A forma como entrámos no ano de 2021 já nos demonstrou que este será um ano decisivo na adaptação ao designado “novo normal”, adaptação essa que nos conduzirá por um caminho capaz de nos garantir anos de excelência ou, em sentido contrário, a uma crise socioeconómica de proporções significativas.

Se até aqui estava já identificada a necessidade de um investimento concertado e avultado para a transição digital, esta situação pandémica veio acelerar a urgência de esses planos serem transpostos quanto antes para a realidade palpável das instituições e empresas, tornando evidente a necessidade da aceleração na digitalização de processos e a consequente alteração dos comportamentos pessoais e profissionais dos modelos de liderança e de colaboração global.

Como CEO de uma empresa que, sendo portuguesa, opera em geografias como os Emirados ou a China, a minha visão do caminho a seguir é integradora e inclui medidas de sucesso comprovado, já aplicadas e testadas em outras geografias. A base, essa, é a prevenção, um factor indispensável para evitar o recorrente corrigir dos desvios. “Mais vale prevenir que remediar” é o ditado aplicável, até porque o “remediar” terá certamente um impacto económico e social muito mais negativo do que os investimentos e sacrifícios pessoais associados a uma prevenção eficaz.

É verdade que a nossa cultura, como Portugueses, nos leva a associar os afectos à proximidade física e ao contacto. Mas nessa balança entre o racional e o emocional extremamente complexa é imprescindível entender que as relações mudaram. Em família, partilhámos este ano a nossa tradicional ceia de Natal com todos os preceitos de forma digital, tendo sido a interacção muito mais intensa do que no ano de 2019, quando para estar à mesma mesa do que os meus pais viajei mais de 20 horas de 23 para 24 de Dezembro. Ao nível da nossa empresa, é verdade que neste Natal digital não dançámos juntos. Mas cantámos e todos ouvimos as piadas e partilhas, sem a limitação, antes habitual, das mesas separadas e da divisão em mais pequenos grupos.

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Temos, assim, que encarar pela positiva a situação vivida e de investir numa sólida e rápida adaptação ao “novo normal”. E, acima de tudo, agir em conformidade, enfrentando um conjunto de desafios que darão solidez à desejada e necessária retoma, de uma forma sustentada, tal como sucedeu na China e nos EAU onde vivo e trabalho nesse “novo normal” desde há meses. Para tal, eis as medidas que considero desejáveis adoptarmos em Portugal:

Assumir o compromisso de tomar medidas efetivas que nos permitam a retoma económica e social. Nessas medidas deve ser priorizada a prevenção, factor crítico para que possamos chegar ao ponto de recuperação menos débeis e capazes de fazer parte dessa mesma retoma.

Identificar a prevenção como um factor chave, dando tempo para não comprometer os avanços científicos e o esforço incomensurável de grande parte da humanidade. Muitas vezes somos levados a pensar em soluções únicas e absolutas para o enorme problema que todos estamos a atravessar. E para combater este grande mal que é a Covid-19, o grande remédio resultará de um conjunto de medidas que só reunidas no seu todo trarão a solução. Estamos a contar com uma evolução científica nunca antes vista, como se comprovou pela velocidade com que foram desenvolvidas, testadas e colocadas no mercado as vacinas, um feito absolutamente extraordinário. A quantidade de informação recolhida, partilhada e analisada a nível global é incomensuravelmente maior do que alguma vez foi. Não podemos comprometer a disponibilidade demonstrada por muitos ao contribuírem para estes avanços.

Garantir o cumprimento dos vários estágios de aplicação das medidas, assumindo uma mensagem clara: a de que as vacinas e a imunidade de grupo serão um dos estágios da recuperação, mas não deverão fazer levantar as medidas de proteção e de prevenção.

Sermos rápidos na adaptação e mantermo-nos activos, de forma a dar continuidade a essa acção na retoma. O comboio não pode parar, pois o custo de voltar a colocá-lo em andamento exigiria mais anos e mais esforço do que aquele que nos está a ser pedido para nos mantermos em andamento com restrições.

A importância dos actos no reforço das palavras e das mensagens. Num momento em que a todos é exigido mais empenho e tanto sacrifício está ser pedido a cada um, são cruciais os exemplo do Amigo, do Empresário, do Governante, da Liderança, do Familiar, que trarão o indispensável reforço do acreditar que não estamos sós numa luta que é de todos.

Acreditar e não exacerbar o tópico da protecção da privacidade. Temos uma bem estruturada e forte regulamentação na protecção de dados que é fundamental para o garante da privacidade individual e social. É importante, contudo, ter presente que a partilha é fundamental para nos protegermos e que não estamos em momento de acrescentar camadas e níveis de desconfiança que sejam inibidores de medidas. Que se cumpra em pleno respeito o que está estabelecido e que se construa em equilíbrio.

Em conjunto, estes desafios irão requerer muita adaptação, é certo. Mas não têm de ser penosos e, para tal, muito dependerá da forma como nos disponibilizarmos para navegar neste mundo novo. Temos do nosso passado um exemplo aspiracional de como somos exímios na adaptação e navegação por mares nunca antes navegados. Unidos, com respeito, com acções concretas, firmes nas decisões e na sua concretização, estou crente de que saberemos chegar novamente a bom porto.