Porque é que quem vive no concelho de Odemira não merece ter saúde? Porque é que quem vive no concelho de Odemira não pode ter bons acessos? Porque é que quem vive no concelho de Odemira é tratado como um cidadão de segunda? São questões simples que ecoam um pouco por toda a parte do maior concelho português.
Um habitante do concelho de Odemira vive entre duas perspetivas: a perspetiva de ter ao seu dispor excelentes praias, vistas e serras, restaurantes de excelência, empresas de elevada envergadura – entre as maiores do mundo – e uma grande diversidade cultural e por outro lado, a perspetiva de ter de lidar com a ausência de cuidados de saúde suficientes, entre outras lacunas cuja gravidade pode ser atestada pela grande maioria dos 30 mil habitantes deste concelho. Por exemplo, um habitante de S. Luís que precise de uma consulta ou de cuidados médicos, tem acesso a meia dúzia de profissionais de saúde, que lutam diariamente, apesar da tremenda falta de condições. Um habitante de S. Teotónio, a freguesia com mais população no concelho e que por diversas vezes já demonstrou o seu descontentamento, sabe que terá 50% de hipóteses de ter acesso a um médico de família, sabe que terá de acordar de madrugada para conseguir uma consulta, sabe que se a marcar com antecedência, poderá ter de esperar meses, sabe que terá filas e filas diariamente. Não faltam exemplos para as restantes 11 freguesias.
Analisando de forma alargada, é possível enumerar três lacunas ligadas à saúde que assolam todo o concelho: um número de funcionários cada vez mais reduzido, equipamentos escassos face ao número de habitantes e distâncias muito elevadas a hospitais.
Relativamente ao número de funcionários, é reconhecido pelo despacho nº 7654 – D/2020, emitido pelo Ministério de Estado e das Finanças e pelo Ministério da Saúde, que a Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano apresenta carências relativas a incentivos à mobilidade de médicos, não existindo acesso a 12 especialidades na mesma. Esta unidade, reconhecida como o Hospital de Santiago, naturalmente fora do perímetro do concelho de Odemira e a uma distância elevada da grande parte das freguesias do mesmo, é a melhor hipótese para muitos, mesmo com a evidente falta de recursos.
Em relação aos equipamentos, é necessário dizer o seguinte: não existe o mínimo. Os edifícios encontram-se muito degradados, os poucos aparelhos médicos existentes são antigos e desatualizados e muitos outros fazem falta e não se encontram disponíveis.
Acerca da distância a hospitais, mesmo que com lacunas na oferta médica, podemos encontrar dois na zona: o Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, e a Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano, em Santiago do Cacém. O primeiro encontra-se a 110 km e o segundo a 75 km. Juntando estes dados aos maus acessos rodoviários, obtém-se aquilo que é o dia-a-dia de um habitante de Odemira: mais vale ir a Lisboa.
É urgente encontrar soluções para esta zona do país. Neste sentido, urge recrutar profissionais de saúde, promovendo um estatuto fiscal favorável a quem decidir ali exercer a sua profissão ligada à saúde – alargando-o a outras profissões se necessário – mobilizando recursos financeiros que possibilitem adquirir mais aparelhos médicos, obras nos postos de saúde e meios físicos que permitam fazer chegar os cuidados médicos necessários a toda a população, incluindo aquela que vive isolada em zonas distantes e de difícil acesso. É preciso dizer que os poucos profissionais de saúde que existem no concelho, muitas vezes têm de se deslocar através dos seus próprios meios até habitações bastante isoladas, em zonas nas quais os seus veículos chegam com elevada dificuldade. Relativamente ao acesso a hospitais, é necessário melhorar os pavimentos rodoviários e ampliar a rede de transportes, alcançando sempre aqueles que não têm condições.
Se estas soluções trariam grandes benefícios à população do concelho de Odemira, existe uma outra que poderia resolver não só o problema como atenuá-lo nos concelhos vizinhos. Refiro-me ao que seria o novo Hospital do Concelho de Odemira – um hospital de segunda linha, que garantiria acesso a diversas especialidades essenciais, como medicina interna, cardiologia, ortopedia, pediatria, entre outras, sempre coordenado com os hospitais de Santiago e de Beja. Desta forma, não só se resolveriam problemas mais simples de saúde pública, como se encaminhariam nas melhores condições os doentes graves. Este seria um projeto que responderia às necessidades da população local, cujo número se encontra em constante crescimento, associado a um número de visitantes nacionais e estrangeiros cada vez maior. Entre as diversas freguesias de Odemira, seriam várias as hipóteses para a localização deste hospital. Para mim e para muitos, faria sentido que se localizasse na Boavista dos Pinheiros, freguesia central no concelho e que serviria num raio de 40 km, todas as freguesias do mesmo. Tal localização possibilitaria igualmente servir Aljezur e complementar o Hospital de Lagos, zonas cuja carência médica também é elevada. Perante o elevado número de empresas a surgir e consequente afluência de novos habitantes e face às lacunas evidenciadas, este seria um projeto de elevado interesse.
Há 25 anos, o número de médicos no Concelho de Odemira era superior ao atual. As condições eram melhores, tudo era coordenado de uma forma mais eficiente, mais população obtinha mais e melhores cuidados. Se há 25 anos o que havia não era suficiente, hoje em dia, o povo odemirense lembra com saudade esses tempos áureos nos quais o pouco, atualmente seria muito. Num tempo em que nos domina uma doença, não devem ser as pontes ou os aeroportos as nossas prioridades. A saúde deve ser a prioridade, especialmente num concelho que tanto tem crescido e que com toda a certeza, contribuirá cada vez mais para o sucesso do país. É preciso cumprir promessas, é preciso cumprir os planos, é urgente cumprir Portugal.