Em Junho comemora-se o orgulho. O orgulho, em todos os seus sabores & variantes, incluindo a ambição descontrolada, a arrogância, a jactancia, a soberba, a vacuidade e a vaidade, sempre foi, até recentemente, considerado uma miséria humana, uma lepra que nos pode cegar a todos, até ao nosso sr. presidente. Platão considerava que “o amor excessivo de si mesmo é, na realidade, a fonte de todos os males, para cada homem”. E explicava: “pois o amante [de si próprio] está cego em relação ao amado, de modo que julga erroneamente o que é justo, bom e honrado, e pensa que se deve sempre preferir a si mesmo do que à verdade.”1 E Confúcio já tinha dito que “um homem superior [de alma grande, com sabedoria] tem dignidade sem orgulho; um homem inferior [pequeno d’alma, tolo, mesquinho, sem sabedoria] tem orgulho sem dignidade.” 2 Será que estaria a pensar nalgum dos nossos srs. ministros em particular?

Mas não é apenas entre pagãos iluminados que o orgulho é considerado uma das piores coisas que pode acontecer a uma mulher. Também os cristãos, no seu obscurantismo, o classificam como pecado3 capital4. Os pecados capitais, será bom recordar, são sete como as cores do arco-íris: orgulho (que calha em Junho), ganância, inveja5, ira6, preguiça7, gula8 e luxúria9. O que levanta uma questão: porque é que apenas o orgulho é comemorado, e apenas a ele é atribuído um mês? Não será uma honra excessiva que lhe é feita? Se queremos comemorar o Vício10 não seria mais consistente, igualitário, inclusivo e justo que o comemoremos em todas as suas modalidades? Para todos aqueles, como este lexicógrafo, para quem a gula é o pecado favorito, o presente estado afigura-se como elitista, exclusivista, binário & discriminatório. Foi para isto que se fez o 25 de Abril?

Faz-se assim a sugestão de que Julho seja instituído como o mês em que celebramos a ganância, e cada um dos meses seguintes, até ao fim do ano, sejam reservados para a comemoração de cada um dos outros vícios.

E não será a ganância uma característica importante, para já não dizer definidora da nossa república, que merece ser celebrada? Qual dos últimos 13 escândalos que levaram a demissões no governo não envolvia a aquisição viciosa de dinheiro? Por outro lado, quando foi o último escândalo político nacional que envolvia sexo? Ou incompetência barra preguiça? Ou a gula que trespassa das barrigas e ancas de tantas & tantos das nossas srs. ministras? E todos aqueles casos & casinhos de ganância, não demonstram que em Portugal, tal como nas mais avançadas democracias africanas, não se usa o dinheiro para conquistar o poder, mas antes o poder é usado para ganhar dinheiro? O que nos diz isto sobre qual é o supremo fim das carreiras políticas no nosso país, poder ao serviço da causa pública ou henriquecimento11 privado à custa da causa pública? Parece, pois, anómalo que um vício como a ganância, que tão fundamental é para o regular funcionamento do nosso regime político-económico, o socialismo com caraterísticas portuguesas12, não seja comemorado com a dignidade & orgulho que merece.

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  1. Platão, Leis, Livro V.
  2. Confúcio, Analectos, 13, 26.
  3. Pecado: harakiri espiritual.
  4. Capital: Sede do desgoverno nacional: neste sentido, a planeada regionalização mais não será que um aspeto da tendência secular para a descapitalização em Portugal; aquilo que os portugueses não têm, o que só prova a sua falta de cabeça; pena —: punição antiga cuja justiça e eficácia é questionada por Sua Santidade e por todas as associações de malfeitores, sendo que a permanente descapitalização nacional e falta de cabeça do portugueses há muito que levou à sua impraticabilidade no nosso país; aquilo que financia o pcp, be e todos os movimentos anticapitalistas nacionais e estrangeiros; aquilo que é importante como em “para u ps se manter nu guverno é capital que os portugueses não tenham cabeça”—sendo o atual guverno mais uma evidencia da crónica descapitalização nacional; pecado —: pecado que faz perder a cabeça.
  5. Inveja: homenagem privada, que nem sempre é do conhecimento do homenageado; homenagem pública que quando é feita a empresários e trabalhadores, pelo seu engenho e laboriosidade, toma a forma de aumento da carga fiscal, e que quando é feita a não-ativistas e outros pacatos cidadãos radicalizados, em reconhecimento do seu não conformismo, toma a forma de prisão ou exílio.
  6. Ira: forma de autocontrolo que é usada para insultar os outros e dizer disparates sem perder fama de ser pessoa respeitadora e ponderada.
  7. Preguiça: atividade de tal modo intensa, absorvente e morosa que não deixa tempo para o trabalho.
  8. Gula: razão de ser para aqueles que são animados pelo (i.e., cuja alma é) apetite, espírito que só morre com o corpo; arte de engolir que pode ser praticada em cinco modalidades: laute, studiose, nimis, praepropere e ardenter (ST, I-II, q.72, a.9); devoção praticada pelos que fazem do abdómem a sua divindade (Filipenses, 3,19); superação valorosa da moderação que é recompensada com indigestão (gula sem indigestão é como coragem sem combate); vício masculino, como um comprova um estudo publicado pela Santa Sé sobre os pecados confessados sob sigilo no sacramento da reconciliação. As senhoras, essas, segundo o mesmo estudo, preferem o orgulho. Será verdade que até nos vícios as mulheres são diferentes dos homens?
  9. Luxúria: termo démodé; atualmente luxo é o casamento, a luxúria é como os transportes públicos, apenas mais acessível; aquilo que sucede numa conferência feminista, como “Women Deliver”, quando é “penetrada por pessoas que se casaram com opiniões anti-direitos”, nas poéticas palavras da Dra. Angela Akol, CEO da Ipas Africa Alliance, uma organização extremista anti-humana, referindo-se à surreal presença da Presidente da Hungria, Katalin Novák, no dito ajuntamento.
  10. Vício: comportamento que demonstra força de caracter; fortaleza de carater requerida para se ser preguiçoso em frente do chefe, guloso no conhecimento do BMI, invejoso sabendo o nível da carga fiscal, etc.; prática heroica que grangeia estima social & confere honra a quem a pratica.
  11. Henriquecimento: acumulação de bens, móveis & imóveis, provenientes de esbanjadores, dos jogadores na bolsa, dos que a perdem, dos sem sorte, dos contribuintes, dos imprevidentes, dos gulosos & dos praticantes de atividades afins; existe alguma controvérsia se esta acumulação dá título de propriedade, como defendem os membros da iliberal13, se é recebida apenas em depósito, como ensina Sua Santidade, ou se é para ser expropriada, como reclamam o be, o pc e o ps d’amanhã.
  12. Socialismo com características portuguesas: tipo de socialismo em que para se ser capitalista de sucesso é necessário ser socialista; sistema económico em que os militantes do ps criam empresas, e emprego para familiares, quando são convidados para o governo ou eleitos para autarquia.
  13. iliberal: agrupamento partidário, formado por dissidentes do be, que com este grupo antissocial partilha o orgulho na defesa de todo o tipo de vícios & políticas desumanas, incluindo a legalização do assassínio de crianças, velhinhos, sofredores & desvalidos, e com ele apenas divergindo sobre qual é o local apropriado para a prossecução da ganância pessoal, se no mercado concorrencial, se no controlo do aparelho estatal.