2017 não pode voltar a acontecer.

O país voltou este ano a ser fortemente fustigado pelos incêndios florestais, agora designados como incêndios rurais, com uma área ardida que já ultrapassou os 105 mil hectares, entre terrenos florestais, matos e agrícolas.

Pela dimensão da área ardida e os prejuízos ambientais infligidos, e com o negativo condão de poder afetar o turismo de toda aquela região, e como tal a sua economia, pelo menos no imediato, o incêndio na Serra da Estrela entra nitidamente para o patamar cimeiro dos incêndios de 2022.

O Governo, logo após a extinção da ocorrência, começou a desenvolver diversos mecanismos de avaliação de prejuízos, envolvendo diversos Ministérios, importante para o médio prazo e para a vertente da recuperação. Realçando-se a preocupação que existiu, tal como no passado, de envolver os Autarcas, pedra central destes processos e que devem ser atores privilegiados no processo de recuperação da paisagem.

O Parque Natural da Serra da Estrela constituía-se como a maior área protegida portuguesa, possuindo um plano de ordenamento, aprovado pelo Estado, tal como as restantes áreas protegidas, embora nem sempre se encontrem adaptados à realidade dos tempos ou às necessidades das populações e dos seus territórios.

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Chegados a setembro, muito mais do que perspetivar os processos de recuperação para a área ardida, e cuja execução irá durar muitos anos, importa, no imediato e com carater urgente, a proteção da qualidade da água, uma vez que a Serra da Estrela constitui uma das principais fontes de abastecimento de água a uma boa parte da população nacional.

Por esse motivo, impedir a contaminação da água, com uma intervenção urgente para proteger as bacias hidrográficas dos rios Zêzere e Mondego, evitando que as bacias do vale do Tejo e do baixo Mondego possam ser afetadas, deve constituir-se, como diria alguém que muito admiro, “a prioridade das prioridades”.

Para tal, e como primeiro passo, devem ser desencadeadas, e já, ações de estabilização de emergência nos terrenos que colocam maior risco para a qualidade da água, adotando-se medidas para o controlo de erosão, tratamento e proteção das encostas através de ações como o corte e processamento de resíduos, a instalação de barreiras de resíduos florestais, usando nomeadamente troncos e barreiras naturais.

Não tendo sido possível salvar a paisagem florestal, importa agora e mais do que nunca, preservar os recursos hídricos, cada vez mais escassos.

E esta ação, para ser concretizada, deve ser da responsabilidade do Estado, nomeadamente do ICNF e da APA, em estreita colaboração com as Autarquias, devendo ser-lhes disponibilizados os meios financeiros adequados, permitindo uma intervenção eficiente, para que possa ser efetuada a proteção dos solos da erosão e impedir a contaminação das linhas de água.

Haverá tempo para ponderar um plano para a revitalização do Parque, bem como, e em especial, para o restauro dos habitats, prosseguindo-se os objetivos das Nações Unidas que declararam, para esta década, esse objetivo. Mas, essa é outra fase de todo um longo processo de recuperação.

Por agora, e uma vez que o país não se pode permitir a dois desastres na Serra da Estrela, tudo deve ser feito para que evitemos o segundo.