O Presidente russo, Vladimir Putin, reabilitou símbolos do passado soviético importantes como o hino estalinista e as pomposas paradas militares, o que levou alguns a acreditar que o “Back in USSR” seria possível, mas deixou claro que não é essa a sua intenção no que diz respeito ao principal: a economia.
Na sua conferência de imprensa anual, onde todas as perguntas se podem fazer ao “pai da nação”, Putin declarou referindo-se a uma pergunta sobre a possibilidade da Rússia voltar à economia socialista: “Penso que isso é impossível. Considero que mudança da sociedade é tão profunda que torna impossível a restauração do socialismo”.
E para que não restem dúvidas, sublinhou: “São possíveis elementos de socialização: na economia, esfera social, mas isso está sempre ligado ao gasto de cada vez mais rendimentos e, no fim de contas, leva a um beco sem saída na economia”.
É verdade que o dirigente russo lamentou várias vezes o fim da União Soviética, considerando esse processo “a maior tragédia do século XX”, mas isso apenas no campo do poderio militar e da capacidade de influência nas relações internacionais, pois, no sentido social e económico, não tenciona redistribuir os milhares de milhões de dólares e euros dos seus “amigos” que se encontram guardados em bancos estrangeiros, em caixas de cartão em casa ou até mesmo debaixo dos colchões. Seria muito comovente ver os dirigentes dos grandes monopólios russos — Gazprom, Rosneft, etc. — renunciar a parte da sua fortuna a favor dos mais desprotegidos: crianças, reformados. Para isso teremos e assistir a convulsões políticas na Rússia.
As semelhanças com o “regime soviético” estão presentes no campo da política externa, nomeadamente no apoio militar a ditaduras de extrema-esquerda como a Venezuela ou Cuba. Mas aqui é preciso acrescentar também o apoio à extrema-direita. Neste campo, a experiência soviética pode igualmente servir: Estaline não ficou com peso na consciência quando assinou um pacto com Hitler para dividir a Europa. Vale tudo para enfraquecer os adversários.
Se mais alguma coisa torna a Rússia actual mais semelhante à União Soviética, isso tem lugar no aumento da violação dos direitos humanos, das limitações da liberdade de imprensa e do poder arbitrário e quase absoluto dos serviços secretos russos a todos os níveis.
Resumindo, restam cada vez menos argumentos ao Partido Comunista Português para apoiar a política de Putin, principalmente depois do dirigente russo “ter enfiado o socialismo na gaveta”, mas ainda algo importante os une: o “anti-imperialismo”, o “anti-americanismo” e o “anti-União Europeia”. Esta política externa russa coincide também com os mais profundos anseios do Bloco de Esquerda.
Quanto ao resto da conferência de imprensa, a repetição até à exaustão de que os outros: Ucrânia, Estados Unidos, Reino Unido, etc. é que são culpados dos males do mundo e a Rússia apenas e só quer a paz. Voltou a insistir que é preciso dar o “salto” na modernização do país, mas essa promessa já é feita há 18 anos e continua por cumprir.
Ao elogiar a actividade política e a personalidade do Presidente da China, Xi Jiping, Putin deixou transparecer que não tenciona abandonar o poder depois de 2024, como está previsto na Constituição, pois os seus grandes “planos nacionais” vão necessitar de mais tempo para serem cumpridos.
P.S. Quase me ia esquecendo, mas não podia deixar passar a “grande novidade” dada por Putin ao seu país e ao mundo: “como homem decente, devo casar-me um dia”.