Escrever um artigo de opinião tem subjacente uma postura que comparo àquela de alguém que experimenta uma realidade objectiva, um pôr de sol magnífico por exemplo, e corre a ir ter com o seu melhor amigo para lhe dizer: vem vêr, vale  mesmo a pena! Em que se baseia e o que torna possível esta vontade de partilha?

Opinar, defendo aqui, é reconhecer articuladamente um ponto vista com exigências de universalidade. Um ponto de vista a exigir outros pontos de vista sobre o mesmo objecto, mas na admissão intersubjectiva de um horizonte de sentido, que me escapa mas a todos é presente.

Sabemos que Descartes fez valer os direitos da subjectividade, e por isso deu aso a uma filosofia moderna que se veio a esquecer dos direitos da objectividade. A sua grande descoberta trouxe consigo o risco de um grande esquecimento. Foi  preciso esperar séculos até ao surgimento de Edmund Husserl, que voltou a lembrar a vocação da filosofia a de ir às coisas mesmas.

As suas Investigações Lógicas (1900) são a demonstração de que o rigor  não é exclusivo da Física, mas que há diferentes tipos de rigor. O método é imposto pelo objecto; diferentes objectos exigem diferentes caminhos. As ciências humanas não deixam de ser rigorosas, só que têm um rigor que é distinto do da Matemática.

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O positivismo morre à nascença porque pretende impor a toda a realidade um método que só vale para a realidade extensa.  Diferentes objectos exigem diferentes formas de conhecimento.  Ultrapassar o positivismo pressupõe um entendimento da razão como uma vida ágil, elástica, polivalente. Como uma energia que só descansa no infinito.

A Fenomenologia tem feito esse caminho, valendo a pena reler Herbert Spiegelberg, que  a caracteriza como um movimento, distinguindo-se assim de qualquer pretensão sistemática. O seu Phenomenological movement caracteriza essa forma de filosofar nos seus expoentes francês, alemão e espanhol, como resposta à razão do idealismo que em Hegel matou o sujeito no seu valor existencial . Ortega y Gasset é a prova disso mesmo ao erigir como princípio absoluto do filosofar o “eu sou eu e a minha circunstância”.

E ainda não passou de moda, mas antes tem vindo a revelar-se até como possibilidade de um rejuvenescimento da Metafísica, veja-se um Xavier Zubiri, Joseph Ratzinger ou um Wojtyla.

Recentrando, pergunto então se publicar a minha opinião é afirmar uma coisa que vale só para mim?

Desde que me lembro de mim que me lembro que sempre quis saber o que as coisas são mesmo, e não apenas para mim.

Husserl ajuda-me neste ponto ao pretender uma filosofia como ciência rigorosa. Ao usar vezes sem fim a imagem da percepção do cubo, ajuda-me a distinguir entre subjectividade e subjectivismo. Reconhecer  que um objeto se dá sempre em distintos pontos de vista não significa que  não haja objectividade, a do cubo mesmo, que não se dá sem mim!

Também Maurice Blondel, a quem devemos uma crítica racional do modernismo imanentista, queria uma verdade que não fosse só para ele. Porque é que uma coisa há-de ser mais verdade para mim do que para os outros?, pergunta ele na sua L’ Action (1893).  O filósofo não se põe com meias medidas e diz que quer encontrar uma verdade que seja para todos.

A beleza deste pôr de sol é dada a cada um numa experiência única, é a mesma beleza dada (aletheia) (Heidegger),  não a um sujeito mas a múltiplos sujeitos. A beleza aqui entendida no seu valor ontológico, como brilho da verdade (S.Tomás de Aquino).

Essa experiência de uma realidade que se dá absolutamente a  cada um  investe o sujeito para uma partilha com o outro. O ímpeto e a vontade para partilhar com outro uma experiência _ Anda vem ver!_ é a certeza de que algo aconteceu, que vale para mim valendo para todos.

Um artigo de opinião sabe que há um horizonte, um mundo da vida (Lebenswelt) onde todos nos encontramos e podemos encontrar, cada vez mais e melhor…