Embora o Príncipe Carlos, agora Soberano do Reino Unido, tenha sempre tratado os pais com um snob e aspirado Papá e Mamã, o comum dos mortais vai mudando a maneira  como trata os pais conforme vai crescendo. Quando aprendemos a falar, começamos com o mimado Mamã e Papá até irmos para a escola primária. Dá-se então a primeira transformação: em público são Mãe e Pai.  Os anos avançam e, na adolescência, passam a ser ‘os meus velhos’, mas a mãe continua a ser ‘a minha Mãe’ ao passo que o pai ganha um definitivo ‘o meu Velho’. Um dia o meu pai ouviu tal epíteto e perguntou, apesar de já o saber, a quem eu me referia. Ganhei coragem e disse-lhe; também ganhei um puxão de orelhas por causa duma reles incorrecção: eu sou o ‘Mais Velho’, vá lá, repete, incentivou-me. Pois se há momentos em que temos de mostrar que somos espertos, aquele era um deles. Sem relutância alguma, mas com grande urgência, o repeti, ganhando assim uma confortável distância do patriarcado opressor. Quando me lembro de momentos como este sinto um enorme conforto por os ter vivido, e percebido, que o que nos ligava era um enorme carinho embora eu naquela idade achasse ser invencível e o ‘meu Velho’ já dobrara o meio século. Era só isso o que ele era, uma pessoa mais velha. Hoje, infelizmente não será tanto assim. Os ‘Velhos’ actuais, a par da geração mais qualificada de sempre, também serão eles os ‘Velhos’ mais qualificados de sempre. É certo que vão perdendo mobilidade, tempo de reacção, mas, a não ser em casos diagnosticados, os ’Velhos’ actuais estão cá para as voltas, e detestam que sejam tratados como se fossem uns inúteis porque não o são.

Assisti há dias nos Correios um ’Velho’ a protestar que uma encomenda que havia enviado há mais de um mês, ainda não chegara ao destino. Explicou que fez o acompanhamento pelo telemóvel e que nada constava da encomenda. Foi atendido simpaticamente por um funcionário que,  quando lhe explicava o que poderia ter acontecido, uma funcionária ao lado, começou com uma arrogância desmedida a perguntar se o senhor tinha feito isto e aquilo. Disse que sim. Ela respondeu que não podia ser. Ele reiterou que tinha sido assim. E tinha razão, informou-lhe o outro funcionário. Idadismo é isso: a arrogância desmedida da juventude.

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