Hoje envio por carta o meu cartão do partido ao Dr. Luís Montenegro. O mesmo cartão laranja que tem estado orgulhoso na minha carteira. Também cesso funções como delegado da Assembleia Distrital do Porto. É uma decisão bem pensada e refleti sobre o assunto, porque infelizmente era uma hipótese que equacionava há algum tempo.
Apesar da minha profunda admiração pelo fundador do PPD/PSD. Apesar da influência da minha escolha profissional por causa do brilhantismo económico do professor Cavaco Silva. Apesar da profunda simpatia da gente que me levou ao partido. Apesar de tudo, às vezes é preciso sair para não mudarmos os nossos ideais. Porque ser militante de um partido político não é a mesma coisa que ser adepto de um clube de futebol: é algo mais profundo e que tem a ver com a nossa maneira de pensar, sentir, agir e ser. Porque a atual direção de Montenegro e Pedro Duarte cometeu erros inconcebíveis nas últimas legislativas e preparam-se para fazer ainda pior nas próximas duas eleições. Porque o PSD passa a ser um partido de marca branca: depois de convidar Rui Moreira, o pior presidente da Câmara do Porto desde as invasões napoleónicas, a comissão política nacional mostra predileção por independentes sem qualquer ligação ao partido. Ou seja, o PSD é agora como aqueles produtos de marca branca dos supermercados: pode ser candidato o Goucha ou a Cristina Ferreira, ou qualquer antigo dirigente da extrema-esquerda ou da extrema-direita, desde que seja famoso e possa dar votos nas próximas eleições. Já não interessa se o cabeça de lista ou candidato partilham da ideologia que fundou o partido e o susteve como marca de confiança dos portugueses.
Podia eu fazer alguma coisa para mudar o caminho do partido de Sá Carneiro e voltar a direcioná-lo para aquilo que o criou e fez grande? Infelizmente não, porque sou um simples militante de base que não passou pelas jotas, não faço parte de nenhum grupo de interesse ou clube privado, odeio aventais e não presto vassalagem a políticos hedonistas. Pior ainda, sou livre e independente, o que faz de mim um irrelevante. Sei que o PSD vai recuperar depois das estratégias erradas e deste veleiro que vai ao sabor do vento. Por mim, estarei onde sempre estive: no combate pela justiça social e pelo desenvolvimento sustentável. Os valores de Sá Carneiro estarão sempre comigo. Sobretudo, no combate para que o Porto se erga dos escombros. Os portuenses têm muitas razões para estar zangados, mas também têm tudo para continuar a estar esperançosos. Chegará o dia em que terão de examinar a sua consciência e perguntar se querem continuar como até aqui ou viver numa cidade moderna e com futuro para os seus filhos e netos.
Com a esquerda portuguesa a ir cada vez mais para o radicalismo, o discurso do ódio e do separatismo estão cada vez mais na comunicação social. Portugal não pode cair nesta narrativa que nos separa em classes, raças e sexos. Embora só recentemente a direita radical tenha saido do armário, tanto a extrema-esquerda como a extrema-direita têm de receber a extrema-unção. E isso só será possível com gente tecnicamente competente e com valores inegociáveis, jamais com celebridades narcisistas e aristocratas intocáveis por honras, dinheiro e poder excessivos. Em vez de esperarmos eternamente por algo que não virá, talvez o primeiro passo seja abrirmos os olhos e vermos que esta AD não é a de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, Ventura não é o Dom Sebastião e a esquerda não pode continuar a destruir Portugal.