Nascer é um ato humano, maravilhoso, que requer arte, sabedoria, amor e muito tempo.
Porém o paradigma mudou e a medicalização é a tendência crescente gerando vários mitos. Entre eles o Mito das 38 semanas. Por isso, “o diagnóstico é uma das doenças mais frequentes que existe. Uma pessoa saudável foi mal examinada! Preocupe-se com ele que arranjará uma verdadeira preocupação”, escrevia Karl Krauss em Os inventores de doenças
As parteiras/os (“midwife” significa “com a mulher”) têm uma atuação muito mais abrangente, uma abordagem de cuidado integral, que mistura vários saberes e são figuras de referência nas suas comunidades,
Os enfermeiros não podem fazer o trabalho dos médicos, assim como os médicos não podem fazer o trabalho dos enfermeiros. Uma verdade de la Palice!
Por isso é de pasmar as declarações públicas do Bastonário da Ordem dos Médicos quando diz que a norma da DGS que delega competências nas Parteiras/os (confunde acintosamente com Enfermeiros de Cuidados Gerais), para a realização de partos eutócicos não pode ser aplicada porque “houve uma manipulação desonesta por parte da DGS que dando o dito por não dito e à “la carte” vai acolher as “recomendações” da OM sobre esta matéria” (Jornal da Noite do dia 27/06/2023 – SIC).
A DGS perdeu completamente o Norte e a autoridade que lhe está acometida!
Parteira é uma profissão, não tem, nem pode ter delegação de competências de nenhuma outra profissão.
A OM desautoriza, sem poder para tal, o Grupo de Trabalho multiprofissional e transdisciplinar, dirigido por Ayres Campos. Médico e Professor muito conceituado na área de Obstetrícia e Ginecologia, com cargos relevantes e provas dadas, quer a nível nacional, quer a nível internacional que afirmou: ”Portugal não tem falta de médicos, antes ocupa um lugar confortável a par com os países com quem somos habitualmente comparados” (JN Julho de 2022).
Haverá falta de médicos no SNS é o slogan repetido indefinidamente, transformando uma imprecisão numa verdade absoluta e sem o contraditório!
Sabemos que nos Hospitais Privados se realizam muitíssimos partos, o dobro dos que se realizam nos Hospitais Públicos. Assistimos a uma verdadeira indução da procura pelo prestador. Medo, muito medo…
O dom da ubiquidade é uma prerrogativa apenas dos deuses!
Estamos certos de que a demissão relâmpago do Prof. Ayres de Campos teve de facto a ver com obras. Estava pronto para dar o “pontapé de saída” para a construção da primeira “Casa de Parto” em Portugal, iniciativa bem estudada pela Academia, Parteiras, População e outros intervenientes. Com excelentes resultados a nível mundial.
É a prova irrefutável que a Ordem dos Médicos deveria conhecer e estudar outras realidades acrescida de uma taxa de natalidade quem tem vindo a diminuir sustentadamente:
E as Parteiras Senhor?
São elas que fazem os partos eutócicos que devem validar e não um qualquer interno para fazer curriculum e ainda têm de assistir a cesarianas para interno treinar.
Cria-se artificialmente uma necessidade e assistimos a uma distorção da economia e da regulamentação do trabalho. Aumenta a contratação de médicos e número de horas extraordinárias também aumenta. Talvez algum economista da Saúde consiga explicar este fenómeno!
A solução para médico é fechar urgências! Para quando o trabalho por turnos? A lei do Bom Samaritano vigente em Portugal, ultrapassa qualquer código Deontológico, mas é letra morta para os Médicos e alunos de Medicina.
Os Enfermeiros não fecham urgências… Desdobram-se para assegurar cuidados quase sempre em mínimos.
Deixem as Parteiras trabalhar!