Por muito estranho que possa parecer, boa parte da direita nunca acreditou no programa de assistência financeira que o país pediu em 2011. Boa parte da direita não acreditou, não acredita ainda e, possivelmente, jamais vai acreditar que uma dívida pública como a portuguesa condiciona as opções políticas. Por muito que nos custe aceitar, boa parte da direita nunca deixou de ser socialista.

Só dessa forma consigo perceber que PSD e CDS tenham negociado com o PCP e o BE a devolução do tempo de serviço dos professores. E a questão aqui não é haver ou não dinheiro para pagar essa devolução. O dinheiro é sempre possível arranjar caso se cortem nos serviços sociais e se aumentem os impostos. O ponto fundamental é que a exigência da Fenprof não é justa. Não é justo que se progrida na carreira apenas porque o tempo avança, algo que nem sucede com a maioria das profissões que a maioria dos Portugueses exerce. Não é justo que alguém se possa arrogar do direito a ser promovido e ganhar mais com base, única e simplesmente, no tempo de serviço.

É isto que se espera que um partido de direita diga. E o choque que o eleitorado não socialista teve perante a fotografia dos deputados do PSD e do CDS a negociarem com o PCP e o BE explica-se porque PSD e CDS ainda não tiveram a coragem de dizer o óbvio: primeiro, que as exigências da Fenprof não são justas. Segundo, que o tema à volta dos professores só existe porque BE e PCP batalham pelo mesmo eleitorado. Era só isto que queríamos ouvir. Era só isto que precisávamos ouvir.

Após estes dias terríveis para a direita, que ditaram o fim da carreira política de Assunção Cristas (e comprovaram que a de Rui Rio já não existia) há que pensar como sair dos escombros. Em causa não está apenas a necessidade da alternância democrática, impossível com um partido socialista dominador e pequenos partidos, à esquerda ou à direita, seus satélites. É o país, são as pessoas que precisam urgentemente que se ponha termo às políticas sociais-comunistas dos últimos quatro anos.

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Em primeiro lugar, a direita portuguesa precisa de se unir para que não lhe suceda o mesmo que à espanhola. PSD, CDS, Aliança e Iniciativa Liberal devem trabalhar para um projecto comum, mobilizador e reformador do Estado. Para tudo é preciso liderança e o deputado do PSD, Miguel Morgado, é a escolha natural neste processo. A união da direita necessita ainda de apresentar um candidato presidencial contra Marcelo Rebelo de Sousa, com vista a empurrá-lo para a esquerda, que é o seu lugar. Já o disse aqui e volto a repetir que o candidato presidencial mais natural da direita é Adolfo Mesquita Nunes (que deve estar satisfeito por se ter afastado da vice-presidência do CDS, e que não me engano por muito se disser que será levado em ombros no próximo congresso do partido). Uma direita unida e liberta da sombra de Marcelo é condição sine qua non para que apresente um projecto político desobrigado dos complexos socializantes que marcam PSD e o CDS desde 1974 (com excepção do período de Sá Carneiro).

Por fim, uma última nota: nunca se negoceia com comunistas e neocomunistas, salvo se estes quiserem corrigir os efeitos negativos das suas políticas. Tal como nunca se negoceia com a extrema-direita. Não se fazem concessões à liberdade e não nos devemos esquecer que repor o tempo de serviço dos professores pressupõe um encargo nos demais cidadãos que sofreram com a crise e não têm progressões automáticas nas suas carreiras. Porque é acreditando no valor da liberdade que a direita passa a ter valor. Até lá, PSD e CDS não terão o meu voto.

Advogado