1. PORTUGAL GLOBAL COMO PATRIMÓNIO MUNDIAL DA UNESCO

Começo por brevemente lembrar a relevância das classificações como Património Mundial da UNESCO para o desenvolvimento e a melhoria da vida das pessoas dos respectivos países e regiões, e por indicar que tem tido muito boa aceitação a minha recente sugestão da designação PORTUGAL GLOBAL para uma classificação como Património Mundial da UNESCO, e como nome para o Museu das Descobertas (vide meus quatro artigos publicados no “Observador”, em 24 de Março, 9 de Abril, 3 de Maio e 19 de Junho de 2018).

Ainda agora, no dia 22 de Junho de 2018, fez 5 anos a inscrição da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia, na Lista do Património Mundial da UNESCO, classificação esta que me fez chorar de profunda alegria, pois foi um sonho que iniciei em 1982, quando era directora do Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra (1980-1984).

Como fui “a mãe” deste projecto, o qual fui sempre entusiasticamente acompanhando, o Magnífico Reitor da Universidade, Prof. Engenheiro João Gabriel Silva, amavelmente convidou-me a participar nas significativas cerimónias de comemoração destes cinco anos, que incluíram, nessa manhã, a inauguração de bonito Memorial no Pátio das Escolas, e da parte da tarde, com moderação a cargo do Reitor, uma Conversa, em torno do “Património Mundial – Universidade de Coimbra, Alta e Sofia”, com o Embaixador Prof. Doutor António Sampaio da Nóvoa, Representante de Portugal junto da UNESCO, o Embaixador José Filipe Moraes Cabral, Presidente da Comissão Nacional da UNESCO e o Prof. Arquitecto Walter Rossa, Coordenador da nova Cátedra UNESCO da Universidade de Coimbra intitulada “Diálogo Intercultural em Patrimónios de Influência Portuguesa”.

Das tão interessantes comunicações nestes dois momentos, em que foram justamente sublinhados os imensos benefícios nestes 5 anos obtidos para Coimbra e a região (a receita do turismo na Universidade de Coimbra passou de 300 mil para quatro milhões de euros), e quanto foi decisivo na classificação o valor de Coimbra ser universal, no passado e no presente, peço licença para agora, devido à escassez de espaço, apenas salientar a intervenção do Embaixador António Nóvoa, que a propósito das pedras mortas e das pedras vivas do Património Cultural material e imaterial, questionou “Quais são os silêncios que é preciso  falarem, serem classificados pela UNESCO ?”. Aproveitei a ocasião para voltar a falar na minha recente sugestão da classificação do Portugal Global / Interculturalidade, cujo âmbito é muito maior do que os Descobrimentos /Descobertas.

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O Embaixador na UNESCO referiu que já há um pedido, parece que do Chile, para ser classificada a rota de Fernão de Magalhães, e mostrou-se muito interessado em que comece já a avançar este pedido por parte de Portugal.

Sublinho que já constam do registo da Memória do Mundo da UNESCO o diário de Vasco da Gama na primeira expedição à Índia, a carta de Pêro Vaz de Caminha para D. Manuel I em 1 de Maio de 1500 sobre a descoberta do Brasil, e o Tratado de Tordesilhas, o que pode ajudar a fundamentar o pedido de classificação do Portugal Global.

Lembro que a UNESCO tem considerado o programa Memória do Mundo “pelo benefício de gerações presentes e futuras no espírito do diálogo, da cooperação internacional e compreensão mútua, construindo paz nas mentes das mulheres e dos homens”.

A UNESCO enfatiza sempre a Paz ser o objectivo principal !

Para alicerçar o meu recente pedido de classificação de PORTUGAL GLOBAL pela UNESCO, devo anotar que, ao longo das décadas, sugeri 7 outras classificações como Património Mundial da UNESCO, tendo 6 já sido aprovadas, ou pela própria UNESCO, ou pela Assembleia da República. Devo especificar e explicar. Foram aprovadas pela UNESCO: Coimbra (2013), Sintra (1995), o Fado (2011), e Educação para a Paz Global Sustentável (2017), tendo antes o Fado sido aprovado na Assembleia da República, o que facilitou a aprovação pela Unesco.

Explico:

  1. COIMBRA. Dizem ter sido o primeiro em Portugal o meu mencionado pedido de classificação de Coimbra pela UNESCO – feito oficialmente por ofício do Museu Nacional de Machado de Castro, de 17/3/1982, mas iniciei os contactos em 1980/1981;
  2. SINTRA. Quando eu era directora do Palácio Nacional de Sintra (1984-1990), e por não querer pedir apenas a classificação do palácio, fiz o pedido (ofício do Palácio de 20/8/1984) de classificação pela UNESCO de “parte da vila, serra e monumentos”, o que deu origem a pioneira classificação pela UNESCO de Sintra como paisagem cultural;
  3. FADO, FESTAS DO ESPÍRITO SANTO, FESTAS DOS TABULEIROS DE TOMAR, HISTÓRIA / LENDA DE INÊS DE CASTRO. Quando fui deputada parlamentar independente, cabeça-de-lista por Coimbra (2005-2009), houve rara unanimidade nas votações dos deputados de todos os partidos políticos, tanto na Comissão como no Plenário, quando fui a relatora na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas da Proposta de Resolução nº 63/X (GOV.) sobre a Aprovação da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, adoptada na 32ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO em Paris, a 17 de Outubro de 2003. Incluí no relatório os pedidos de classificação do Fado (de Lisboa e de Coimbra), das Festas do Espírito Santo, criadas pela Rainha Santa, Padroeira de Coimbra, das Festas dos Tabuleiros de Tomar (vide relatório – Diário da Assembleia da República, II Série – A, nº 26, 7 de Dezembro de 2007, p.p. 28-29; vide aprovação por unanimidade na Comissão – Arquivo Histórico Parlamentar, X Legislatura, Caixa 21, Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, Acta nº 108, Ponto nº 4 da Ordem de Trabalhos, p. 2). Na Declaração de Voto que escrevi depois, a propósito da votação no Plenário em 24 de Janeiro de 2008, acrescentei ainda o pedido de classificação do tema tão conimbricense e internacional da História e Lenda de Inês de Castro, motivo pelo qual este bem não chegou a ser votado, mas teria sem dúvida sido também aprovado (Diário da Assembleia da República, X Legislatura, I Série, nº 39, 25 de Janeiro de 2008, na p. 59 indica-se a votação por unanimidade no Plenário e nas p.p. 88-90 encontra-se a Declaração de Voto).;
  4. CÁTEDRA UNESCO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA “EDUCAÇÃO PARA A PAZ GLOBAL SUSTENTÁVEL. É a primeira Cátedra UNESCO da U.L., e surgiu na sequência do meu gosto por Psicologia Positiva e de uma sugestão minha que remonta a 2005, a qual registei oficialmente no Diário da Assembleia da República, X Legislatura, I Série, 8 de Junho de 2007, p.p. 49-51. A cátedra foi aprovada em Paris, em Agosto de 2017, com base no estudo científico da Profª Doutora Helena Marujo, Coordenadora do Executive Master em Psicologia Positiva Aplicada, membro da Direcção da International Positive Psychology Association, a qual é a Coordenadora da Cátedra, e tem escrito eu ser “a mãe” desta (vide também o meu texto com o título “UNESCO – Educação para a Paz Global Sustentável”, publicado no “Observador”, em 16 de Agosto de 2017).

Portugal foi pioneiro nos séculos XV /XVI na globalização, porque não sermos também agora pioneiros na formalização oficial do pedido de classificação pela UNESCO do PORTUGAL GLOBAL que tantos benefícios trará ao nosso País, e antes que outros países, também globais, o façam ?

Além de tudo o mais, a formalização oficial desse pedido será um sinal do

espírito do diálogo e de paz que Portugal pretende afirmar.

2. MUSEU PORTUGAL GLOBAL

O programa eleitoral de Fernando Medina à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, em 2017, teve o apelativo título “Afirmar Lisboa Como Cidade Global”, o que coincide e confirma a LISBOA GLOBAL no PORTUGAL GLOBAL !!!.

Parece este ser não só mais um argumento a favor de o museu se chamar PORTUGAL GLOBAL, mas o argumento decisivo nesse sentido !!! Assim, haja vontade política nesse sentido….

Peço licença para lembrar : este meu projecto museológico PORTUGAL GLOBAL remonta ao início dos anos de 1980 e tenho-o actualizado ao longo das décadas. Na sua base estão os então pioneiros conceitos de multiculturalismo, e desde há mais de 20 anos de interculturalidade, mantendo este último conceito a sua extrema actualidade.

O âmbito do meu projecto museológico é muito maior, em épocas e áreas geográficas, do que os Descobrimentos /Descobertas, pois abarca no tempo essencialmente os séculos XV, XVI e XVII, e no Mundo abarca do Brasil ao Japão, em muitas latitudes e longitudes, por exemplo Terra Nova, Canadá, Argentina, África do Sul, Índia, China, Indonésia, Malaca, Tailândia …

Daí o nome PORTUGAL GLOBAL, e o museu tem há décadas o pioneiro objectivo social da Paz.

Como já tive ocasião de antes apontar, desde o final da II Guerra Mundial (1945) o conceito de Descobertas /Descobrimentos tem sido posto em causa por todo o Mundo, numa alteração de conceitos propiciados pelos estudos históricos e a geopolítica. Há décadas que, por actualização científica, resolvi seguir esta alteração, independentemente de disputas geracionais (pois já tenho quase 75 anos de idade) e de disputas ideológicas entre esquerda e direita, pois penso que o tema deve estar imune também a isso.

Alegrei-me há semanas com a chamada “Declaração do Funchal”, assinada em 11 de Maio de 2018,  com a qual o Conselho Internacional dos Museus – ICOM /UNESCO passou a ter como novos paradigmas a Interculturalidade e a Paz, paradigmas estes que há décadas proponho e defendo.

Anote-se que o objectivo último da UNESCO é a Paz, e que, por exemplo, a acima referida e recentíssima cátedra UNESCO da Universidade de Coimbra se foca na Interculturalidade dos Patrimónios Portugueses espalhados pelo Mundo, numa fantástica coincidência / afinidade / convergência com a minha temática / título de PORTUGAL GLOBAL!

Assim, se torna mais óbvio que a designação PORTUGAL GLOBAL pode alcançar grande sucesso.

Tenho, modestamente, procurado a democratização e a despolitização da discussão do assunto PORTUGAL GLOBAL / Descobertas, e alargar a mensagem de Paz que deve estar associada ao museu, designadamente através dos meus 4 explicativos, mais recentes e acima mencionados textos, que pedi para serem também divulgados pelas vastas redes da internet “histport”, “museum” e “archport”. Os debates têm sido essenciais.

Sobre o projecto municipal de Lisboa do Museu das Descobertas, tive também o gosto de participar nos vivamente participados e óptimos debates que foram organizados, respectivamente, pelo Movimento Internacional para uma Nova Museologia – MINOM, o qual ocorreu no Museu Nacional de História Natural, em 26 de Maio de 2018, e pelo Conselho Internacional dos Museus – ICOM /UNESCO, o qual ocorreu no Museu do Oriente, em 20 de Junho de 2018. Estavam presentes, essencialmente, museólogos e historiadores, representantes de diferentes ideias e correntes, tendo havido um diálogo informado, sereno, construtivo, como é essencial.

Um dos muitos aspectos importantes aí tratados nesses debates, foi o da actualidade e interesse internacional pelo tema e época do Portugal Global, serem tão grandes que estão agora a ser feitas várias e importantes colecções com esta temática, por exemplo em Singapura, Abu Dhabi, Xangai, Taiwan …

Houve também a informação de ainda haver no mercado de antiguidades muitos objectos, e não muito dispendiosos, com interesse para um museu com a temática das Descobertas.

Curiosamente, não vejo referências na Comunicação Social a estes tão substanciais debates, nem a tão importantes e construtivas informações e opiniões a favor da Paz, como a UNESCO pretende…  A Comunicação Social continua a enfatizar tendências em que se enfatizam violências várias …

Neste Mundo infelizmente tão violento, a UNESCO pretende o Diálogo Intercultural e a Paz. E nós?