Muito se especula sobre como os professores estão desgastados e envelhecidos, como têm de lidar com indisciplina e ensinar tudo, desde boas-maneiras aos mais elaborados conceitos académicos. No entanto, temos a tendência para apenas olhar para o pequeno mundo à nossa volta, ignorando a imagem mais alargada de uma classe profissional a que ninguém é indiferente. Hoje, dia do mundial professor, faço aqui a caracterização dos professores portugueses face a alguns dos seus congéneres Europeus. Não falo de resultados académicos, mas sim das respostas dadas por alunos, pais, diretores e professores em sede de diversos estudos internacionais que se fazem acompanhar de questionários de contexto.
Portugal é o país da Europa em que os alunos mais reconhecem os professores como competentes, atentos e dedicados à profissão. São 88% os alunos do primeiro ciclo que consideram ter professores que conhecem as suas necessidades, explicam de forma clara e fácil de compreender, promovem trabalhos interessantes, sabem ouvir os alunos e dão bom feedback para que os alunos possam melhorar. A Finlândia, caso de sucesso na educação, parece ter mais problemas no reconhecimento dos professores, com apenas 60% dos alunos a classificarem-nos com elevado. Mas esta mesma imagem pode ser estendida ao terceiro ciclo e secundário, anos em que os alunos portugueses também colocam os professores na dianteira da competência e da disponibilidade.
Gráfico 1 – Percentagem de alunos ensinados por professores com elevado sentido de envolvimento (fonte: TIMMS, 4.º ano, 2015)
Os pais portugueses estão também entre os mais satisfeitos da Europa. Cerca de 70% afirmam estar muito satisfeitos em relação à escola e professor(es) dos filhos, ao passo que apenas 4% se declaram insatisfeitos. Na Finlândia, apenas 55% dos pais estão muito satisfeitos e na Alemanha existem 12% de pais insatisfeitos. No ensino secundário, são 96% os pais que declararam concordar com ‘os professores são competentes’.
Gráfico 2 – Percentagem de pais por nível de satisfação com a escola e professores (TIMMS, 4.º ano, 2015)
A nível das qualificações, Portugal está também muito bem, com praticamente 100% dos professores com formação universitária ou equivalente, dos quais cerca de 7% (no primeiro ciclo) e 20% (no 3º ciclo e secundário) têm formação ao nível de mestrado ou doutoramento. Em cima da qualificação de base tem havido um esforço de formação profissional continua especialmente em conteúdos e currículo. Estamos, no entanto, ainda carenciados de professores com formação em Avaliação, Técnicas para ajudar os alunos a pensar criticamente e também em Necessidades educativas individuais.
Gráfico 3 – Percentagem de professores que declara ter frequentado formação (fonte: TIMMS, 4.º ano, 2015)
Quando inquiridos sobre os professores, os diretores afirmaram que o único problema que lhes encontravam era uma certa resistência à mudança. 50% dos diretores considera que a resistência à mudança pode ser um obstáculo para a obtenção de melhores resultados. Mas, se pensarmos bem, todos seriamos resistentes se fossemos alvo de constantes pequenas mudanças, que são revertidas tão rapidamente que nem chegam a ter tempo para respirar. Os governantes é que produzem professores resistentes cada vez que emitem uma ordem de mudança para ficar tudo na mesma, introduzindo ruído que em última instância apenas prejudica o decorrer das aprendizagens.
Apesar das frequentes notícias de insatisfação da classe docente, apenas 4% dos professores do primeiro ciclo se declararam pouco satisfeitos com a profissão, mas 51% declararam-se muito satisfeitos, valor acima da média dos seus colegas Europeus (48%). Novamente, os professores dos outros ciclos estão também satisfeitos, e quando questionados ‘abandonaria a profissão se pudesse?’ a resposta foi um não quase unânime (96%). O maior problema reside no entendimento dos próprios em relação à falta de respeito pela comunidade e ao pouco reconhecimento pelo seu esforço. No entanto, estas carências parecem existir somente na cabeça dos professores, pois nos questionários aos pais, professores e diretores só há bem a dizer.
Gráfico 4 – Percentagem de professores que consideram que não são respeitados ou não têm reconhecimento de ninguém (fonte: TALIS, 2013)
Os professores não são os maus da fita, são um dos melhores recursos que o país tem. Apesar do queixume de café, quando pais, alunos e diretores são convidados a refletir, é a satisfação o sentimento que predomina. Devemos, por isso, acarinhar os professores e dar voz aos que os elogiam, que afinal somos quase todos.
Consultora e formadora em estatística e análise de dados
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.