Depois dos sucessivos escândalos de nepotismo e outros tais em que o Governo de António Costa andou enredado na primeira legislatura eis que surgem agora algumas suspeitas legítimas em parte pela contratação milionária (ainda que a uma escala de valores bem mais reduzida), na época de Verão, do craque da comunicação Sérgio Figueiredo, para usar uma metáfora futebolística bem conhecida.

Para perceber os contornos da atual decisão é necessário remontar à época em que o mesmo quase substituiu Gonçalo Reis, sendo a sua nomeação analisada pelo primeiro-ministro, que, como todos sabem, tem um profundo conhecimento de teoria e prática dos media, para aferir o que quer que seja sobre um currículo desta natureza.

Parece então que a nomeação do anterior director Sérgio Figueiredo, já felizmente contestada por inúmeras pessoas que começam a revelar uma certa maturidade democrática, ainda que paulatina e tímida, foi, ao que tudo indica, um prémio de consolação pelo facto de António Costa ter preterido à época este profissional, com vasto currículo nos media portugueses, para conduzir os destinos da RTP, optando pelo atual diretor.

No entanto este acontecimento, que passou incólume e sobre o qual está a ser lançada uma cortina de fumo e fait divers, deveria ser visto por todos os que agora discutem um ponto que não é essencial, o de que um cargo com a relevância como o é o de diretor de informação de um grupo de media, quer público, quer privado, não deveria ser, sob espécie alguma, equiparado a uma confiança política, muito menos ter uma interferência assumida por parte do primeiro-ministro, ou de qualquer outro membro do governo, na sua nomeação. Se assim é devemos então questionar o porquê de tal intromissão, dado que não só todos os contribuintes pagam a existência deste meio e dos seus recursos, quer humanos, quer técnicos, através de um encapotado imposto anacrónico a que se dá o nome de Contribuição Audiovisual CAV na factura da energia, mesmo aqueles que não têm televisâo, devendo assim ser devidamente informados das razões e ulteriores motivos que levam a essa decisão, mas também porque são precisamente estes órgãos (vitais) que animam e permitem que “o coração” da democracia continue a bater com fulgor e vitalidade, devendo pugnar por ficarem livres de qualquer agente externo hostil à sua preservação, leia-se governo e seus derivados.

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Por isso é com tremenda preocupação que se verifica que um profissional da comunicação, que tem tido ao longo destes anos um papel importante senão mesmo preponderante na seleção dos conteúdos, ainda que de um canal privado, tendo a capacidade de influenciar no todo ou em parte e decidir sobre certos e determinados aspectos, (escudando-se em critérios editoriais) quer as pessoas que sâo enaltecidas, quer os factos que são noticiados, ou de dar menor ou maior destaque/relevância a determinada posição ou acontecimentos (já nem falo da nomeação de comentador para o canal ao atual contratante), ainda que apenas num universo restrito e delimitado que é o canal de televisão com o qual interage e administra, ser agora nomeado para uma pasta governamental como consultor do Ministério das Finanças e do seu ministro que, a julgar pelas últimas notícias, já se relacionavam.

Pondo de lado o facto de ir ganhar mais ou menos o mesmo que o primeiro Ministro, volto a dizer que não está em causa nem a remuneração nem a qualidade do profissional em si, mas apenas e tão só a relação estreita que parece haver entre o agora nomeado ex-diretor de informação e o poder, nomeadamente do atual ministro das Finanças que deveria ser acompanhado e escrutinado, sob pena de termos uma situação idêntica àquilo que estava a acontecer no passado, quer em Portugal quer na itália de Berlusconi, com as sucessívas tentativas de aquisição dos media, exemplos que são reveladores da incursôes sempre reformuladas de controlar e dominar os media, sem surpresas uma vez que estes permitem não apenas formar opinião como também selecionar qual o ponto de vista sobre o qual determinado assunto deva ser olhado e entendido, qualquer que seja o ângulo a que se está a observar.

Quanto ao assunto em apreço, por mais que continue a olhar, a conclusão é uma e uma só e cabe ao leitor discernir e retirar as ilações do que aqui foi exposto. O certo é que, por onde olhe, estas televisões e seus canais estão com demasiadas interferências para o meu gosto.