribuir com parte dessa riqueza para acudir aos muito muito pobres, a maioria dos inquiridos, senão mesmo a totalidade, responda que é da mais elementar justiça fazê-lo.
Também é seguro que, perguntando a um transeunte se não acha obsceno 1% dos mais ricos deterem metade da riqueza global, o mesmo responderá, irritado, que sim. Porém, nenhuma destas perguntas pode servir para demonstrar o erro ou o falhanço do liberalismo. Não obstante, os detratores do mesmo, frequentemente, pegam nestes e outros exemplos para denegrir os ideiais liberais.
É notável como um liberal, embora rejeite as ideias socialistas, acredita que as intenções de quem as defende são as melhores. Mas já um socialista, além de rejeitar as ideias do liberal, presume sempre interesses diabólicos e a má índole do seu proponente. Adoram soltar estereótipos em rajada.
Caricaturando, para verem como se pode simplificar e estereotipar, para se criar alguma empatia com o socialismo basta ouvir-se os Pedro Nunos e Galambas desta vida a debitarem três ou quatro anexins retirados da cartilha simplista socialista. É assim que visam seduzir o eleitorado para o seu lado. Vão longe na política estes Senhores.
Já para se criar empatia ou simpatia pelo liberalismo é preciso convencer o eleitorado a ir pesquisar, ler e estudar história, filosofia, economia, ética, etc.. analisar e comparar dados de países para tirar as suas conclusões. Convenhamos que é bem mais complicada a tarefa dos liberais.
Assiste-se finalmente e ao fim de mais de 40 anos após o 25 de Abril de 1974, a um contraditório ideológico na Assembleia da República, com a Iniciativa Liberal de um lado e toda a esquerda socialista e estatizante do outro. E até com alguma direita que não abdica do regaço estatal. Embora as “armas” sejam desiguais, os atiradores de um e outro lado também têm habilidades desiguais pelo que, hoje em dia, o número de liberais em Portugal vem aumentando a um ritmo significativo.
Antes de a IL começar a fazer campanha para as eleições europeias de Maio de 2019, depois para as legislativas de Outubro de 2019 e, por fim, conquistar um lugar no Parlamento, ser liberal era por muitos considerada uma excentricidade. Para muitos o liberalismo ou era desconhecido ou confundido com anarco-capitalismo, capitalismo de compadrio ou clientelista, capitalismo corporativo, capitalismo financeiro e outras designações. Sem esquecer o adjectivo-papão que a esquerda tanto abana para ajudar a essa confusão, o neoliberalismo. Tudo carimbos cujas características afastam essas designações daquilo que é o liberalismo.
O liberalismo em Portugal deve muito a figuras como Carlos Guimarães Pinto, João Cotrim de Figueiredo e Ricardo Arroja, para dar três exemplos daqueles que foram e são os rostos mais visíveis da Iniciativa Liberal. A sua acção e as suas palavras difundiram alguns dos ideais e do posicionamento liberal sobre as mais diversas matérias.
Estou confiante que no futuro próximo existam mais portugueses a não serem liberais pelos mesmos motivos que eu também não sou e a serem pelos motivos certos. Estou confiante que muitos mais se irão encontrando com o liberalismo e depois concluam, como tantos já assumiram, que eram liberais e (apenas) não sabiam.