Sair do PSD não é uma boa ideia. Já o disse a Pedro Santana Lopes com quem tive o gosto de conversar na passada semana sobre o seu novo projecto político. E digo-o publicamente para clarificar. A nossa aliança foi apenas dentro do PSD. Aceitei coordenar o seu programa de candidatura nas directas por ele ter manifestado um desejo de novas caras, novas ideias e novos desafios no partido, não fora dele. Rio não simbolizava isso como se viu, (nem representa hoje como se vê). E foi com um conjunto de quadros que rapidamente pusemos de pé várias medidas, agrupadas coerentemente em três grandes eixos, que designámos por “Portugal em Ideias”. Foram conteúdos que entregámos a PSL e sobretudo ao partido. O que esta direcção do PSD fez com isso até hoje ainda não percebi. Mas imaginem o que seria fazê-lo num processo mais aberto? Activando mecanismos de participação pública? Criando mais amadurecimento e trazendo ainda mais conhecimento especializado? Isto tudo se imporia necessariamente na construção de um programa de Governo pois havia tempo e massa crítica para tal.

Enquanto Pedro Santana Lopes resolveu, unilateralmente, sair, Rio limita-se a ensaiar uma nova maneira de fazer as coisas acreditando que basta esse restyle para fazer regressar eleitores ao PSD.

Quis o resultado dessas directas que fosse Rui Rio a comandar o PSD. Meses depois temos uma cisão de um antigo presidente euma liderança, sem oposição que atrapalhe, mas que tarda a relançar o partido. Enquanto Pedro Santana Lopes resolveu, unilateralmente, sair, Rio limita-se a ensaiar uma nova maneira de fazer as coisas acreditando que basta esse restyle para fazer regressar eleitores ao PSD.

Engana-se. O seu élan é um bom activo mas peca por defeito e por escassez num mundo de maior exigência por conteúdos, ideias novas e novas soluções. É preciso um pensamento sistémico que organize, se quisermos, uma obsessão de novo tipo, depois de anos de foco no controlo do défice. Se o país precisa de uma nova obsessão então que seja à volta de metas ambiciosas de criação de riqueza. Porque temos que nos contentar com 3% do PIB? Porque não podemos criar caminhos para metas maiores?

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Para tal acontecer é preciso mudar muita coisa: erradicar uma carga burocrática monstruosa, mudar uma administração pública paralisante e ganhar uma mentalidade nos policy makers que ponha um maior crescimento do PIB como algo sagrado! É preciso isso para a seguir construirmos políticas sociais mais sólidas ou para pensarmos o território e a sua coesão. Nunca acreditei em políticos que falam, falam e falam sobre áreas sociais sem demonstrar primeiro como se aumenta a riqueza ou que falam em descentralização sem construir antes um modelo de desenvolvimento.

Portugal merece mais do que uma nova maneira de fazer política assente exclusivamente na personalidade de um líder partidário. Isso seria um retrocesso cripto-autoritário, próprio de ambientes caudilhistas, puramente emocionais. O PSD nunca será governo só porque o seu líder faz a sua comunicação de um modo diferente. Isso é pouco. Com quase 9 meses de liderança o país ainda não percepcionou quais os novos caminhos alternativos indicados por Rio. Pouco me importa se vai um mês de férias ou não reage quando o território está em chamas e quer respeitar contextos de tragédia. Respeito essemodus faciendimas precisamos mais do que soundbytesou de uma oposição presa na espuma dos dias. Há problemas estruturais para serem resolvidos e o tempo desta rentrée e de um novo orçamento é um bom momento para se iniciar este caminho, lançando novas metas para Portugal. O PSD mostrou no passado recente que sabe salvar o país, hoje precisa de mostrar que tem uma estratégia global de futuro e de esperança para os Portugueses.

A importância social do PSD e a sua responsabilidade histórica condicionará sempre as eventuais alterações no sistema de representação partidária. Por ironia, o sucesso de Pedro Santana Lopes resultará da incapacidade do PSD, mas a nossa grande oportunidade será a de conseguir mostrar que para voltar ao governo somos mais apelativos e também mais dinâmicos a identificar e a batermo-nos pelas grandes soluções para Portugal. Outra ironia será ter Pedro Santana Lopes e a sua “Aliança” a tudo fazerem para no final viabilizarem um governo de… Rio, a fundar uma geringonça de direita e a ajudar o PSD. Esta é a verdadeira quadratura do círculo na vida política de Pedro Santana Lopes.

Mais do que nunca uma certa ideia de aproximação ao PS poderá abrir brechas difíceis de fechar. Tal como defendemos nas directas que o PSD não poderá ser uma futura muleta do PS ou uma espécie de PS-B

Da minha parte, como militante, continuarei a acreditar que o PSD quando quer é já uma verdadeira Aliança que sabe atrair eleitores da esquerda, do centro e da direita e que esta Aliança de PSL em boa medida poderá ter a tentação de ser uma reinterpretação do PSD, um “outro PSD”, no limite espreitando por dissidências de militantes a parlamentares. Este jogo poderá ter contornos inéditos apesar de uma certa dimensão cisionista do PSD. No xadrez não basta combater o PS é preciso estar atento ao interior do partido e à mobilidade dos eleitores no bloco do centro-direita. Este arranque unilateral e mais individual de PSL não poderá fazer descansar o PSD que mais do que nunca nos últimos 20 anos estará posto à prova.

Mais do que nunca uma certa ideia de aproximação ao PS poderá abrir brechas difíceis de fechar. Tal como defendemos nas directas que o PSD não poderá ser uma futura muleta do PS ou uma espécie de PS-B, agora o momento é também o de impedir que a Aliança venha a ser uma “parte do PSD” o que só aconteceria por erros e cegueira interna. O tempo agora não é o de atacar companheiros empurrando-os para a saída. O tempo é o de segurar, de unir e de fortalecer. Os 46% do PSD de Pedro Santana Lopes não desapareceram subitamente e continuam hoje a ser uma comunidade de eleitores exigentes e esperançosos, de incríveis autarcas e dirigentes que acreditam que este partido histórico tem muito futuro. Todos ficaram mas esperam muito mais do nosso PSD. A vida politica e o sucesso de Rio também passa por compreender isto.

Militante do PSD, antigo presidente da Câmara das Óbidos, coordenou o programa às directas de Pedro Santana Lopes