Coaching é treino. Treino permite-nos, pela repetição e experimentação, passar do estádio A para o estádio B. Ou melhor, permite-nos aperfeiçoamento.

Coaching é a utilização das perguntas certas, do aproveitamento dos pontos fortes e mitigação dos fracos, da alavancagem das oportunidades (isto não é mais que a básica SWOT), é a repetição, com resposta, do why, when, where,…, how, naquilo que não é mais que o básico 5W2H. E é a partilha, a promoção de momentos de partilha, é o reconhecimento, é a facilitação, é a reflexão conjunta, é o apoio à decisão, é a orientação. Onde o conhecimento dos vários vieses interpretativos e de decisão é fundamental. E não será muito mais que isto. Desenvolve-se em ambiente profissional, executivo e dificilmente familiar porquanto no contexto familiar se colocam questões de outra génese e que devem merecer aconselhamento apenas por quem tem formação em saúde.

Há certificações em coaching? Sim. E há muitos profissionais que fazem certificações de coaching. Alguma coisa contra? Nada. Mas a certificação é uma certificação sobre utilização de ferramentas e tem uma linha vermelha quando possa querer passar para o lado da saúde. Ponto. Os profissionais de coaching não são profissionais de saúde. Os profissionais de saúde podem, quando com a especialidade correta, ser profissionais de coaching. E pode-se fazer coaching sem qualquer certificação. Ponto, também.

Chegam-me mais e mais alunos e chegam-me mais e mais pessoas a dizer que fizeram uma certificação em coaching e, portanto, agora vão ser coachs. Fico perplexo, para não dizer pior. Normalmente nem avanço no meu raciocínio pois quero crer que o mercado se encarregará de fazer a depuração de quem deve estar e quem não deve estar como coach. Há, igualmente, grandes engodos no meio disto tudo e eles são essencialmente três.

O primeiro dos grandes engodos é que para ser coach é necessária uma certificação. Nada mais errado. Os melhores profissionais de coaching que conheço não são sequer certificados. Têm é uma enorme experiência profissional, foram confrontados na sua vida com a liderança de equipas largas, estiveram expostos a ambientes internacionais, foram decisores frequentes, assumiram grandes responsabilidades, decidiram muitas vezes de forma autónoma. E conseguem uma empatia rápida com quem têm pela frente. São geradores de confiança, assertivos e pragmáticos.

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O segundo dos grandes engodos é que o coaching anda na esfera – ou próximo – da saúde. Não, coaching não é saúde. Não é psicoterapia, nem pode ser porquanto os profissionais de coaching – a menos que com formação em saúde – não têm esses conhecimentos.

Finalmente, e para resumir, coaching não tem um só pingo de cientificidade. São instrumentos e ferramentas. Outro ponto. Não há base empírica suficiente para formular que teoria seja. Não há regras básicas para produção de conhecimento científico. Não há estudos. Não há publicação nem teoria científica em coaching.

O que pretendo com isto? Muito cuidado na escolha do coach, se o escolherem. Muito cuidado com a pseudo-cientificidade do coaching. Não é científico. E muito cuidado quando alguém vos quer tratar da saúde e mistura tudo. O coaching não é nada disso. E quem o diga está profundamente errado. A pagar por coaching deve-se escrutinar, minha opinião, o curricula e a experiência do coach e depois verificar da sua empatia para com o coachee e do impacto criado. Pouco mais.

Num mundo onde finalmente se descobriu a saúde mental deve ter-se todo o cuidado com as confusões. Os coachs não tratam de saúde mental. Parágrafo.

A única forma de perceber porque existem tantos coachs no mercado é porque as pessoas, ao fazerem formação e/ou certificação, poderão estar mais preparadas para melhor se conhecerem, auto-conhecimento, para repetirem para si mesmas questões chave, para conseguirem ir mais além de forma autónoma e independente, utilizando elas mesmas as ferramentas do coaching. De resto, não acredito em alguém que faça coaching que não tenha liderado equipas, que não tenha tido responsabilidades grandes, que não tenha sido exposto a vários ambientes e culturas empresariais globais.

No mais, desenganem-se, só no título do artigo sou coach. Fiquem, pois, descansados e podem retirar os parabéns. Não sou coach. Não tenho qualquer certificação. Apenas a preocupação com o que se anda a passar neste mercado onde, mal ou bem comparado, parece a mesma coisa que ter licença de porte de arma. Depois, bom, depois há os que sabem caçar e aqueles que apenas dão tiros para o ar.