No mercado habitacional estivemos a ter um vislumbre do que seria o país se o liberalismo tomasse conta dos destinos do país. Não seria apenas o modelo americano de só quem tem dinheiro é que recebe tratamento médico ou as dívidas escolares pagas pelos estudantes para o resto da vida. A desregulamentação do mercado enquanto corretor dos desequilíbrios traria o caos habitacional e um apartheid entre ricos e pobres. Se alguns acham que a situação é má em Lisboa, gostaria que olhassem para o Porto, com quartos a chegarem aos 800 euros e T0s ou T1s a atingirem valores estratosféricos. E aqui no norte os rendimentos são exponencialmente menores, por isso a maioria dos trabalhadores recebe menos de mil euros. Como se consegue viver no Porto e até em todo o Distrito, se os rendimentos vão todos para se ter um tecto?

Entre Lisboa e o Porto há uma diferença substancial em termos governativos, mas o resultado no mercado habitacional é basicamente o mesmo. Medina, em Lisboa e no Ministério das Finanças, tem sido o típico boy socialista sem o mínimo de capacidade para um cargo tão elevado. O problema habitacional de Lisboa não foi criado por convicções liberais avessas ao intervencionismo, mas sim por puro desleixo. Tudo indicava que haveria uma crise habitacional mas a inércia crónica socialista deixou as coisas chegarem a este ponto e só agora se pensa em agir. No entanto, o mesmo Medina não tem sido capaz de apresentar soluções coerentes. Já no Porto, a política económica tem sido profundamente liberal e o resultado não tem sido o empreendedorismo ou os aclamados benefícios do livre mercado. Pelo contrário, impera hoje o caos, com habitações modestas a cobrarem cada vez mais por quarto. Há hoje uma nova classe de chicos-espertos que arrendam as casas dos pais ou compradas há mais de dez anos e não passam recibos nem fazem contratos. Perante este vampirismo nojento que desalojou inquilinos e expulsou milhares do Porto, Rui Moreira e a vereação económica liberal batem palmas, como romanos no circo a regozijarem-se enquanto os leões devoram os cristãos.

As tão faladas medidas do pacote habitacional do governo socialista são uma tonteria e é evidente que não vão ter resultados práticos, nem nas condições de vida das pessoas, nem em termos macroeconómicos. A incompetência ministerial, tranversal a todo o Governo, deve-se a uma razão simples: governantes sem experiência profissional, saídos da Juventude Socialista para o conforto dos gabinetes. São jovens e a maioria mulheres, o que fica muito bem na fotografia e dá uma ideia de igualdade de género ou inclusão. Isto seria maravilhoso se tivessem currículo, para lá das hierarquias partidárias, mas profissionalmente valem zero e academicamente abaixo de zero. O resultado são esta políticas aterrorizadamente ingénuas e supérfluas. É uma pena, porque temos tantos jovens bem-sucedidos (de ambos os sexos) nas respetivas áreas ou com investigação académica exemplar, então porquê esta obsessão com a carreira partidária e porque tolera o povo esta representação de interesses?

Devo dizer que fico chocado com a quantidade de companheiros de partido que defendem com unhas e dentes o liberalismo. É típico de quem não percebe nada de nada, de quem anda na política a fazer favores a alguém. A mentira estapafúrdia de que o Governo de Passos Coelho tinha características neoliberais, de tantas vezes repetida pela esquerda e pela comunicação social, parece ter entrado na cabeça de muitos militantes e simpatizantes do PSD. Não, reduzir a obesidade mórbida do Estado não significa ser liberal – traduz, isso sim, uma verdadeira social-democracia eficaz e capaz de prover um Estado Social, ao mesmo tempo que alivia a carga fiscal e alavanca a economia. Verifico que a iliteracia e a ignorância são os maiores aliados da incompetência socialista, dos extremismos marxistas, do populismo radical e do histerismo liberal. A solução para Portugal é clara: o desenvolvimento económico com o sucesso de Cavaco Silva e a seriedade de Passos Coelho. A questão está em quem será capaz de replicar e criar esta simbiose.

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