Recentemente, soube-se pelos media que a OMS reuniu numa visita de trabalho com o secretário de Estado da Saúde e a Direção-Geral de Saúde, (numa altura em que cada vez mais se começa a falar do covid, novamente) para discutir formas e preceitos de mobilização num dos mais importantes sectores da sociedade que consegue impactar de uma forma directa, sem paralelo em quase nenhum outro, duas dimensões do ser humano, a vida e a morte.

Esta visita técnica para discutir procedimentos internacionais transversais nas várias dimensões, desde as prescrições aos tratamentos, passando pela gestão pública e quiçá orçamental, caso ocorra uma nova situação de crise pandémica, é sem dúvida uma forma de gerir e conduzir de forma remota (através de uma arrogante noção de confiança e autoridade anteriormente experimentada com a troika no campo económico) uma realidade que é complexa e que tem naturalmente as suas especificidades ou até mesmo as suas idiossincrasias, derivadas quer da cultura quer da demografia, quer da economia, que serão diametralmente opostas às de outras geografias existentes em outras regiões.

Querer, portanto, uniformizar uma resposta ignorando soberanias políticas fronteiriças e até ideologias configura no limite um enorme autoritarismo. Plasmar uma solução instantânea e transversal a todos os países, revestida de uma aura de boas intenções, será extremamente perigoso e como tal é preciso estar alerta ao que irá discutir-se, em primeiro lugar, bem como dar notícia dos tópicos para a opinião pública, em segundo lugar – qual o grau de comprometimento das autoridades de saúde portuguesas para com essas medidas, sugestões ou (im)posições naturalmente revestidas de um suposto argumento científico que, normalmente, acompanha estas “incursões”.

Estas perguntas tornam-se incontornáveis uma vez que nenhum de nós elege nem a política de saúde, que arrogantemente se tenta impor através destas visitas, esquecendo as já referidas diferenças existentes entre cada país e continente, nem os atores e a tecnocracia que impõem essas mesmas políticas que poderão ir em contraciclo não apenas com o interesse individual de cada cidadão, mas também com o superior interesse público e nacional.

Estejamos assim atentos a toda e qualquer tentativa de (in)gerência externa na nossa vida e no nosso quotidiano, por mais benigna, ou carregada de boas intenções, que possa aparentar.

A saúde e a democracia são componentes inalienáveis e indissociáveis do exercício da liberdade e não podem ser concessionadas ou suspendidas sob hipótese alguma.

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