Faltam professores, juízes, enfermeiros, médicos e militares. Há falta de trabalhadores na construção, na restauração, na hotelaria e na agricultura. Num país que parece vazio, há falta de casas. Fica-se com a ideia de uma catástrofe, mas trata-se tão só de Portugal que o PS governa desde 1995, com apenas duas curtas interrupções. Há quase trinta anos, os socialistas enchiam a boca com as palavras ‘educação’ e ‘futuro’. Os jovens de então somos nós, eu e muitos outros, que passámos a vida a ouvir as mesmas frases feitas que, como geralmente acontece com as frases feitas, não têm qualquer conteúdo.
Quem é que quer ficar anos à espera de ser colocado numa escola, e sem saber para onde vai viver no ano lectivo seguinte, quando há um mundo lá fora cheio de oportunidades? Quem arrisca ser médico ou enfermeiro no SNS português, em vez de ir trabalhar com melhores condições e um bom salário para o Reino Unido, Espanha ou a Alemanha? Quem é que, saído da faculdade de direito, se mete no CEJ para ser juíz ou magistrado com a perspectiva de se enterrar debaixo de dezenas de milhares de processos, cuja resolução leva anos? Quem se predispõe a ingressar nas forças armadas portuguesas, quando há militares a alegar falta de condições nos navios? Para quê trabalhar em Portugal, se na Europa se ganha mais e os serviços sociais são melhores? Por que não ir embora, se se chega ao aeroporto com tudo tratado e um emprego à espera? Depois de décadas a recebermos fundos de Bruxelas, os portugueses continuam a sair do país e os números totais da emigração até são superiores aos da década de 60, quando se fugia de uma guerra e tantos saíam a pé e a maioria nem sabia onde ia trabalhar.
Actualmente, as razões para a degradação dos serviços públicos e do nível de vida prende-se com o endividamento e a falta de capital. O Estado endividou-se para albergar dentro de si o maior número possível de eleitores e as pessoas foram pelo mesmo caminho porque o PS precisou do consumo para dar a ideia de dinamismo económico. Com dívidas e sem dinheiro, a margem é curta. E mais pequena se tornou porque o PS travou as reformas do Estado e impediu que os mercados do trabalho e do arrendamento se adaptassem à globalização. O Estado fechou-se sobre si mesmo enquanto o país se abria ao exterior por via da internet.
O surgimento da internet foi o grande acontecimento do final do século XX. As suas implicações sociais e económicas foram imensas, mas os socialistas não as quiseram ver. Preferiram imaginar que continuavam no Portugal dos anos 80, um país democrático, mas onde só uma pequena minoria viajava e sabia como se vivia na Europa Ocidental. Nessa altura, e isto é apenas um exemplo, se um determinado livro estivesse esgotado era preciso conhecer alguém que fosse a Londres comprá-lo. A informação para estudar ou trabalhar no estrangeiro não estava disponível à distância de um click no computador de casa. A partir do momento em que o mundo se globalizou e ficou ligado por uma rede de computadores pessoais, o atraso social e económico do Portugal do PS acentuou-se e tornou-se evidente que era de fugir.
Felizmente são cada vez mais os portugueses que não se contentam com o mesmo emprego para a vida. Os mais novos, que experimentaram viver pequenos períodos na Europa, viram como funcionam as universidades, como são geridas as cidades, como funcionam os transportes, como se arranja casa e se muda de emprego. Estagnar já não se confunde com segurança. O desvio entre a vida em Portugal e da outros países europeus tornou-se evidente e impossível de ignorar. São cada vez em maior número os portugueses que gostam de mudar de residência, de cidade, de emprego e, se as leis laborais e a do arrendamento não ajudam, emigrar tornou-se na solução mais fácil. Para muitos, a única possível.
Foi na ânsia de controlar o incontrolável que a construção não recuperou da crise de 2011. Com receio de uma nova bolha do imobiliário, o PS fez o que pôde para controlar o mercado da habitação: reverteu a lei do arrendamento e travou as medidas de simplificação dos licenciamentos. Construir tornou-se penoso, o custo para o fazer elevou-se e os preços das casas dispararam. Ao mesmo tempo, as novas tecnologias voltaram a fazer das suas e os compradores estrangeiros descobriram o mercado imobiliário de Lisboa e do Porto. O Portugal que o PS governa quase ininterruptamente desde 1995 levou outro safanão. Com empregos fixos, baixos salários, mas boas ligações de internet e voos baratos (providenciados pelas low-costs que deram a machadada final numa TAP que vive nos anos 70 do século XX) os portugueses foram embora e permitem que o PS se vanglorie por a taxa de desemprego ser baixa. Há fenómenos que são fatais como o destino.