1. Na véspera das eleições para o Parlamento Europeu, Matteo Salvini reuniu, em Milão, os partidos populistas nacionalistas da extrema-direita que querem destruir, por dentro, o projeto de paz, democracia e desenvolvimento da União Europeia. Une-os um nacionalismo radical, xenófobo, que mobiliza os medos da globalização e elege os imigrantes como bode expiatório, culpando-os de todos os males que afetam os europeus, da crise do estado social ao desemprego estrutural. Se Salvini for bem-sucedido, o próximo Parlamento Europeu contará com um novo grande partido de extrema-direita que, receia-se, tentará fechar a Europa, impulsionar a sua agenda através das instituições europeias e difundir a mensagem nacionalista com mais eficácia.

2. Não há, porém, qualquer sondagem que atribua à extrema-direita, mesmo que completamente unida em torno de Salvini, o estatuto de partido maioritário no Parlamento Europeu. Será provavelmente, o que já é muito, o terceiro partido, depois do Partido Popular Europeu (PPE) e do Partido dos Socialistas Europeus (PES). Por isso, qualquer deriva nacionalista, xenófoba, autoritária da União Europeia só será possível com a colaboração de outros partidos que, com a ilusão se assim recuperarem eleitores, sucumbam às ideias e propostas da extrema-direita. A hora é, pois, de responsabilidade acrescida para os partidos democráticos europeus, em especial os mais poderosos. Não é adotando as ideias da extrema-direita que se consegue que esta seja contida.

3. O passado recente de muitos dos partidos filiados no PPE é, a este respeito, pouco tranquilizador. Na Áustria, o Partido Popular Austríaco (ÖVP), de Sebastian Kurz, filiado no PPE, fez, em 2017, uma aliança de governo com o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), da extrema-direita. Mais a Norte, o Partido dos (Verdadeiros) Finlandeses, da extrema-direita, integrou, em 2015, um governo de coligação liderado pelo Partido do Centro com a participação do Partido da Coligação Nacional (filiado no PPE). A sul, mais perto de nós, o Vox participa no Governo da Andaluzia liderado pelo Partido Popular espanhol e que integra, ainda, o Ciudadanos, numa aliança que vai do centro-direita à extrema-direita. Entre nós, o cabeça de lista do CDS proclama a sua convergência com o Vox espanhol. Por tudo isto, o voto nos partidos do PPE não é um voto responsável, útil, contra a extrema-direita.

4. Só o voto nos socialistas europeus é, hoje, um voto seguro para prosseguir o projeto da União Europeia, travar a influência da extrema-direita e inviabilizar a tentação para a realização de pactos com o diabo por parte do PPE. Antes de mais, porque só a agenda do socialismo democrático, de regulação do capitalismo e da globalização, de compatibilização entre crescimento económico e justiça social permitirá, a prazo, a afirmação de uma alternativa vencedora no confronto com a extrema-direita. Já as políticas neoliberais e austeritárias da direita e do centro-direita fazem parte do problema, não da solução. Elas foram, na realidade, um dos principais promotores dos fenómenos de exclusão, de empobrecimento e de crescimento das desigualdades que criaram terreno fértil para o sucesso crescente das ideias de fechamento nacionalista xenófobo da extrema-direita.

5. Afirmar, com entusiasmo, sem meias palavras, a agenda socialista na Europa e recusar com clareza as políticas neoliberais e austeritárias é o melhor remédio para contrariar a doença populista nacionalista da extrema-direita que ameaça infetar o continente. Em torno da afirmação da agenda socialista, social-democrata e trabalhista será útil e possível reunir o conjunto das forças progressistas europeias e construir uma aliança que, no imediato, trave o caminho da convergência dos partidos da extrema-direita, sozinhos ou em coligação mais afirmada ou mais envergonhada com outros partidos da direita.

6. Em Portugal, a concretização destes objetivos passa, necessariamente, pelo voto no Partido Socialista, o voto responsável e eficaz a favor da União Europeia e contra a extrema-direita.

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