Um dos animais que mais fascina as crianças são as focas. Isto é facilmente comprovável em qualquer jardim zoológico, oceanário ou loja de peluches. São tão giras! Tão fofas. Tão calmas e pacíficas. E aquele ar beatifico com que nos olham, que trespassa calma e serenidade, que até parece que acabaram de sair de uma sessão de yoga?…
O fascínio das crianças pelas focas continua, em muitas delas, pela idade adulta. Com a idade, o instinto maternal, mais raramente o paternal, vai-se desenvolvendo. Na falta de um objeto humano para esse afeto, esse instinto não raramente foca-se nas focas. É, portanto, compreensível a militância vocifera que a sobrevivência de várias espécies de focas suscita no Canadá e em vários países austrais to “stop the seal hunt now!”[1] Aliás, a indiferença que o governo da nossa República[2], a União Europeia, a ONU e até Sua Santidade[3] parecem votar ao bem-estar das várias espécies de focas com habitat nas regiões polares é não só incompreensível, mas roça o criminoso.
Um pormenor interessante, mas raramente abordado quer na imprensa, quer na literatura dos movimentos defensores dos direitos[4] animais que lutam contra a extinção destas simpáticas bestas[5], é que todas elas rejeitam dietas vegetais. Não lhes ofereçam alface[6] que as focas não a comem. Nem sequer ingerem nori com o sashimi tão do seu agrado. As focas não são vegans. São carnívoras. A 100%.
Uma espécie de focas é especialmente popular entre urbanitas de menor idade: os leopardos marinhos. Vivem na Antártida e alimentam-se de krill, cefalópodes, peixes, pinguins e outras focas. Ocasionalmente também tentam petiscar biólogos, como infelizmente aconteceu a Kirsty Brown (1974-2003). Como rejeitam os usos, convenções e valores do hétero-patriarcado branco nunca usam garfo nem faca. Então como conseguem ingerir bichos, como o pinguim, que devido à sua dimensão não passam inteiros pela sua goela?
A técnica mais usada pelos leopardos marinhos é a seguinte: com a mandíbula pegam na presa, geralmente ainda viva, por uma das suas extremidades; depois abanam-na com toda a força de um lado para o outro; deste modo quebram a sua estrutura óssea e desarticulam os seus órgãos internos até que, eventualmente, a carcaça se começa a desagregar; está então na altura de começar a ingeri-la aos bocados. Apesar dos pinguins aparentarem não apreciar este tipo de procedimento, tudo indica que ele é, do ponto de vista do pan e de outras organizações de defesa dos direitos dos animais, um tratamento digno e não bárbaro, que a dor física e psíquica suportada pelos pinguins nas condições descritas não deve ser especialmente intolerável, e que nenhum direito animal é violado por este procedimento. Esta inferência baseia-se na falta de qualquer declaração do pan, e organizações congéneres, a protestar contra este tipo de procedimento e a exigir o seu fim imediato, e também na ausência de qualquer manifestação pública de condenação, proposta de voto parlamentar ou de iniciativa legislativa nesse sentido.
No entanto, fica a suspeita: será que o tratamento acima descrito não levanta protestos do pan porque não é cruel para os pinguins ou porque o pan, por algum motivo, é o partido das focas e não o partido dos pinguins? Esta suspeita poderia ser clarificada se um humano replicasse este procedimento com um pinguim com o fim de o consumir. Ou com uma galinha. Mas não é preciso. Basta abrir a internet e ler artigos dos defensores dos direitos animais sobre “Descubra a crueldade por trás da indústria dos ovos” ou “Viver e morrer num aviário” ou ainda a “Extrema exploração das galinhas é denunciada por ativistas”. Na falta de denúncias semelhantes sobre o tratamento dado pelos leopardos marinhos aos pinguins parece evidente que, para o pan, uma galinha tem mais dignidade e direitos que um pinguim ou um humano menos que um leopardo marinho. Se acha que um pinguim, tal como uma galinha, tem direito a não ser tratado com a violência e barbaridade descritos acima, o voto no pan não é para si. Para o pan, o partido do marxismo animal[7], alguns animais são mais iguais que os outros.
O método de desmembramento atrás descrito é, no entanto, energeticamente pouco eficiente e extremamente cansativo para os leopardos marinhos. Algumas focas da espécie, raras, às vezes aproveitam a existência de uma parede de gelo ou de uma rocha para atirar a vítima contra ela, repetidas vezes, até a desmembrar. O inconveniente deste método é que às vezes algum pinguim mais malandro se escapa quando a mandíbula se abre.
Recentemente foi descoberto por uma equipa de biólogos um terceiro método usado por alguns membros da espécie para ingerir pinguins. Surpreendentemente, dada a sua fama de serem animais solitários, parece que às vezes, um leopardo marinho se aproxima de outro segurando a sua presa na boca. É um convite para este lhe dar uma dentada; depois trocam: o que deu a primeira dentada segura o pinguim com a sua mandíbula e é a vez do outro abocanhar o seu naco; e assim por diante até a presa ser totalmente consumida. Este método, apesar de ser energeticamente muito mais eficiente, parece ser raramente usado.
Tal como os leopardos marinhos, o pan também é um partido muito fofinho. Tal como os leopardos marinhos também é uma besta que procura desarticular a sociedade portuguesa abanando-a, com toda a força, com causas fraturantes. Tal como os leopardos marinhos procurará desconjurá-la atirando-a contra direitos artificialmente construídos e atribuídos a touros e vacas, a cobras e lagartos, para melhor a poder tragar. Tal como os leopardos marinhos não poupará esforço para desmembrar as finanças públicas e para que vários grupos de interesse ecológico possam engordar. E tal como os leopardos marinhos não terá qualquer pejo de segurar o Orçamento do Estado com as suas mandíbulas de modo que outro partido dê uma dentada, para depois trocarem o favor. Por tudo isto, um Português Amante da Natureza não vota no partido das focas.
Contra o hétero-normativismo do nouo AcoRdo Ørtvgráphyco, num espírito de inclnsividade e de aceitação sem preconceitos, foram empregues neste texto, sem discriminação alguma, letras trans. Se acha que o seu emprego não é natural, ou que torna a leitura difícil, está a ser transfódico.
[1] Curiosamente nenhuma espécie de foca com habitat nas regiões polares parece estar em perigo de extinção. As duas espécies listadas (este camarada “l” é hétero, mas está agora a dormir a sesta) como estando em perigo têm ambas habitat nas regiões temperadas. Sobre estas duas espécies quase que não se ouve nada. Porque será?
[2] República: misto, em proporções variáveis, de despotismo e anarquia; (Port.) sistema de desorganização política; sistema político em que o que governa é o que é governado, em quem dá ordens é quem as recebe; Estado em autogestão; vários antropólogos e politólogos provaram este sistema ser racista e xenófobo por historicamente só se encontrar em sociedades dominadas pelo hétero-patriarcado branco; a adaptabilidade da república ao gosto de cada geração que passa é semelhante à do camaleão, como o demonstra o facto de existirem tantos tipos de república, quantas as gradações entre despotismo e anarquia (em Portugal já lá vão três).
[3] Sua Santidade: alto funcionário eclesial com título vitalício; papa; existe alguma controvérsia na imprensa jacobina sobre o significado do título: se um santo[8] homem santifica a cátedra pecaminosa, se uma cadeira santa santifica o homem pecador, ou se a santidade, ao contrário das pulgas, não é uma condição transmissível entre homens e cadeiras. Controvérsia semelhante ocorre com as cátedras da Universidade de Coimbra, não em relação à santidade, mas à sabedoria, bom senso e pulgas.
[4] Direito: legitimidade para se ser, ter ou fazer, tal como ser mentiroso, ter negócios imobiliários e negociatas com empresários amigos, e fazer os portugueses mais pobres são direitos adquiridos de qualquer político detentor de cargo público.
[5] Besta: fera; cidadão do reino zoológico para o qual algumas organizações políticas reclamam a direito à aquisição de dupla nacionalidade nas repúblicas dos homens com base na convicção que estes é que são umas grandes bestas; animal; organismo que, requerendo grande número de outras bestas para o seu sustento, demonstra a munificência com que a providência agracia as suas criaturas; cavalgadura.
[6] Alface: hortaliça folhosa; ser em que a cabeça corresponde ao pé e vice-versa, tal como nos membros das juventudes partidárias; vegetal só com cabeça; pessoa que ignora o significado da expressão lactuca sativa; vegetal extremamente saudável na alimentação humana se acompanhado por molhos contendo azeite, leite, alheira, vinagre, iogurte, sal, frutas, chourição, maionese e cerveja. Sem molho a alface faz mal à saúde.
[7] Marxismo animal: (pleonasmo) warxismo[9]; warxismo-leninismo; termo que designa especialmente o warxismo dirigido ao segmento de mercado dos millennials e das quarentonas com problemas sentimentais; luta de classes de animais para animais.
[8] Santo: warxista que já morreu e está no inferno; pecador morto revisto e editado; pessoa que fechou os olhos para gozar da visão beatífica.
[9] Warxismo: o que faz guerra ao que é bom, belo e verdadeiro na Humanidade; teoria de animais para animais que trata as pessoas abaixo de animais; pessoa que vê a realidade natural e social ao contrário, de pernas para o ar, tal como um M a fazer o pino. Os warxistas clássicos são militantes do PCP; os animal-warxistas estão filiados no pan; os neo-warxistas estão filiados no PS, BE e agora também no PSD.
Nota final: saúda-se a Iniciativa Liberal por ter deixado cair, dos seus materiais de propaganda eleitoral, o apoio a políticas anti-humanas como o aborto e a cacotanásia: liberalismo sem Humanismo não é Liberalismo, é lei da selva. Ou das focas.
Lamenta-se o seu presente silêncio sobre a sua atual posição sobre estes atentados à liberdade e dignidade humana. Esta omissão será devido a confusão, desatenção, indecisão ou ofuscação eleitoral? liberalismo sem Verdade, ou Honestidade, não é Liberalismo: é fancaria.