Com as negociações para a existência de uma frente de esquerda, ou seja uma coligação que envolva o PS e pelo menos alguns dos partidos à sua esquerda, a câmara de Lisboa corre o sério risco de ser perdida pelo PSD. Assim, a melhor opção para Carlos Moedas é mudar o foco para Belém, pois será mais fácil suceder a Marcelo do que a si próprio.

Em eleições autárquicas quem chega à frente é Presidente

As eleições autárquicas são aquelas em que o “voto útil” faz mais sentido, visto que quem tiver mais votos é eleito Presidente de Câmara. O “voto útil” é uma decisão estratégica em que os eleitores escolhem votar em quem aparenta ter maiores hipóteses de vencer.

Esta estratégia é muitas vezes utilizada para evitar que um candidato ou partido com forte rejeição para determinado eleitor ganhe a eleição, levando a que em vez de votar no seu candidato ou partido preferido, a opção acabe por ser uma segunda escolha.

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Nas autárquicas, independentemente de qual o campo político que detenha mais vereadores, o ponto chave é ser o partido/coligação que obtém mais votos. Este facto leva a que o incentivo para realizar coligações seja maior do que em qualquer outra eleição.

A eleição de Carlos Moedas em Lisboa resultou de um acaso

Carlos moedas só elegeu 7 dos 17 vereadores, sendo todos os restantes de esquerda. Porém é ele o Presidente de Câmara e por muito que as suas medidas possam ser travadas pela oposição, não existe forma de lhe retirar o cargo.

A eleição de 2021 em Lisboa foi surpreendente, com Carlos Moedas a conseguir levar à vitória a sua coligação “Novos Tempos”, que para além dos partidos da tradicional AD tinha a Aliança e MPT e só não incluindo a IL porque optou por não entrar na coligação.

A não entrada da IL na coligação acabou por ser determinante para a vitória, visto que criou na esquerda a sensação de que não precisava de se coligar para ganhar a câmara. Contudo, a vantagem de incumbente de Fernando Medina foi desperdiçada quer pelo escândalo ligado à presidente de junta de Arroios, como pela convicção dos eleitores de esquerda de que a eleição estava ganha pelo PS.

A esquerda já prepara uma coligação, que faz lembrar um antigo morador do Palácio de Belém.

Em 1989, Jorge Sampaio, conseguiu unir vários partidos de esquerda, incluindo o PCP, “Os Verdes” e até o MDP, formando a chamada frente de esquerda. Esta coligação foi bem-sucedida, e Sampaio liderou a autarquia da capital até 1995, quando se candidatou e foi eleito Presidente da República.

Nas últimas semanas, sob a batuta de Rui Tavares, a esquerda já prepara as bases de uma coligação alargada que será capaz de garantir os votos necessários para “roubar” Lisboa à direita.  Para o Livre, que tem uma presença local praticamente inexistente, tal como para o BE, esta pode ser uma forma de garantir representação no executivo municipal de Lisboa e simultaneamente a única forma possível de não serem esmagados pelo voto útil.

Coligação com a IL não chega para Moedas se manter Presidente

No livro da minha autoria, Legislativas 2024 – Os Factos Só Visíveis à Lupa, mostrei a dificuldade que uma coligação entre AD e IL terá para ficar à frente duma frente de esquerda. Tendo por base as últimas eleições no concelho de Lisboa, a união das esquerdas tem sido sempre superior à soma da AD com a IL.

É certo que fazer a transição literal de resultados das legislativas em autárquicas pode fazer-nos incorrer em erros, contudo esses erros são mitigados considerando as 2 grandes coligações e o facto de se tratar de um grande círculo eleitoral em que os votantes não estão tão habituados a ceder ao voto útil.

Este cenário de vitória à esquerda no concelho de Lisboa foi invertido nas eleições de 2024 pela subida expressiva do Chega e IL. Contudo, para vencer a esquerda teria de ser montada uma coligação impossível, pois implicava que PSD, IL e Chega fossem juntos a eleições.

Só o Chega podia salvar Moedas de virar atenção para Belém

IL e Chega são incompatíveis para os líderes da Iniciativa Liberal, que desde sempre se afastaram de qualquer solução que envolva coligações com Ventura. O mesmo é válido para Carlos Moedas, que tem por várias vezes afastado ligações com o partido de Ventura.  Porém, esta linha vermelha, parecendo dificultar a conquista de Lisboa, proporciona mais chances de ganhar Belém, visto que torna mais fácil conquistar a não oposição da esquerda.

Já em abril, num evento de apresentação do Livro Liderar com Pessoas, lançado por Carlos Moedas, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que: Moedas é uma das personagens mais sofisticadas para ocupar o Palácio de Belém. O facto de não ser “rural” nem “lento” bem como de já andar pelo país a apresentar o seu livro são sinais que não devemos desvalorizar.

Assim, será que em 2026 veremos Moedas substituir Marcelo no Palácio de Belém?

Dificilmente a direita arranjará um candidato com mais facilidade em captar eleitorado à esquerda, que até é descendente de um comunista, e como numa eventual segunda volta um eleitor do Chega terá de escolher entre Moedas e um candidato de esquerda, os astros parecem alinhar-se.