As informações que correm sugerem que Trump não irá escolher Nikki Haley para ser sua candidata a vice-presidente, o próprio afirmou que não, há já algumas semanas. Todavia, isso seria perder uma enorme oportunidade política. Os dois poderiam bem unir as suas forças, porque juntos têm três ingredientes essenciais para uma vitória, e sim, mesmo com Trump declarado como culpado de mais de 30 crimes no caso Stormy Daniels, factor que, para seguidores e simpatizantes de circunstância pode ser facilmente reduzido a um mero detalhe (recordemos o episódio “grab them by the pussy”), mascarado com o discurso propagandístico da justiça viciada, que, mesmo que nenhuma prova ou estudo empírico aponte isso sequer como uma possibilidade, até o mais indeciso dos eleitores se conseguirá vender a esse argumento nas circunstâncias certas, ou a fazer-lhe vista grossa em detrimento do que considere poder estar em causa um bem maior. Adicionando que será pouco provável que Trump cumpra pena de prisão, na medida em que já tem 77 anos, não é reincidente criminal, o crime do qual foi considerado culpado não comporta mais do que 4 anos de pena máxima e está classificado como crime não-violento, com este conjunto de atenuantes é improvável ver Trump cumprir pena efectiva de prisão.
Primeiro ingrediente essencial para uma vitória de uma coligação Trump-Haley, a capacidade de angariação de fundos. Com Haley como candidata a vice-presidente, muitos dos republicanos moderados iriam provavelmente cair para o apoio a Trump ao invés de se absterem de financiar uma campanha de um executivo estritamente radical, aumentando assim os cofres do Comité Nacional Republicano. Haley preparou o terreno para isso durante as primárias, quando os principais doadores republicanos que apoiaram George W. Bush, John McCain e Mitt Romney a apoiaram metendo a mão às próprias carteiras. Uma sondagem recente da Universidade de Direito de Marquette, no Estado do Wisconsin, realizada há algumas semanas junto de eleitores registados, mostrava que Haley tinha boas chances de vencer Biden por 16 pontos num hipotético frente a frente e que Trump vencia o actual presidente por 2 pontos. Seria possível que, em jeito meramente especulativo, segundo os números acima, uma candidatura Trump-Haley pudesse ter uma vantagem entre 4 a 9 pontos em relação a Biden-Harris.
Em segundo lugar, a longevidade. Com Haley ao seu lado, Trump poderia dominar a política americana durante 20 longos anos. Se somarmos os seus primeiros quatro anos de mandato, os seus quatro anos fora do cargo – durante os quais foi mais visível do que a maioria dos presidentes anteriores – quatro anos adicionais na Casa Branca e oito anos de Haley como sua possível sucessora, caso o consiga, Trump terá, no final das contas, tido uma influência política difícil de igualar na América e no Partido Republicano.
Em terceiro lugar, quando e se Trump e Haley unirem forças, os seus eleitores unir-se-ão sob o mesmo chapéu de chuva, que é, neste momento, um grande chapéu de chuva. Confrontados com a possibilidade de uma anti-carismática e irrelevante Kamala Harris se tornar presidente durante um segundo mandato de Biden, até o comum republicano moderado mais intransigente correria para votar num executivo Trump-Haley. Haley é de ascendência indiana, é mulher e representa os republicanos moderados. Trump tem a multidão MAGA pronta para votar em si. Uma coligação Trump-Haley apresenta-se como uma solução muito poderosa para atrair apoiantes democratas tradicionais descontentes com as políticas mais à esquerda da administração Biden.
Uma coligação Trump-Haley representa uma vantagem significativa para ambos. Para Trump, uma vitória provável, um legado histórico recorde e uma oportunidade de terminar o seu trabalho e implementar a sua agenda política muito pessoal. Para Haley, o início de uma nova corrida presidencial com uma base de apoio demograficamente diversificada, um partido financeiramente sólido e, acima de tudo, politicamente unido.
Trump não é um líder comum, e nem toda a gente sabe como lidar com ele. Haley sabe. Aceitou o cargo de embaixadora nas Nações Unidas com a condição de ser elevada a uma função de gabinete, Trump aceitou, o que lhe deu acesso ao, à data, presidente, e uma visão da forma como ele governa e gere o executivo. Ambos aparentam ter gostado da sua rivalidade durante as primárias republicanas deste ano. É um facto que cada um deles atingiu um ponto de inflexão alto de depreciação mútua nas primárias, que são águas passadas e prática comum na política interna dos partidos americanos em clima de eleições internas, algo que vários exemplos do passado demonstram que não é impeditivo de hipotéticas alianças futuras. Haley compreende que, com Trump, pode conseguir-se qualquer tipo de negociação se a este lhe for garantido ficar com os louros.
A maior parte dos outros potenciais candidatos a vice-presidente não trabalharam para Trump na Casa Branca, nem se envolveram com ele na campanha. Também não angariaram dinheiro junto de facções do Partido Republicano com grandes apoios financeiros.
Uma administração Trump-Haley também poderia poupar Trump de ser visto como um presidente politicamente coxo e isolado num segundo mandato, pois, esta seria apoiada por um Partido Republicano com finanças revigoradas, moral reforçada e unidade restabelecida.
Há anos que os republicanos se perguntam se a multidão MAGA e os conservadores tradicionais podem coexistir. Sim, podem. O movimento MAGA não precisa de mudar, e os republicanos tradicionais também não. Simplesmente precisam de concordar que uma candidatura Trump-Haley derrotaria as forças de esquerda não só em 2024, mas possivelmente também em 2028. Essa perspetiva, por si só, pode valer algumas cedências e compromissos se ambos sentirem que, por detrás, existe algum tipo de executivo “moderável” e um bem maior em prol do país.
Se os apoiantes de ambos os movimentos no Partido Republicano mantiverem o foco estratégico e a atenção fixa no objectivo final, podem vir a alcançar em Novembro uma união política sem oposição equivalente do lado democrata e uma consequente vitória política histórica. E, por mais que Trump tenha deixado de parte uma coligação com Haley há algumas semanas, o recente veredicto do seu julgamento de Nova Iorque obriga a uma inflexão estratégica forçada na sua campanha, obrigando a um “refrescar de imagem” que recoloque o seu nome na mira dos republicanos moderados, e pouco seria mais refrescante, vantajoso e mobilizador que Nikki Haley no lugar de candidata a vice-presidente.