Ao longo de mais de três décadas de experiência a apoiar organizações na escolha das melhores lideranças, tive o privilégio de testemunhar o impacto que as responsabilidades destes cargos exercem nos indivíduos que as assumem.

Falo e acompanho centenas dos mais destacados executivos e posso afirmar com absoluta certeza que o grau de pressão e exigência que um gestor enfrenta todos os dias é comparável aos mais difíceis e exigentes ambientes desportivos de alta competição. O stresse e pressão a que os executivos estão sujeitos são diários e não podem continuar a ser ignorados.

Quando observamos a rotina de um atleta de alta competição, é comum notar que ele é acompanhado por uma equipe multidisciplinar. Além do preparador físico, tem um coach mental, um nutricionista, um fisioterapeuta, um médico e outros especialistas, às vezes até mesmo um advogado, um consultor financeiro e um profissional de imagem e comunicação

É natural pensar que um atleta de alta competição precisa de um apoio profissional constante, que lhe permita ter desempenhos ao mais alto nível, desenvolvendo todo o seu potencial.

O que é estranho é que poucos compreendam que um gestor de topo, que todos os dias tem nas suas mãos o futuro de uma empresa, de inúmeros colaboradores e respetivas famílias, é também ele um “atleta de alta competição”, de quem se espera que todos os dias tenha uma elevada performance e ao mais alto nível. A responsabilidade que carrega não fica atrás da que é suportada pelos maiores atletas de alta competição. Será uma boa ideia que a assuma sem apoio?

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Falemos de liderança ou não, as empresas devem ser alvo de um reforço significativo das políticas de saúde mental. Trata-se, simultaneamente, de um imperativo moral e de um investimento económico para o País.

Em Portugal, a Ordem dos Psicólogos afirma que 2 em cada 10 trabalhadores sofrem de problemas psicológicos. Eu atrevo-me a afirmar que, quando se fala de cargos de Alta Direção, esta percentagem sobe de forma bem mais significativa.

A Ordem dos Psicólogos estima que os custos com problemas de saúde mental ascendem a 6.580 milhões de euros (3,7% do PIB), correspondendo 2.048 a custos diretos com cuidados de saúde, 1.652 milhões a custos com benefícios sociais e 2.880 milhões a custos indiretos no mercado de trabalho. No total, a perda de produtividade causada por eles pode custar às empresas perto de 329 milhões de euros por ano.

Investir na saúde mental é mais do que uma estratégia economicamente sensata, é um imperativo moral.

Sabemos que os custos associados aos problemas da saúde mental são consideráveis, impactam trabalhadores, resultados empresariais e a economia nacional. Por tudo isso, temos de investir em ambientes de trabalho saudáveis, com intervenções estruturadas e consistentes, e começar por não ter reservas em aceitar que qualquer executivo precisa de, pelo menos, um coach. Só assim poderemos reduzir o impacto que a pressão e o stress estão a provocar nas mulheres e nos homens que, qual atletas de alta competição, investem toda a sua energia e empenho no crescimento económico deste País.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

Uma parceria com:

Fundação Luso-Americana Para o Desenvolvimento Hospital da Luz

Com a colaboração de:

Ordem dos Médicos Ordem dos Psicólogos