As fundações do nosso regime democrático são seguramente mais fortes do que as presentes na Venezuela, Turquia ou Hungria. Mas são suficientes? Responder a uma pergunta destas obriga-nos a dar um passo atrás, abstrairmo-nos das manchetes dos jornais, esquecermos por momentos os alertas noticiosos e alargarmos o objeto de análise, aprendendo lições com as nossas próprias experiências e com a história de outros países e governos.

Para sermos rigorosos, os demagogos e populistas não apareceram agora. O fundamental para a saúde da nossa democracia é que tenhamos instituições, Justiça e normas robustas. Sem estas, o sistema de freios e contrapesos institucionais e constitucionais fica em causa, não sendo capazes de segurar a voragem de grupos de interesse sobre o interesse nacional.

Na verdade, há muito que os portugueses sentem que paralelamente aos poderes eleitos, o país é também dirigido por minorias poderosas, oligopólios e lobbies. Se, quando isto acontece, ao mesmo tempo que vamos confirmando que a Justiça afinal não é cega e escolhe juízes e processos, estão criadas as condições para o crescimento do populismo.

Mas a culpa também é nossa, das juventudes partidárias e dos partidos que têm governado. Do PS, porque, embora o defenda nas palavras, ataca a separação de poderes no Estado, pactuando e promovendo o lodaçal entre poder económico, política e justiça. Do PSD, porque demasiada vezes fica calado perante os acontecimentos. Cabe ao PSD e às suas novas gerações serem as primeiras barreiras e os porta-vozes contra o nepotismo e as redes de influência que capturam o interesse público.

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Fazê-lo, é a única forma de defender a democracia e os portugueses que nos elegeram e confiam em nós. Precisamos, assim, dos partidos políticos moderados a cumprirem bem o seu papel, para que os portugueses neles confiem e não sejam seduzidos por partidos populistas como o Bloco de Esquerda e o Chega, que não são mais que vozes de protesto, sem qualquer solução real para os problemas dos portugueses. Precisamos que os partidos moderados tirem Portugal deste colete de forças que fez o nosso crescimento estagnar enquanto perdemos lugares atrás de lugares na riqueza por habitante na União Europeia.

Assim, e respondendo à pergunta inicialmente enunciada, as fundações não são suficientes. Precisam de trabalho diário, de preocupação e entrega dos que nelas acreditam. Dizer que a democracia se constrói todos os dias não é uma banalidade: é a constatação lapidar de que, se como outros, não o fizermos todos os dias, ela se desgasta e dissipa.

Precisamos de aproximar o poder dos portugueses, precisamos de maior transparência, na Justiça como na política, e assim libertar o futuro de Portugal. Em vez de rasgarmos as vestes nas redes sociais, rasguemos o colete de forças que aprisiona o nosso futuro. Isto é comigo, que sou deputada nesta legislatura, mas também é contigo. É com todos.