Não será difícil perceber que a ida de António Guterres a Kazan, cidade Russa que acolheu a cimeira dos BRICS, foi de facto uma grande vitória para Putin, e resultou ao nível da diplomacia num grande embaraço para a ONU e não só.
De recordar que Brics é um agrupamento de países, inicialmente definido pelo economista britânico Jim O’Neill, no começo do século XXI, que designa um grupo de nações de considerável crescimento económico. Atualmente o Brics é formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul sendo que a 1 de janeiro de 2024, ao conjunto de países que fazem que fazem parte da fundação dos Brics, juntaram-se também Egipto, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irão como membros plenos.

Como português, a atitude do secretário-geral das Nações Unidas é totalmente reprovável, tanto mais que este recusou a sua participação da Cimeira pela Paz na Suíça, em junho, com Ucrânia à cabeça.
Não é de estranhar a deterioração da relação entre Zelensky e Guterres ao ponto de o líder da Ucrânia se recusar a recebê-lo.

A posição de destaque internacional que António Guterres ocupa não lhe permite curvar-se perante um assassino que tem um mandato emitido pelo Tribunal Penal Internacional ( TPI ) por “alegadamente ser responsável por crimes de guerra, de deportação ilegal de população (crianças) e transferência ilegal de população (crianças) de áreas ocupadas da Ucrânia para a Federação Russa.

Este facto seria por si só suficiente para que o secretário-geral da ONU, devesse recusar o convite de Putin. Assim, deu-lhe uma vitória diplomática,  causando “ aos olhos do mundo” total incompreensão pela aceitação deste convite. A mão que apertou calorosamente Putin ficará para sempre manchada de sangue derramado por vidas humanas alheias a tudo isto.

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Sabemos que a Rússia é um dos vários países que viola a Carta das Nações Unidas e todas as regras do Direito Internacional. Por essa razão também António Guterres deveria usar o seu poder institucional, pois é ele o rosto e a Carta das Nações Unidas.

Do ponto de vista internacional, Guterres vai a uma cimeira que não deveria ir.
E não deveria ir porque a presença de Putin já deveria dizer tudo ao secretário-geral das Nações Unidas.

O curvar-se perante um assassino fez história. O registo do momento correu mundo, e o mundo olhou para isto e ficou chocado a perguntar-se como é possível que o portador da Paz fosse um dia apertar a mão a Putin, curvando-se como pedindo desculpa por estar ali em representação de uma instituição que defende os mais basilares valores e princípios democráticos, humanos e sociais.

Repito: Putin tem sobre ele um mandato emitido pelo Tribunal Penal Internacional acusado da prática do mais odioso dos crimes e não um multa de trânsito por ter passado uma linha contínua ou sinal luminoso da cor do sangue.

Porém, quero acreditar que haverá um dia em que todos iremos assistir em Haia ao julgamento de Putin mas a história que é sempre imperdoável e factual, já julgou Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas.

Recordo o que se apurou na Comissão de inquérito da ONU que destaca crimes de tortura, violência sexual e ataques contra civis cometidos pelas forças russas na Ucrânia e as palavras de Vrinda Grover da Comissão Internacional de Inquérito Independente :”Deploramos o facto de as forças armadas russas continuarem a atacar instalações civis e médicas que beneficiam de um estatuto de proteção. A Comissão deplora igualmente o facto de continuar a verificar-se violência sexual relacionada com o conflito, em violação do direito humanitário internacional e dos direitos humanos.”