Cerca de 60 mil portugueses saíram de Portugal durante 2022. De acordo com o Relatório da Emigração 2022 elaborado pelo Observatório da Emigração e a Rede Migra, o principal destino é a Suíça, a Espanha e a França, depois de uma queda das idas para o Reino Unido na ordem dos 40%. Já são mais de 2 milhões os portugueses nascidos em Portugal que vivem no estrangeiro. O fenómeno não é novo, tem séculos mas a sua natureza é diferente das anteriores, nomeadamente das que ocorreram ao longo do século XIX, até aos anos 30 do século XX, e ainda com a dos anos 50 e 60 do século passado. Uma diferença que revela um falhanço e que coloca em causa um dos maiores objectivos do 25 de Abril que era o desenvolvimento do país.

Ao longo do século XIX os portugueses emigraram em grande número para o Brasil, e mais tarde também para os EUA. A causa era a procura de melhores condições de vida, mas que se prendia com dois fenómenos, conforme referem Nuno Gonçalo Monteiro, Jorge M. Pedreira e António José Telo em História Social Contemporânea – Portugal 1808-2000. O primeiro fenómeno relacionava-se com o acesso à terra que era de pequena dimensão e que não se coadunava com famílias numerosas. Por essa razão, a emigração foi maior no Minho, onde as condições de vida até eram melhores e a esperança de vida maior que no restante território, fruto de uma alimentação mais completa e diversificada. Os jovens saíam dessa região porque a terra que os pais cultivavam era tão pequena que não podia ser dividida por tantos filhos. A emigração foi uma forma de controlo da natalidade e de manutenção da indivisibilidade da terra. A segunda razão que explica as saídas para fora do país foi Portugal não assistido a uma revolução industrial digna desse nome capaz de dar às cidades o atractivo de uma vida melhor.

A emigração era uma consequência do subdesenvolvimento do país. Situação que não se ultrapassou devido à falta de investimento na educação, na medida em que a economia portuguesa não tinha necessidade, nem capacidade, para empregar um acréscimo de cidadãos instruídos. Já na altura, a falta de capital era crónica e ditava os seus termos. Depois de um interregno nos anos 30 e 40 do século XX, a emigração voltou a crescer na década de 50 e 60. A primeira razão manteve-se: um aumento populacional que a economia não conseguia absorver. As cidades não se industrializaram o suficiente e o sector terciário residia no Estado, nas poucas empresas com relações políticas com o Estado ou, na sua maioria, em pequenos estabelecimentos comerciais. O segundo motivo para a emigração na década de 60 foi a guerra colonial que levou dezenas de milhares de jovens daqui para fora.

Hoje em dia, a população não aumenta nem há guerra. Nesse caso, por que razão os portugueses se vão embora? E a explicação é simples: baixos salários. Em Portugal paga-se mal tendo em conta as qualificações técnicas dos portugueses. Realidade que se agrava quando comparado com o que se paga por essa Europa fora pelos mesmos trabalhos e as mesmas qualificações. Se assim é, cabe perguntar por que se paga mal em Portugal? E a resposta é a mesma há décadas: porque não há capital. Ora, apenas com capital há investimento e só com investimento é que a produtividade aumenta. A produtividade não é trabalhar mais. Pode até significar trabalhar menos horas, menos dias porque se produz mais nas horas e nos dias em que se trabalha. Mas para que isso aconteça é necessário investir. Em tecnologia, em inovação, em novos métodos de trabalho. É indispensável aumentar a eficiência.

Infelizmente, não foi o que se fez e perdemos o desafio europeu. Aquele que nos anos 80 nos garantiram que colocaria Portugal no topo da Europa. Investiu-se na educação e construíram-se estradas, mas o receio de investimento, seja este nacional ou estrangeiro e independente do poder político, nunca deixou de melindrar a classe política. A transformação de Portugal num país europeu próspero falhou por razões ideológicas. Desejou-se a Democracia, a Descolonização e o Desenvolvimento. Investiu-se na educação, mas não numa economia capaz de a aproveitar. Isso requeria o fim de certos preconceitos que não se largaram. Assim, ficámos com a Estagnação, o Empobrecimento e a Emigração. Nada acontece por acaso.

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