Estive na Hungria num retiro para empresários cristãos.

É um tempo de reflexão e de aprofundamento das nossas convicções – e que poucas vezes temos oportunidade para o fazer.

O tema do retiro era “Caminharmos juntos na Europa para promover a justiça e a paz”. Não é necessário ser nem empresário, nem cristão, para compreender que precisamos muito de pensar profundamente no futuro deste projeto europeu, que começou no pós-guerra, motivado pela convicção de que só unidos poderemos construir a justiça e a paz, dois elementos essenciais à vida humana.

Foi com base num sentimento de unidade de todos os europeus, numa amizade que facilmente se criava naquele tempo de fim de um sofrimento absurdo e dolorosíssimo, que se estabeleceu um caminho para a construção, primeiro de um mercado único, e mais tarde da União Europeia.

Mas, entretanto, foram passando os anos e o sentimento de unidade, de preocupação com os nossos concidadãos, a colocação do bem comum à frente do interesse egoísta, foi esmorecendo.

O conforto extraordinário que conseguimos gerar e a qualidade de vida criada através desta solução de unidade que os líderes europeus do pós-guerra tão maravilhosamente foram capazes de negociar – um projeto comum sob o lema de que o interesse da Europa teria que se sobrepor sempre aos interesses individuais de cada Estado – são hoje exatamente os fatores de desmotivação dos cidadãos europeus de lutarem para manter essa sociedade de paz e justiça, que durante décadas nos manteve uma qualidade de vida sem par em nenhum outro tempo da História da Humanidade.

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A Europa da segurança, da paz, dos cuidados sociais, da educação para todos, que todo o resto do mundo ambiciona, seja através da obtenção da cidadania, seja pelos fluxos de migrações que procuram cá chegar (legal e ilegalmente), só foi possível pela fortíssima relação de amizade, solidariedade e confiança que deixou os países entregar uma parte importante das decisões sobre o seu futuro a terceiros.

Foi sobre este tema tão atual e importante que empresários de nove nacionalidades diferentes se debruçaram num retiro espiritual e em que através de um processo sinodal de decisão, conforme o proposto pelo Papa Francisco, concluíram, entre outras coisas que:

Todos e cada um de nós necessita recuperar o caminho da Europa retornando aos valores, escutando todas as diferentes perspetivas, e reconhecendo que o campo económico é um fortíssimo meio para o conseguir, garantindo a máxima participação de todos na criação da riqueza e na sua distribuição.

Temos ainda de procurar, depois da destruição do muro de Berlim, que de alguma forma servia de exemplo da divisão da Europa, que outros muros deixámos edificar e que temos de destruir para que a unidade da Europa volte a ser um projeto único de todos os europeus.

Um projeto que volte a trazer confiança às populações, esperança aos que mais estão aflitos, dignidade de vida aos que são mais fracos e mais pobres, respeito por quem está ao nosso lado, apoio aos que estão sós.

Um projeto europeu que nos leve a acreditar que vale a pena trabalharmos juntos, nas empresas, nas cidades, nas associações sociais, nos hospitais, nas escolas e nos tribunais, para que todos possam ter uma vida justa e cheia de paz, uma vida sem armas e sem prepotência, sempre focada na premissa de que colocamos o bem da Europa à frente do interesse de cada país e o bem de todos acima do interesse individual.

Mas para que isto resulte, teremos de saber entusiasmar todos para que estejam disponíveis para lutar de novo por esta Europa, que decidiu mudar toda a sua organização política para garantir a paz.