Em 1695 surgiu em Londres um panfleto antimaçónico que fazia a pergunta da primeira parte do título: Se é para fazer o bem por que se escondem?

É uma pergunta legítima.

A resposta está no Evangelho, que formou as bases da nossa civilização europeia, que aboliu a pena de morte e a escravatura, que dá direitos idênticos a todos e protege os mais fracos – coisa única na história da humanidade.

No final do sermão da Montanha (Mateus 7), Jesus diz: «Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.»

Toda a teoria da conspiração acerca da Maçonaria se baseia em dois livros do final do século XVIII (um de um escocês e outro de um francês), que pretendem mostrar que a Maçonaria foi responsável pela Revolução Francesa de 1789 e que o seu objetivo seria derrubar as monarquias e a Igreja.

Todavia, o destacado parlamentar J.J. Mounier, que não era maçon, escreveu, num livro de 1801, que essa teoria conspirativa era impossível, porque tinha visto os maçons (que eram um grupo significativo na assembleia nacional francesa) votarem cada um para o seu lado, segundo as suas opiniões ou convicções.

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Aliás, a revolução francesa destruiu quase completamente a Maçonaria: o Grão-Mestre Adjunto, o Duque de Montmorency-Luxembourg fugiu para Lisboa, onde morreu, e uma filha sua casou com o Duque de Cadaval.

É verdade que alguns grupos subversivos, como os Iluminados da Baviera, tentarem usar a Maçonaria para se cobrirem de respeitabilidade, mas foram rechaçados.

É verdade que a Carbonária Portuguesa conseguiu fazer alguns dos seus membros entrarem na Maçonaria para protegerem as suas atividades e que o Grande Oriente Lusitano Unido de 1910 não fez nada para o impedir.

É verdade os negócios da P2 em Itália, mas também é verdade que foi o Grão-Mestre que entregou a lista dos membros da P2 às autoridades.

É verdade que ainda hoje há maçons que pensam que a Maçonaria fez a República, o que é falso, pois foi obra da Carbonária; ou a Monarquia Constitucional, o que também é falso, como o mostra o historiador Fernando Marques da Costa no seu livro A Maçonaria entre a forca e o cacete, entre o mito e a realidade – 1807-1834.

Há ainda o segredo: o primeiro livro acerca da Maçonaria foi publicado em Londres, em 1722, e a divulgação do primeiro ritual foi feita em Londres, em 1724.

Querem saber os nomes das pessoas? Se a lei fosse aprovada, iriam ter uma enorme deceção, pois há pouquíssimos deputados maçons e são geralmente de terceira e quarta filas (na nossa Assembleia, as primeiras filas são dos que têm o poder partidário e as últimas dos que o tiveram).

O PAN, com a sua génese num conjunto de budistas da via Mahayana, devia saber que há coisas que se forem divulgadas podem provocar o mal, podem fazer mal a certas pessoas – no caso da Maçonaria, podem levar a que certas pessoas a usem mal (isto é, para proveito material próprio).

Quanto ao PSD, cujo primeiro presidente, Nuno Rodrigues dos Santos, foi maçon, é, como diz um amigo meu não maçon que foi membro da Comissão Política Nacional durante largos anos, este é o partido que mais se parece com a Maçonaria: cada um diz o que pensa (ou o que pensa que pensa) e faz o que lhe apetece.

Há dois tipos de pessoas que detestam a Maçonaria: os que, por limitação intelectual ou por viverem afastados da realidade, acreditam em teorias de conspiração, os que, por serem brilhantes e conhecedores, detestam o que não conseguem compreender e os que gostariam de ter entrado para a maçonaria, mas não tiveram essa sorte.

Mas para que serviria saber que N deputados ou que os deputados A, B, C são maçons? Votariam do mesmo modo? Proporiam as mesmas leis? Os deputados têm realmente algum poder? E os membros dos governos, será mais grave serem maçons ou nomearem para os seus gabinetes e estruturas do Estado inexperientes e insensatos das juventudes partidárias?

Sou maçon há 33 anos, desde os 27, e foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Por ser maçon passei a exigir-me mais na minha relação com os outros e comigo.

Já fui protegido por irmãos quando me quiseram despedir e já fui despedido por um maçon, que me tinha convidado para um posto de direção muito bem pago na empresa que dirigia – posto que foi para o filho de outro administrador.

A Maçonaria não tem doutrina, ensina através da prática do ritual.

A Maçonaria não é uma organização, é um conjunto de pequenos grupos semi-independentes.

A Maçonaria não tem como finalidade colocar pessoas em lugares para exercer um poder oculto – só quem desconhece os mecanismos do poder, o fator do acaso nas decisões do poder em Portugal ou no mundo e a própria natureza humana, pode pensar que um grupo grande de homens se ponha de acordo para qualquer coisa que envolva poder.

A Maçonaria não quer melhorar o mundo, apenas quer melhorar moral e espiritualmente cada pessoa – tarefa imensa e mais difícil do que a dos que querem melhorar o mundo a poder de leis. Age sobre a natureza humana, mostrando-a ao próprio, e cria um ambiente na loja que o leva a querer melhorar-se.

Há alguns maus maçons que procuram usar as lojas, a rede que existe entre elas e a fraternidade que une os maçons para subir na vida? Há, mas são normalmente mal vistos e a maior parte deles não consegue os seus objetivos.

Ao longo dos meus 33 anos de maçon vi muita gente tentar entrar na Maçonaria para isto, vi muitas lojas receber pessoas destas, vi a quase generalidade ir-se embora.

Muitos procuram a Maçonaria pelo que os seus inimigos dizem dela e desiludem-se quase sempre. Então, ou encontram a beleza do ritual, a calma de uma sessão, a liberdade de se dizer o que se pensa sem recear consequências, o calor da relação de irmãos que os faz ficar, ou saem.

Todos os meus amigos souberam sempre que sou maçon e a generalidade dos meus colegas também o percebeu. Quase sempre que me perguntaram, confirmei.

Finalmente, como diz a minha mulher, que conhece quase todos os maçons com que me tenho dado ao longo dos anos, que esteve com eles em numerosas ocasiões sociais, nunca encontrou um tão grande grupo de pessoas empenhadas no Bem.