A apologia ao espírito crítico dos alunos nas universidades tem vindo a decrescer de forma galopante. O chato e birrento processo de Bolonha – introduzido por alguém que gosta de pôr, claramente, a carroça à frente dos bois – acelerou o método. Salvo determinadas faculdades, nomeadamente algumas que estão doutrinadas para as letras, humanidades e ciências sociais, parece que o objectivo-mor passou por desbaratar matéria e material sem que haja hipótese alguma de debate entre a garotada que por lá anda.

O conceito ancestral de ´universidade` sempre visou catapultar as mentes para outro mundo, do género “e se o mundo fosse assim e não assim?”. Actualmente – e venham a mim, sem pânico, as más vozes do pseudo-bom samaritanismo -, muitos são aqueles que, consciente ou inconscientemente, defendem essa prática, a de colocar entraves à capacidade de raciocínio livre e opinativo, pensamento crítico e fomentação saudável de diálogos e debates. O interesse banal em desbobinar (verbo usado e abusado pela minha antiga professora primária e que me ficou, bem ou menos bem, na retina) ensinamentos, alicerçado por frequências ou exames de escolha múltipla, ou lá o que é, tem imperado no seio académico. Parece uma forma encriptada e moderna e alienada de ser lacaio, mesmo não existindo outra hipótese para a garotada que frequenta as universidades.

Há uns tempos, tentei explicar à minha avó o que era um exame de avaliação de escolha múltipla. Esforcei-me ao máximo durante uns trinta ou quarenta minutos, até que fiquei com pequenas enxaquecas que me fizeram desistir de continuar. Ela própria, nauseada, deixou-me de ouvir ao final do primeiro quarto de hora, e bem. Adiante. Talvez o Felizmente há Luar! devesse ser obrigatório outra vez. Julgo que ajudaria, em detrimento de pensamentos de tendência, aqueles de automotivação, em que frases soltas e embelezadas com “gratidão” e “resiliência” – cuja música entristecida de fundo alimenta o cenário – imperam aqui e acolá. Mas sim, talvez o Felizmente há Luar! devesse ser obrigatório. Isso e uma lavagem ao intelecto, longe de uma alienação inimiga do Luar de que Luís de Sttau Monteiro apregoava.

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