Na sua obra de 1945 “O Poder”, Bertrand de Jouvenel, jurista, economista e diplomata francês, discorre sobre a formação do Poder dos Estados, o crescente fortalecimento da centralização do Poder e o aumento constante da esfera do Estado através da personalização do abstracto, transformando a “sociedade” num “agente de acção”.
É também nesta mesma obra que de Jouvenel, observando a história do capitalismo, desde que o modelo foi reconhecido e estudado no último quartel do século XVIII, até meados do século XX, deparou-se com um fenómeno irónico e contraintuitivo que apelidou de Paradoxo da Prosperidade.
De Jouvenel notou que, estranhamente, à medida que o capitalismo gerava riqueza e crescimento económico, que permitia aumentos constantes do padrão de vida de toda a sociedade, desempenhando, portanto, um papel de “utilidade social”, mais o ódio face ao mesmo aumentava.
Os liberais defendem o capitalismo como sistema económico não porque gera lucro ou porque traz mais prosperidade às sociedades, mas sim porque é aquele que respeita os principios liberais de liberdade do indivíduo e de respeito pela propriedade. Para os liberais o capitalismo, gerador de progresso económico, é um meio para alcançar uma melhor qualidade de vida para todos.
De facto, e tal como de Jouvenel apontou, não deixa de ser paradoxal que o sistema económico que mais permitiu à civilização como um todo prosperar e que, por isso, mais cidadãos tirou da pobreza, seja olhado tão negativamente e que tão combatido seja.
E durante os debates entre os candidatos presidenciais pudemos constatar que este paradoxo está, infelizmente para todos nós, mais vivo que nunca em Portugal.
De Ana Gomes a João Ferreira, passando por Marisa Matias, o que se viu e ouviu foi assustador e revelador de ignorância ou, pior, de má fé. Qualquer das hipóteses é pouco abonatória para estes candidatos.
Quando se defende que os hospitais públicos são mais eficientes que os privados como Marisa defendeu por várias vezes tal só pode decorrer de má fé. O que Marisa tentou fazer foi recorrer a um artíficio de raciocínio dizendo que os indicadores melhoraram logo após a passagem da gestão do Hospital para a esfera pública. Mesmo assumindo que a afirmação está correcta, é perfeitamente natural que de um ano para o outro ou por um par de anos, todas as medidas de gestão que foram sendo implementadas ao longo da gestão privada permaneçam e que os benefícios sejam colhidos durante alguns anos com pequenas oscilações. Não é pela gestão ser pública ou privada, per si, que os resultados são piores ou melhores, mas sim pelos estímulos que se criam e pelas medidas que se implementam. A gestão pública acaba por ser menos eficiente porque, entre outras razões, segue predominantemente o direito administrativo e não princípos de gestão; a lógica de atribuição de recompensas e sanções é distinta e a nomeação de dirigentes, em muitos casos, é feita com base em simpatias políticas em lugar de ser com base nas competências.
Quando Ana Gomes defende a requisição cívil dos hospitais privados impondo a força do Estado para que este lhes pague o preço de custo dos serviços prestados mostra que a sua índole é autoritária e o seu conhecimento do funcionamento da economia é inexistente. O que fará Ana Gomes quando um médico, um enfermeiro ou um gestor privado se recusar a prestar qualquer serviço porque não está de acordo com o valor que Ana Gomes considera ser o correcto? Manda prendê-los? Possivelmente.
Quando João Ferreira defende nacionalizações de sectores que ele considera fundamentais, evocando entre outras questões, que empresas desses sectores distribuem dividendos, demonstra hipocrisia porque só há lugar a distribuição de dividendos havendo lucros, que ele despreza e apelida de componente exploratória do proletariado. Demonstra também desconhecimento de que as privatizações, ou seja, a passagem das empresas da gestão pública para a gestão privada, deu origem à criação de riqueza como um todo para as economias nacionais.
Se de Jouvenel, em 1945, falava no paradoxo da prosperidade, nós aqui, em terras lusas temos também um outro paradoxo, o da pobreza.
É surreal e desolador, ouvir estes três candidatos fazerem o retrato de Portugal, afirmando, e bem, que o país está cada vez mais pobre, que dá cada vez menos resposta aos anseios dos portugueses e que empurra cada vez mais os portugueses, sobretudo jovens, para a emigração e depois concluirem que a solução para este problema é apostar ainda mais vincadamente no guião e nas medidas que nos trouxeram até esta situação. No fundo estão a pugnar por mais Estado para combater os problemas que a preponderância excessiva desse Estado nos vem criando. O socialismo é por isso um sistema auto-alimentável que cria os problemas que afirma querer resolver. É a tal definição de insanidade que muitos atribuem a Einstein.
Embora nestas eleições presidenciais haja, pela primeira vez, um candidato liberal, tentemos abstrair-nos dos rótulos de esquerda/direita e de socialismo/liberalismo e assumamos uma posição puramente pragmática.
Só há um candidato que tem demonstrado esse pragmatismo: Tiago Mayan.
Tiago Mayan não defende ideias mirabolantes criadas pela sua mente, nem toma posições puramente ideológicas ou utópicas como se estivesse numa aula de filosofia.
O que Tiago faz é um exercício que qualquer pessoa, independentemente do seu grau académico, do seu estatuto social ou estágio de vida, pode e deve fazer que é, meramente, observar a realidade e adoptar comportamentos, medidas e acções que já comprovaram ser positivas e cujo desempenho demonstrou ser superior ao que temos. E esse exercício é tanto mais apropriado e inteligente quanto, em vez de se limitar a observar o que se tem feito, em todas as dimensões num dado país, prefere observar e adoptar de cada país as práticas que melhores resultados comparativos tiveram. É que as ideias que Tiago Mayan defende estão em aplicação em vários países e funcionam mesmo, ao contrário de outras propagandeadas pelos arautos do estatismo e do socialismo, que, até hoje, só geraram atraso e pobreza, cá ou em qualquer outro lugar.
Não por acaso, todas essas medidas têm uma mesma raiz, o liberalismo.
Este contexto de pandemia impactará no nivel de abstenção mas esperemos que os portugueses aproveitem mais este acto eleitoral para dar um sinal de que a mudança, ainda que embrionária, já começa a germinar e que o paradoxo da prosperidade conhecerá a inflexão de que este país tanto precisa.