Uns atiram sopa de tomate aos Girassóis de Van Gogh num museu em Londres.1 Outros, um bolo cremoso contra a Mona Lisa em Paris. Terceiros, laçam tinta preta à Morte e Vida de Klimt no Leopold Museum. Para quê? Parece que para protestar contra as mudanças climáticas e o uso dos combustíveis fosseis. Se para salvar o clima for condição suficiente danificar ou destruir obras primas do génio humano, seja nas belas artes, arquitetura ou literatura, então “prá merdⒶ” 2,3 com o clima.

Porquê? Porque o bem4 nunca justifica o mal5. Nunca, e em nenhuma situação, é legítimo fazer o mal, por menor que seja, para obter o bem, por maior que pareça. Do desprezo deste princípio, simples e universal, resultaram as maiores atrocidades cometidas por bolcheviques, nacional-socialistas e revolucionários diversos. E não só por revolucionários, mas também por sóbrios profissionais e empresários, e por políticos & ativistas embriagados, que se deixam apaixonar de tal modo por uma causa que passam a encarar mentiras e roubos, assassínios e outras violências & enormidades como males menores, algo que “se for preciso fazer, faz-se”. E, infelizmente, não apenas por aqueles, mas também por todos estes que somos quase todos nós na nossa corriqueira vida diária.

Mas danificar obras de arte não é condição suficiente, nem sequer necessária no combate às alterações climáticas. Nenhum ataque, seja em que museu for, contribuirá diretamente para diminuir, nem infinitesimalmente, o aquecimento global. No entanto, não será que, chamado a atenção para o problema, estas ações não terão indiretamente um efeito positivo? Claro que não: todos os que temos ou manejamos um implemento movível a energia de origem fóssil, inclusive um telemóvel, já tomámos conhecimento da gravidade da situação. O problema não está na falta de conhecimento. Quanto muito estará na falta de vontade.

E será que se alteram vontades para algo de bom fazendo o mau, o desprezível e o abominável? É evidente que não. Quantos é que, ao tomar conhecimento da sopa de tomate nos Girassóis, não mandam “prà merdⒶ” não só os ativistas, mas também a sua causa? Se os ativistas climáticos quisessem ajudar a alterar vontades teriam de fazer não algo de espetacularmente mau, mas algo de fantasticamente bom, que servisse de exemplo a todos aqueles que já conhecendo o problema, têm as suas vontades focadas em quereres pessoalmente mais prementes &, pelo menos subjetivamente, mais importantes.

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É evidente que fazer algo de bom de forma espetacular é um poucochinho mais difícil que fazer uma barbaridade mediática. Mas enquanto os ativistas climáticos focarem a sua militância em ações infantis & nocivas, mais não farão que semear dúvidas sobre a bondade da sua causa. Estão a ser, assim, uma das principais causas do aquecimento global.

U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue coumu qver & lhe apetece. #EncuantoNusDeixam

  1. A sopa de tomate é da Heinz, como o demonstra a pose publicitária dos dois ativistas, que tiveram o cuidado de segurar a lata de onde o pruduto saíra de modo a mostrar, em todas as suas poses, u rótulo corretamente voltado para as objetivas das máquinas fotográficas da numerosa comitiva de jornalistas convidados para o evento. Pudera: “good for the planet is good for business”.
  2. Prá merda: expressão eufemística de origem popular usada frequentemente em estados laicos para evitar ferir a suscetibilidade religiosa de incréus que não aceitam sem ofensa menção do diabo & inferno.
  3. Merd: expressão anarca para subproduto da digestão humana; (informal) caca; (infantil) cocó; (médico) fezes, matéria fecal; (castiço) enfado, excremento; (popular) merda; (chines) fèn 糞.
  4. Bom: aquilo que deve ser desejado, mas costuma ser deixado intocado; o que é querido pelas pessoas mas que não é fornecido, nem promovido, pelo guverno; espécie que, segundo a segunda lei de Gresham, é expulsa pela presença da que é má; qualidade do que, segundo a terceira lei de Paulo de Tarso, deve ser usado para vencer o mal (Rom 12, 21).
  5. Mal: o melhor que os filhos de Eva conseguem fazer deixados a si próprios; exemplos clássicos são: olhos altivos, língua mentirosa, e mãos que derramam sangue inocente, o coração que maquina pensamentos viciosos, pés que se apressam a correr para o perverso, testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos (Prov 6, 17-19).