Num comício em Conway, na Carolina do Sul, o antigo presidente Donald Trump, e presumível nomeado pelo partido Republicano para a eleição presidencial deste ano, disse, perante (mais) uma audiência dos seus fervorosos fãs, que “um dos presidentes de um dos grandes países levantou-se e disse-me, ‘senhor (e aqui, a parte do senhor (sir) faz-nos logo ter a certeza que esta é uma situação que nunca aconteceu, mas o resultado da imaginação demente do ex presidente), se não pagarmos [os 2% de investimento na defesa como pedido pela NATO], e formos atacados pela Rússia, você vai nos proteger?’. Eu disse que não, não só não vos vou proteger como vou incentivar os vossos adversários a fazerem aquilo que quiserem”.
Atenção, this is “not a drill”. Isto não é um “war game scenario” ou um “thought experiment”. É mais um aviso, talvez o mais contundente, de que Trump está pronto a abandonar a Europa no caso de necessidade desta, ignorando (como fez durante 187 minutos enquanto os seus seguidores atacavam o Capitólio), ou até ativamente oferecendo resistência, a qualquer ajuda no caso de sermos atacados militarmente pela Rússia. Isto não é nada de novo. Foi reportado que em 2020, no Fórum Económico Mundial em Davos, Trump disse à Presidente da Comissão Europeia, que ‘nunca viria em ajuda da Europa se esta fosse atacada’ e que a ‘NATO está morta’.
É verdade que foi aprovada uma lei no Senado Americano que impede um presidente americano de ordenar a saída, unilateral, dos Estados Unidos da NATO. Porém, ele é o comandante-supremo das forças armadas, que é lhe suposto obedecer. E Trump parece mais interessado em agradar a Putin do que a zelar pelos interesses da América e dos seus aliados. A completa subserviência e adulação do Republicano para com o Presidente da Rússia não é só incompreensível, como enjoativa, com os repetidos elogios da sua “inteligência” e “força”.
Isso tem-se observado também no que tem sido a posição de Trump, e agora cada vez mais a do Partido Republicano, na ajuda à Ucrânia. Trump diz que ‘conseguiria a paz’ em horas, seguramente porque diria a Zelensky que teria de dar território à Rússia, ou bem pior, ter de capitular totalmente perante Putin e as suas ambições expansionistas. Já na Casa dos Representantes e Senado, qualquer proposta de lei que seja apresentada com ajuda financeira a Ucrânia não só será rejeitada, como inclusive os republicanos ameaçam bloquear tudo o resto (incluindo a tão desejada por eles ‘defesa das fronteiras’), e se for caso disso, fechar o governo.
O que sobra então fazer. Principalmente para nós, Portugueses e Europeus?
Avançar com os planos de tornarmos a União Europeia numa força militar suficiente para não depender dos Estados Unidos, ou de conseguir confrontar uma ameaça a leste como é a Rússia. Apostar na produção de material militar não só para a União, como também para os nossos aliados que se encontram no que se denomina como “o estrangeiro próximo” na Rússia. E derrotar as forças radicais conservadoras, que não acreditam em democracia liberal e nas alianças que se constroem nessa base, como é o caso da NATO e da União Europeia.
E isto inclui também Portugal. Não apenas por causa das ligações militares, mas todo uma ligação social e cultural que existe entre os dois países e os dois povos. O governo português deve ser claro na condenação de tais palavras, ou intenções, e as ligações que existem entre as duas comunidades deve servir para alertar os nossos amigos americanos que caminham a passos largos para um abismo, levando consigo, para um fosso de niilismo e caos, a Europa e os Europeus.