É altura de desejarmos votos para o novo ano. E nunca foi tão difícil dizer alguma coisa que faça sentido e não sejam apenas palavras vagas. Até os clichés e mensagens universais usadas em anos anteriores soam agora estranhas ou desajustadas.
A vivermos ainda uma pandemia que tem abalado a sociedade de forma dramática e a deixar o mundo tão frágil e incerto, que votos podemos deixar para 2021?
Para quem trabalha em marketing, a mensagem terá de usar palavras infinitamente repetidas ao longo deste ano e que continuarão a fazer sentido no próximo: esperança, confiança, resiliência. Embora o grande foco esteja agora para as mudanças profundas nas tendências, valores, atitudes e comportamentos do consumidor e para a necessidade de ajustar as estratégias das marcas para esta nova realidade.
Algo que esta indústria reteve deste ano de 2020, é a consciência que nunca estaremos preparados para tudo e que os nossos melhores planos podem facilmente sair furados, porque o futuro é difícil de prever. Mas também aprendemos que temos uma capacidade de readaptação e resposta inimaginável até então, capaz de responder a todos os desafios com a inovação e criatividade que nos caracteriza. Por isso, avançamos sem medos, flexíveis, a “esperar o inesperado”, prontos para abraçar a imperfeição e o fracasso, quando for caso disso, ou para corrigir no imediato o que for necessário. Temos sido colocados à prova no último ano e estamos mais do que preparados para as incertezas dos tempos que se seguem.
Outra coisa que fica do ano que agora termina, são os novos hábitos criados, sendo que um deles saiu muito reforçado e não o iremos abandonar tão cedo. Passámos uma parte importante da nossa vida online e, para quem trabalha em marketing, essa é, seguramente, uma área a reforçar em 2021. As marcas têm que estar onde estão os seus consumidores.
A quantidade de conteúdo disponível aumentou exponencialmente e, mais do que nunca, a qualidade e relevância do que é apresentado passou a ser crítico. Esta quantidade tornou as pessoas mais exigentes e elas esperam que as marcas lhes acrescentem algo, lhes resolvam problemas e lhes arranjem soluções. Na verdade, que criem um verdadeiro diálogo!
E porque razão este diálogo passou a ser mais importante agora?
Porque este é um tempo novo, com novas memórias emocionais e de partilha que resultaram de uma exposição prolongada a experiências muito pouco comuns que alteraram padrões e aspirações. Tempos que trouxeram preocupações crescentes como a desigualdade e que são hoje um desafio para as organizações.
Mesmo aqueles que não viram os efeitos da pandemia alterar os seus padrões de rendimento vão questionar-se frequentemente sobre as suas opções de escolha. Vão pensar duas vezes se aquela é a opção certa e porquê.
Posto isto, que votos para o ano novo? Desejo para 2021 uma enorme capacidade de ouvir e entender as novas emoções e valores dos consumidores, tentando encontrar uma forma simultaneamente empática e pragmática de fazer o bem, bem feito.
Manuela Botelho é presidente de júri nos Young Lions Portugal. Este texto insere-se numa série de artigos de opinião publicados no âmbito das iniciativas organizadas pela MOP, representante oficial do Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, um dos festivais mais prestigiados pela indústria criativa em comunicação. Cada texto apresenta uma visão de vários profissionais do setor, de tendências a perspetivas de futuro.